segunda-feira, dezembro 31, 2007

A Passagem de Ano

O Natal sempre foi mais importante que a Passagem de Ano, na minha familia. Ainda hoje é assim.
Como era normal na época, só na adolescência é que comecei a comemorar a passagem de ano fora de casa. Lembro-me de algumas festas de garagem com amigos próximos, em que as miúdas tinham recolher obrigatório, logo após as doze badaladas, de alguns bailes no hotel Lisbonense, nos Pimpões, na Columbófila e também no ginásio da Escola Rafael Bordalo Pinheiro. E claro, de algumas visitas a discotecas caldenses, como o histórico "Ferro Velho", o "Inferno d'Azenha" ou a "Greenhill", na Foz do Arelho.
Como praticava desporto, não usava e abusava do álcool, muito menos de outros "desinibidores" mais perigosos...
Talvez seja por isso que não me recordo de nenhuma passagem de ano com um gosto ou história especial.
Isso não quer dizer que entenda a Passagem de Ano, como mais um dia que vem aí, a seguir ao outro. Mesmo sem ter o hábito de me colocar em cima de cadeiras ou bancos a abanar notas ou bater tampas de panelas à janela, acredito que o amanhã pode ser melhor que hoje...
É por isso que há sempre desejos que ficam no ar, quando ecoam as doze badaladas...
Este ano não vai ser diferente, de certeza que vou desejar um ano melhor para mim e para os meus familiares e amigos.
Com a antecipação de algumas horas deixo-vos aqui, nas "Viagens", o desejo de que 2008 seja um excelente ano para todos vós.
Apesar das "nuvens" que nos rodeiam, é sempre bom acreditarmos que o amanhã pode ser melhor que hoje...

Ofereço-vos também "O Baile do Moulin de la Galette" de Renoir...

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Os Pavilhões do Parque

Os velhos Pavilhões do Parque já foram tanta coisa e hoje são quase nada...
Num tempo em que nem sequer se falava de bibliotecas municipais, era a Fundação Calouste Gulbenkian que patrocinava a leitura em todo o país, nas principais cidades com bibliotecas normalizadas e nos meios mais pequenos com as suas carrinhas-bibliotecas, que eram a alegria de tanta rapaziada, nas aldeias e vilas deste país...
Li muitos livros desta biblioteca, que ficava no piso inferior dos pavilhões...
Mais tarde frequentei o Liceu (mais tarde Escola Secundária Raul Proença) nos mesmos pavilhões...
Bons tempos...
Não sei qual será o seu futuro, nem tão pouco, se têm futuro.
Mas são enormes e têm um passado riquissimo, ao serviço da Cidade das Termas...

sexta-feira, dezembro 21, 2007

A Vila Natal de Óbidos

Já devia ter escrito há mais tempo sobre a Vila Natal de Óbidos, mas o tempo foi passando e...
Estive por lá no passado sábado e embora reconheça que a Vila Natal está bonita e é uma grande ideia para Óbidos e que deve deixar toda a gente feliz, especialmente os comerciantes locais... há por ali ambição a mais para um espaço tão pequeno (interior da Cerca do Castelo e da própria vila), sem capacidade para acolher tanta gente.
Como eu não pertenço ao número (pelos vistos grande...) de pessoas que gostam de estar rodeados de milhares de pessoas, quase sem se conseguirem mexer, não me senti muito confortável naquele lugar, apesar da sua inegável beleza...
Já tinha sentido aqueles "apertos" no Festival do Chocolate, pelo que sabia ao que ia...
Talvez Telmo Faria e a sua engenhosa equipa de trabalho merecessem uma cidade maior e mais espaçosa.
Pior deve ter sido no domingo, pois quando regressava à Capital, a fila de carros na A 8, era bem visível, ainda antes da saída da auto-estrada, o que não acontecera no sábado...
Claro que com tanta confusão, é impossível fruir de todas as ofertas que fazem parte do bilhete, ou seja, em bom português, pagamos e ficamos mal servidos...

quinta-feira, dezembro 13, 2007

O Natal Neste Nosso País...

