terça-feira, dezembro 29, 2009

Mau Tempo no Oeste

O Oeste - especialmente os concelhos de Torres Vedras e Lourinhã - foi fustigado pelo mau tempo na época natalícia, com um turbilhão de vendavais, que destruíram plantações, arrancaram telhados, provocaram inundações, deitaram abaixo árvores e postes de electricidade, de baixa, média e alta tensão, etc.

Estes últimos acabaram por ser os que mais falta fizeram às populações locais, que foram forçadas a recuar quarenta e cinquenta anos e a passarem o Natal à luz da vela e com os velhos candeeiros a petróleo.

À distância, pode parecer poético e nostálgico, passar o Natal desta forma, de volta às lareiras e às conversas em família, sem a habitual interrupção da televisão. Mas deve ter sido tão estranho, passar vários dias sem a companhia dos novos meios de comunicação (sim, a "net" também) e sem poder desfrutar das iluminações de Natal e do conforto da modernidade...

O que é certo, é que às vezes fazem bem alguns "apagões", para desenferrujar a língua e abrir uns sorrisos esquecidos, aqui e ali...

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Um Poema do Poeta-Mor do Oeste


Nada melhor para comemorar esta quadra festiva, que um poema de Manuel Alegre, poeta-mor do Oeste.
Boas Festas para Todos.

NATAL

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

O Palacete da Família Pinto Basto

A vila das Gaeiras, do concelho de Óbidos, encerra vários espaços únicos.
Um deles, é o Palacete da família Pinto Basto.
Palacete que só conheço do exterior.
Imagino a sua beleza interior...

sábado, dezembro 19, 2009

Luiz Pacheco e as Caldas


Por José do Carmo Francisco

«1 Homem dividido vale por 2» - Luiz Pacheco

Trata-se de um livro duplo: além do material respeitante a Luiz Pacheco (o autor) as suas 378 páginas integram a bibliografia completa de Pacheco (o editor). Entre outros a Contraponto de Luiz Pacheco editou Apollinaire, Raul Brandão, Alfonso Castelao, Camilo Castelo Branco, Mário Cesariny de Vasconcelos, Natália Correia, Dostoiewski, Hélia Correia, Manuel Grangeio Crespo, Durrenmatt, António Ferreira, Garrett, Vergílio Ferreira, Carlo Goldoni, Herberto Hélder, Ibsen, Ionesco, Karl Jaspers, Kleist, Manuel Laranjeira, Raul Leal, Manuel de Lima, António Maria Lisboa, António Tavares Manaças, José Alberto Marques e Virgílio Martinho.
No que diz respeito a Pacheco (personagem) o outro lado do livro refere uma curiosa ligação afectiva a Caldas da Rainha: «Não me julguem que chegado a esta terra como náufrago ou foragido (e alguns sabem-no) sou aqui um tipo género pára-quedista. Por acaso, sou muito mais Caldense que muitos que por cá nasceram ou vivem – e isto bastantes o sabem já. Um dia espero contar como cheguei, quem já conhecia; quem já não vim encontrar e me fez deambular, meio-sonâmbulo, ensimesmado, pelas áleas do cemitério: a Dona Eugénia Soeiro de Brito, o Pai Freitas, o dono (como se chamava? Tiago?) do Gato Preto; o Jaime Arsénio de Oliveira e outros fantasmas mais. E aqueles que vim a conhecer, me deram a mão, ficaram Amigos ou malquistos e enchiam esta página. As minhas memórias de caldense adoptivo dariam um rico volume, se o chegar a escrever. E se não sair em letras está-me escrito na pele.»
(Editora: D. Quixote – Biblioteca Nacional, Comissário: Luís Gomes)

quinta-feira, dezembro 17, 2009

O Café Bocage

O Café Bocage agora é cafetaria.
São sinais dos tempos, mas pelo menos resiste, no alto na Praça da República, a sempre popular Praça da Fruta das Caldas...
Sempre achei curioso este café, não sei se pelo nome, nesse tempo mais associado ao "herói" das anedotas (sim, herói, era um vencedor, ludibriava tudo e todos, inclusive franceses, alemães e americanos, os cromos mais difíceis de se deixarem levar...) que ao poeta das palavras proibidas.
Quando somos jovens, não paramos muito em cafés, gostamos mais da rua.
É por isso que todas as "tertúlias" de café caldenses, não fazem parte do meu imaginário...

