sexta-feira, janeiro 12, 2007

Mistérios do Convento de São Miguel



A primeira vez que visitei o Convento de São Miguel, das Gaeiras (entre as Caldas e Óbidos), aconteceu por um mero acaso.
Andava a passear de bicicleta com o meu irmão quando deparámos com a fachada do Convento, com um ar bastante convidativo. Resolvemos deixar as bicicletas, fechadas a cadeado, meio escondidas entre a vegetação, próximo da estrada de alcatrão.
O próximo passo foi arranjar uma maneira engenhosa de entrar lá dentro. Lembro-me que tivemos de fazer alguma ginástica e entrar por uma pequena fresta, já que todas as janelas e portas estavam fechadas com tijolos e cimento.
Depois fomos entrando, pelo antigo Convento...
Começámos por visitar as celas, antes de descermos até à capela, onde apesar de já estar vandalizada, ainda conservava alguma beleza e metia respeito, pelo menos a quem tinha tido uma educação católica, como nós.
Tudo aquilo era novidade, desde as estatuetas de barro de frades, quase em tamanho natural (devia ser por isso que ainda lá estavam...), à espécie de Assembleia da Ordem Religiosa, com cadeiras de madeira. Havia também uma entrada com umas escadas que davam para uma espécie de cave, onde descobrimos uma ossada humana, que nos fez subir quase de imediato.
Depois desta descoberta, voltámos pelo mesmo caminho, até ao local onde tinhamos entrado. Recordo-me que a saída foi mais complicada que a entrada...
Quando nos deslocámos na direcção das nossas bicicletas, só descobrimos o sitio. Olhámos um para o outro com cara de mistério... rondámos a zona e nada. Lá tivemos de vir para casa a pé...
No dia seguinte o meu irmão lembrou-se de passar pela esquadra da polícia e, para sorte nossa, lá estavam as nossas bicicletas.
Houve alguém que ao passar pela estrada, numa camioneta de caixa aberta, olhou para os campos e ao ver as bicicletas escondidas pensou que eram roubadas e recolheu-as, entregando-as na esquadra da PSP das Caldas.
Foi assim que o mistério ficou esclarecido, com ou sem uma mãozinha do São Miguel...
Mais tarde, quando falávamos á mesa dos nos acontecera, o pai contou-nos uma outra história, passada no mesmo Convento, para surpresa de todos.
Ele quando andava a caçar também sentiu curiosidade em espreitar aquele edifício religioso abandonado e foi entrando (provavelmente pelo mesmo sitio onde nós entraramos)...
Algum tempo depois começou a ouvir uma espécie de música sacra, no interior do Convento. Olhou para todos os lados, completamente arrepiado, sem saber de onde vinha o som...
A música acabou por fazer com que saisse um pouco mais rápido do que tinha planeado. Já cá fora, pegou na arma de caça, que por respeito deixara escondida e que felizmente não teve o mesmo destino das nossas bicicletas, sem saber no que pensar...
Estes acontecimentos reforçam o ditado espanhol que nos faz dizer: «não acredito em bruxas, mas que as há, há...»
Alguns anos mais tarde o Convento abandonado foi adquirido pela Associação de Municípios do Oeste, que o recuperou e restaurou, deixando-o bastante bonito.

17 comentários:

Ida disse...

Tens umas memórias deliciosas, Luís! Lembrou-me o muro caiado da tua infância e deixou-me com uma enorme vontade de fazer parte da aventura. Em pequena, eu andava sempre às voltas com explicações para empreitadas desse calibre, mas não havia nenhum convento abandonado no meu caminho. :( O máximo que consegui foi invadir a Torre de Quintela que, hj, virou patrimônio nacional... Adorei o relato e o adendo da aventura do teu pai. Se fosses do Norte saberias que não é só um dizer espanhol, mas a pura verdade!!!:p beijos.

Anónimo disse...

Nunca entrei no convento de s. miguel porque foi um edifício que sempre me "arrepiou" um bocadinho.

Será que ouvia música e não a identificava?

Obrigada por mais esta memória, Luís...

Bom fim de semana

Rosa dos Ventos disse...

Hei-de lá ir!
Será que a tal música ainda se ouvirá a desoras?

Ida disse...

EU também quero!!! Também quero ir, Rosa! Já imaginaram se ouvimos a música??? Eu não fujo!

Ana M. disse...

Aí está uma bela experiência para contar aos filhos.
Há coisas dificilmente explicáveis.
Será que "las hay"?

Flôr disse...

Sabes Luís, gosto muito de ler as tuas histórias. Sabes contá-las muito bem e sinto-me bem aqui no teu cantinho....

Luis Eme disse...

Felizmente na minha (provavelmente nossa) infância, Ida, havia mais espaço para corrermos e saltarmos, e também para nos aventurarmos em desafios, que hoje, são de todo impossíveis.
Há uma cultura do medo e de super-protecção, divulgada pelos média, que nos deixa quase aprisionados, nos apartamentos onde vivemos.

Luis Eme disse...

Sabes que estes mistérios são sempre um pouco indecifráveis, Maria....

Luis Eme disse...

Rosa dos Ventos e Ida,
visitem o Convento... nunca se sabe se não estará por lá uma música suave, á vossa espera...

Luis Eme disse...

Podes crer Sininho...

Luis Eme disse...

Também gosto bastante de te ver por cá... Ana.

Cristina Caetano disse...

Nossa..quantos detalhes! Acho que posso dizer: tal pai, tais filhos, e por isso não ouve bronca ;P. E que bons tempos, onde coisas que pareciam perdidas eram entregues na esquadra de polícia. Isso me faz pensar que devido à nossa idade, hoje, podemos dizer que tivemos uma infância feliz, onde as descobertas - tanto de lugares quanto de acontecimentos - eram possíveis. Um tempo no qual víamos as galinhas ao vivo e a cores, além das que existem nos frigoríficos de hipermercados. Sem saudosismos, Luís...acho que fomos messsssmo felizes! :)

bjo

Isabel Victor disse...

"não acredito em bruxas, mas que as há, há...»


Adoro estas estórias ...

A minha avó contava-nos com todo o detalhe e convicção a da famosa costureirinha ... conheces ? O que terá acontecido a essa fada do lar ?

Abraço bloguista

Luis Eme disse...

Tens razão Cris, fomos felizes de uma forma que os nossos filhos nunca serão... porque tudo aquilo que era real na nossa infãncia e adolescência, está a tornar-se demasiado virtual...

Luis Eme disse...

Claro que conheço Isabel.

Achei curioso, ao ler "As Pequenas Memórias" do Saramago, encontrar por lá a costureirinha...

Provavelmente ainda aparece por aí...

Ida disse...

Gostava de andar a me perder nos corredores desse convento (muito bem) assombrado. Mas até para se perder, em boa hora, há que ter sorte. E sorte é um conceito subjetivo. Adorei ter o teu recado lá no Sul... I'll be back. Beijinhos... Amanhã é São Sebastião, padroeiro deste Rio de Janeiro.

Luis Eme disse...

Olá Ida...
Feliz São Sebastião no teu Rio...