Pode soar estranho, mas cada vez gosto menos deste Natal, que nos impingem de todas as maneiras e feitios.
Irrita-me que sejamos reféns desta obrigação de comprar presentes, esquecendo a canção (que infelizmente não passa mesmo de uma canção, de que o Natal é todos os dias ou que o Natal é quando um homem quiser.
Irrita-me que de repente apareça muito mais gente a sorrir e se prepare para ajudar os pobrezinhos, nas vésperas da data festiva, apenas porque é Natal e fica bem (nem que seja só para a televisão...), embora não esqueçam os desinfectantes e os cremes, porque o "povo" sem abrigo fede.

A única coisa que sobra nesta quadra são as crianças, que ainda mantêm uma capacidade, quase ilimitada de sonhar, e é para elas que o Natal continua a fazer sentido...
Imagino o quanto importante é para um menino pobre, cujos pais (e deve haver tantos por este país fora, inundado pelo desemprego...) não têm possibilidade de lhe oferecer um presente, que seja um brinquedo, e não a peça de roupa tão necessária, receber algo que lhe ofereça grandes momentos de diversão, ao contrário dos nossos filhos, cuja magia de Natal dura pouco mais que os minutos que demora o abrir as prendas e o olhar para elas (algumas das quais, nem sequer chegam a brincar uma única vez...).
É por isso que neste Natal, a maior prenda que gostava de receber, embora saiba que é um daqueles presentes impossíveis, iguais aos que enchem a imaginação dos meninos pobres, era descobrir que o nosso país estava a fazer uma inversão política e a tornar-se, de novo mais justo e mais igualitário.
Digo isto sem qualquer hipocrisia e sem fazer parte deste ou doutro espírito natalício. Este presente faz parte sim do espírito humano, em que todas as pessoas deveriam ter os mesmos direitos e as mesmas oportunidades.
O mais grave disto tudo é saber que nunca surgiu nada de bom nos países onde o fosso entre ricos e pobres, vai aumentando, dia para dia, como é o caso deste nosso Portugal, cada vez mais capitalista... e onde se ignora o reflexo das sociedades excessivamente liberais e materialistas: o aumento da revolta, da violência, do desamor, da miséria, do vício, da corrupção, etc.

É uma pena descobrir que neste país, é cada vez menos Natal, apesar das ruas estarem mais iluminadas, fazerem-se mais festas e distribuírem-se mais presentes...

terça-feira, dezembro 11, 2007

Caldas: Que Cidade Cultural? (2)

No texto anterior tinha-me ficado pelo Rafael, considerando-o mesmo a maior referência cultural da cidade, apesar de não ser natural da cidade nem ter tido uma passagem muito longa pelas Caldas.
Isso deve-se ao facto de ter tido uma passagem revolucionária pela indústria cerâmica caldense, que ainda hoje se revê, orgulhosamente, na arte deste grande cidadão do mundo.
Claro que a secundarização dos outros grandes vultos da arte caldense (Malhoa, Duarte e Fragoso), também está em parte ligada ao ditado de que santos da terra não fazem milagres.
Na actualidade não noto que exista algum acompanhamento privilegiado a artistas como Gomo, João Paulo Feliciano ou Mário Feliciano, apesar de serem reconhecidos nas suas áreas, mesmo a nível internacional.
Claro que isto não é típico das Caldas, passa-se um pouco por todo o lado e faz parte dos "catrapázios" da sabedoria popular. Pelo que, paciência...
O que é penoso é não se notar a existência de qualquer política local no aproveitamento das condições naturais e materiais que existem actualmente na cidade.
Todos sabemos que é tão importante (ou mais) educar e sensibilizar a população (especialmente a estudantil...) para o mundo das artes e letras como construir museus. E neste último campo o que existe é de uma riqueza extraordinária (quantas cidades não gostariam de ter os espaços museológicos da cidade...).
Pergunto: estes lugares cumprem os seus objectivos? As escolas do concelho, de todos os níveis de ensino, levam os alunos aos museus, mesmo que de uma forma lúdica?
Não tenho certezas, mas acredito que não se faça esse aproveitamento, porque as Caldas é tradicionalmente elitista...
O mais estranho é que, apesar de ter gasto algumas palavras sobre esta temática, continuo com dificuldade em classificar a cultura na minha cidade natal...
Pelo que o melhor é mesmo encerrar esta questão...