terça-feira, dezembro 08, 2009

Quase Jardim Interior

Estava a ver algumas fotografias quando parei nesta, que tirei na última vez que visitei Salir de Matos, ainda na Primavera.

A fotografia não ficou muito boa porque foi tirada do muro, porque todo aquele espaço pertence agora à paróquia local e não quis passar por "invasor"...
É uma parte do pátio da casa dos meus avós maternos e aquele telheiro interior foi sempre um lugar especial para nós. Permitia-nos brincar em pleno Inverno, ao som da chuva que caia ali mesmo ao lado.
Como o chão era de areia, podíamos fazer buracos (sem exageros, claro...) e construir estradas para os nossoa carrinhos, ou jogar ao berlinde...
Claro que muitas vezes acabávamos por inventar outras brincadeiras, com a água da chuva, acabando por nos molhar e ouvir a avó...
Ainda hoje sinto que havia algo de "mágico" naquele lugar, aberto, mas protegido do rigores do Inverno e do Verão...

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Quase pausa nas "Viagens"...

Tenho escrito cada vez menos por aqui.

Não há grandes explicações. Digo eu.
Embora este 2009 tenha sido o ano que fui menos vezes às Caldas.
Mas se me esforçar, sempre encontro várias razões. Além de ter tido menos disponibilidade de tempo (sem esquecer os custos de uma viagem de carro, de ida e volta, sozinho às Caldas... gasolina e portagens é coisa para se aproximar dos 40 euros, um luxo nos dias que correm...),também tive menos motivos para aparecer...
Por outro lado, como cá em casa não morrem de amores pelo Oeste, também me vou rendendo.
Mas acho que em 2010 vou voltar mais vezes, apenas porque sim...
Esta fotografia primaveril de S. Martinho do Porto, serviu para provar que nem sempre por aqueles lados, "o diabo anda à solta", espalhando aquela areia fina (que detesto) por todo o lado, como se estivéssemos no deserto do Sahara...

terça-feira, novembro 24, 2009

Rafael e as Imitações

Ainda na continuação das "Culturas Caldenses", não posso deixar de ficar satisfeito por Rafael Bordalo Pinheiro ter sido motivo de um Congresso Internacional, organizado por uma universidade lisboeta.

E tenho de voltar à loiça malandra, que foi valorizada em várias exposições, com muitas imitações e inovações, na primeira mostra organizada pela Confraria do Príapo.
Por exemplo na nossa Praça da Fruta, já literária, é possível encontrar este Zé Povinho, demasiado "louro", com o chamado "bigode quase de arame" e até com um cigarro no canto da boca. Mas continua a oferecer-nos o "toma"...

quarta-feira, novembro 18, 2009

As Caldas e a Cultura

Noto que nos últimos temos há uma outra dinâmica, uma outra forma de se olhar e fazer cultura nas Caldas da Rainha.

Pelo menos esta é a impressão que fica de quem acompanha a vida cultural pela "Gazeta" e por alguns blogues...
Embora não tenha a noção do êxito da "1ª Mostra Erótica-Paródica de Caldas da Rainha", mas só o simples facto de ter sido organizado, já é uma vitória contra o conservadorismo que povoa uma cidade cheia de potencialidades.
Como estou ligado aos livros, fiquei também bastante satisfeito com a edição dos dois últimos sobre as Caldas, o romance de Carlos Querido, "Praça da Fruta" e o ensaio de Mário Tavares, "Caldas nos Tempos da II Guerra Mundial".

Que esta "febre" continue...

quarta-feira, novembro 11, 2009

O São Martinho e a Prova do Vinho Novo

O São Martinho recorda-me sempre o meu avô materno e a prova do vinho novo na adega, povoada com barris de todos os tamanhos.

O avô conseguia transformar uma coisa simples num acontecimento memorável (é a explicação para a lembrança...)
, quase sempre com algumas histórias de vidas à mistura...
A prova raramente se ficava por uma único barril porque, embora o vinho fosse feito na mesma altura, existiam outros aspectos que podiam ou não, alterar a graduação e o gosto do vinho, como era o caso da própria madeira das pipas. À medida que se iam abrindo, a rolha de cortiça era substituída pela torneira metálica da ordem...

A fotografia é de João Soeiro, do álbum, "Arealva - Memórias Dispersas no Tempo", onde colaborei com um texto sobre a história desta bonita quinta...

terça-feira, novembro 03, 2009

O Voleibol Caldense ao Mais Alto Nível

Tenho acompanhado pelos jornais a passagem da Sporting Clube das Caldas pela 1ª Divisão de voleibol, onde tem dado boa réplica às melhores equipas.

Apesar de ter apenas uma vitória, tem perdido vários jogos pela diferença minima, inclusive com algumas das melhores equipas.
Os seus atletas, técnicos e seccionistas estão de parabéns. E se mantiverem esta postura, de certeza que as vitórias não tardam por aí, tal como a manutenção na divisão principal.

sábado, outubro 24, 2009

Termo de Óbidos

João Miguel Fernandes Jorge é um escritor-poeta do Oeste, que nos oferece na obra, "Termo de Óbidos", algumas memórias deliciosas da sua infância e juventude, que resolveu construir com a forma bonita dos poemas.

É uma viagem extremamente rica, que percorre alguns sítios que conheço e outros que fiquei com muita vontade de conhecer, embora saiba que o tempo não perdoa e que as aldeias e as vilas cresceram demasiado nos últimos trinta anos. É por isso que a "prodigiosa memória de poeta" do João, funciona também como um registo histórico...
Sim, este livro, além de acolher uma parte da vivência do autor, também é um roteiro poético e etnográfico, que visita lugares como "A Feira de Atouguia", "Santo Antão de Óbidos", o culto no Carvalhal na "Noite de 25 de Dezembro de 2004" e até o "Café Central", esse mesmo, o das Caldas...
Outra coisa única neste livro são as pessoas que surgem, poema a poema, "pintadas" de memória pelo poeta, que como todos devem saber, é um nome grande da literatura portuguesa contemporânea.

domingo, outubro 18, 2009

Um Gato Azul Para a Isabel

No último texto que publiquei, houve quem confundisse as coisas na caixa de comentários e tentasse seguir a linha perigosa do Rui Rio no Porto (que devido à teimosia tem desviado parte da vida Cultural da Cidade para a vizinha Vila Nova de Gaia...). Felizmente os agentes ou activistas culturais "pedinchas" ou "chulos", são uma minoria, embora seja bom falar neles, quando não se quer apoiar, qualquer iniciativa artística.

Claro que o Rio tem muitos seguidores de Norte a Sul. Não é por acaso que as Caldas têm perdido muitas coisas para Óbidos, como todos sabemos, mas nem vale a pena aprofundar o assunto, trata-se sobretudo de visões diferentes sobre qual deve ser o papel da Cultura nas cidades...
É por isso que ofereço este "Gato Azul", da autoria do brasileiro Aldemir Martins, à Isabel Castanheira, que tanto tem feito pela cultura caldense, sem estar à espera de qualquer apoio autárquico
.

sexta-feira, outubro 16, 2009

À Boleia do Tempo

Ontem encontrei-me com um amigo e conterrâneo, à beira Tejo.