sábado, dezembro 08, 2007

Caldas: Que Cidade Cultural? (I)

Perguntaram-me que espécie de cidade, eram as Caldas da Rainha, em termos culturais.
A primeira frase que me ocorreu foi: «não sei.»
Era uma pergunta das difíceis, porque a cidade continua a não ser muito fácil de caracterizar, apesar de possuir excelentes casas de artes.
O pior da cidade é continuar muito fechada e conservadora e isso tem sempre o seu preço.
Desculpei-me que não era a melhor pessoa para falar da cultura caldense, porque estava fisicamente afastado há pelo menos duas décadas, e só sabia do que se passava, pela imprensa regional.
Mas lá fui falando, descobrindo aqui e ali, pontos positivos e negativos.
O aspecto mais negativo (para mim, claro) foi o fecho do histórico Casino do Parque, mais tarde Casa de Cultura, onde se faziam coisas muito importantes e onde estava sediado o Teatro da Rainha (que felizmente voltou...). Esta história nunca foi bem contada, mas havia uma grande “dor de cotovelo” dos sociais democratas instalados no poder (ainda lá estão, os malandros...), perante a sensibilidade e capacidade de trabalho cultural dos “esquerdistas”, “comunas”, “drogados”, “vagabundos”, etc. A forma de destruir aquele trabalho, demasiado visível, foi inventar umas obras, piores que as da Santa Engrácia... como todos os caldenses sabem...
O aspecto mais positivo que referi foi a instalação da ESAD (Escola Superior de Arte e Desenho), que mudou bastante as coisas, pelo menos no campo das artes plásticas. Trouxe gente nova que conseguiu baralhar as cabeças “velhas” da gente instalada no poder, que tiveram de aceitar uma série de “modernices” a abrir algumas galerias de arte, aqui e ali.
Quando se falou de pessoas lembrei-me de Bordalo Pinheiro, de José Malhoa, dos escultores António Duarte e João Fragoso, e senti que Bordalo continua a ser a presença artística mais viva, apesar de ser o único que não nasceu na cidade e que até teve uma passagem mais curta e há mais tempo na cidade termal...
E nem estava a pensar na “louça malandra”...

Este desenho de Bordalo com dedicatória a todos os caldenses, assenta que nem uma luva neste texto...
(continua...)

segunda-feira, dezembro 03, 2007

O Homem do Apito

Por hoje ser um dia especial, vou falar de um arrumador de carros, sempre munido de boné de pala e de apito, que costumava trabalhar no largo do Hospital Termal, nas Caldas da Rainha.
Estava longe de ser uma pessoa simpática e coxeava, arrastando uma das pernas.
Nunca soube o seu nome.
Sei, que nós, durante a meninice, gostávamos de lhe oferecer vários mimos e de nos escondermos atrás dos carros, a ouvir a sua habitual reacção.
Ele quando ouvia a palavra «coxo», ficava fora de si, olhava para todos os lados e oferecia impropérios a quem por ali passasse, que eram a nossa alegria...
Traquinices de infância, de um tempo que não volta...

Espero que estas palavras não soem a mau gosto, por hoje se comemorar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Retratam a realidade e também a maldade que existe dentro de nós, desde pequenotes...
O pior de tudo, é trinta e tantos anos depois, continuarmos sem saber lidar com as pessoas diferentes...