Sei que não nos devíamos ter encontrado tão próximo das eleições, evitávamos falar de "duques e de senas tristes"...
Como é natural a conversa descambou para a política, para o quase abandono cultural de uma cidade que tem tantas potencialidades. O Costa como qualquer político que se preze, prometeu agora fazer em quatro anos o que não fez em oito (querem melhor autocrítica que esta?...). Ambos sorrimos a esta "pérola", mas temos algum receio do que ele possa fazer à cidade, pelo menos no campo urbanístico, com tanta vontade de fazer coisas...
O Rui falou-me com entusiasmo do Museu Bernardo, da revolução cultural que tem proporcionado na nossa cidade, fazendo um brinde ao Joe Berardo, porque sem ele e sem o seu museu instalado no CCB, o Bernardo não teria avançado com toda aquela energia. A Teresa também já me tinha falado igualmente com entusiasmo. Tenho de conhecer o museu e o Bernardo...
Depois de lhe dar o último livro que escrevi sobre Cacilhas, ele disse que eu devia fazer algo parecido sobre as Caldas. Tive de ser sincero e de lhe dizer que conheço de uma forma mais profunda a história de Almada que a das Caldas...
Já depois do meu livro anterior, o meu irmão também me falou na possibilidade de escrever um parecido sobre as Caldas...
Mas as coisas não são assim tão simples...

quinta-feira, outubro 08, 2009

O Meu Oceano

O telemóvel tocou várias vezes até ele atender. Era ela.

«Onde estás? Sempre vens?» As mulheres são assim, são capazes de fazer mais que uma pergunta na mesma frase...
Sentia-se tão calmo e distante, que disse: «Estava tão longe... deixei-me levar pela música forte do Oceano e consegui esquecer-me de uma boa parte do mundo. Da menos prestável.»
Curiosa como todas as descendentes de Eva, queria saber onde ele estava, «Em que Oceano estás?»
«No nosso.»
Ela ficou mais descansada, estava perto, a olhar o areal onde passearam vezes sem conta, na companhia das ondas do mar...
Extraído de um pequeno conto meu, porque sim...

quinta-feira, outubro 01, 2009

Mansões Abandonadas

Gosto deste título, "Mansões Abandonadas".
Provavelmente não é inocente, acompanha o percurso do seu autor, farto de ser mais um "santo da terra, proibido de fazer milagres"...
Falo de José do Carmo Francisco, um poeta do Oeste, natural da Freguesia de Santa Catarina, no concelho das Caldas da Rainha, terra que conheço desde sempre, porque era
o destino final das camionetas de carreira que apanhava para Salir de Matos, quando ia de visita ou de férias para a casa dos meus avós maternos...
Conheci-o graças ao jornalismo no começo da década de noventa e nunca mais nos perdemos de vista.
A sua aventura literária começou em 1981, com o livro, "Iniciais", "Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores", seguiram-se mais catorze livros, em quase trinta anos de carreira literária.
A par da poesia também tem escrito em vários jornais e revistas ("Diário Popular", "Record", "A Bola", "Ler", Sporting", "Notícias da Amadora", "O Mirante", "Gazeta das Caldas", etc), e é um dos animadores do blogue "Aspirina B".
Apesar de se sentir marginalizado enquanto poeta e ter dificuldades em publicar, José do Carmo Francisco foi reconhecido recentemente além fronteiras, com a publicação de uma antologia da sua obra poética no Brasil, na colecção "Ponte Velha", que quer ser uma ponte entre a poesia portuguesa e a poesia brasileira.
Falo do tal título feliz, "Mansões Abandonadas", editado pelas Escrituras Editora, no outro lado do Atlântico.

terça-feira, setembro 29, 2009

A Escola do Bairro da Ponte

Hoje, sem qualquer razão aparente, recordei-me de alguns amigos de infância, dos tempos da primária, do ciclo e começo da secundária.

E também da minha professora da escola do Bairro da Ponte, uma senhora açoriana, que não consigo recordar o nome, por mais voltas que dê à "memória".
Foi uma professora muito importante para mim, sempre me estimulou a escrever e sempre gostou das minhas histórias.
Acho que fiquei sempre com saudades da familiaridade que existia na primária, impossível de existir nos outros graus de ensino, por termos vários professores, uns com mais jeito para ensinar, outros com menos...
Ainda por cima andei pelo ciclo e pela secundária, nos tempos quentes da revolução, em que a escola era uma "bagunçada" e em muitas disciplinas os professores só apareciam no terceiro período...

Por tudo isso, os tempos de escola na qual fui mais feliz, foram sem dúvida, os da primária, no Bairro da Ponte.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Quase que Parece...


Sim, quase que parece um cenário de guerra.
Mas não é.
Trata-se apenas de canto meio abandonado de Salir de Matos, comum a muitas aldeias.
Achei graça o machado estar preso no cepo, provavelmente à espera de mais uma leva de lenha, lá mais para o Outono...

sábado, setembro 19, 2009

O Hotel Lisbonense

Não vivi os tempos áureos do Hotel Lisbonense, que calculo que tenham sido vividos na primeira metade do século XX.
Nem sei se foi um negócio lucrativo, já que era demasido grande para uma pequena cidade, como eram as Caldas da Rainha.
Quando comecei a reparar mais nele, já funcionava como albergue de "retornados" (as pessoas que regressaram das colónias nunca gostaram desta denominação, não sei porquê, já que retornaram ao país de onde partiram...), que tinham sido forçados a regressar ao Continente devido à Guerra pelo Poder nestes novos países (que duraria mais tempo que a Colonial...), principalmente em Angola.
Participei em vários bailes de Carnaval e Fim de Ano, e pouco mais. Aliás, nunca entrei num único quarto do hotel.
Ao olhar este postal lembrei-me de falar deste hotel, que nem a fachada sobrou, devido à "esperteza" dos empresários...

segunda-feira, setembro 14, 2009

Dez Cartões Vermelhos

A Vela desafiou-me para que eu mostrasse dez cartões vermelhos. Podia mostrar vinte sem grande dificuldade. Decidi escolher 10 pessoas, que ultimamente se têm colocado a jeito de levar com a cartolina que dará direito à expulsão para outra "república também com bananas", de preferência distante...

O mais curioso é que estão de tal forma colados (e alienados) ao poder, que não há cartão que os afaste da nossa vista...

Eis a lista:

Alberto João Jardim
Dias Loureiro
Jardim Gonçalves
Aníbal Cavaco Silva
Manuela Ferreira Leite
Santana Lopes
Fátima Felgueiras
Valentim Loureiro
Isaltino Morais
Pinto da Costa

O país ficava mais saudável sem a sua presença, pelo menos na vida pública.

Quem quiser, está à vontade para pegar no mote e mostrar os cartões a quem lhe apetecer.

sábado, setembro 12, 2009

Os Portugueses no Mundo

Achamos quase sempre que somos muito acolhedores e simpáticos, os estrangeiros também nos acham um "doce". Umas vezes concordo, outras não. E por vezes até chego a pensar que a tal simpatia de que os estrangeiros tanto gostam, não passa de "servilismo"...

Passei uma semana fora do país, em Paris, a grande capital multicultural, há várias décadas.
Fui encontrando pelo caminho vários portugueses, ocasionalmente. Uns por bons motivos, outros nem por isso.
Logo à chegada, uma jovem simpática ao escutar a nossa língua, percebeu que estávamos um pouco "deslocados" e ofereceu os seus préstimos para nos indicar a rua do hotel onde iríamos ficar.
Encontrámos mais duas portuguesas simpáticas, de cor, provavelmente de origem caboverdiana, pelo seu tom de pele. Uma delas de grande ajuda num restaurante, onde a língua "universal" era apenas o francês...

Mas encontrámos de tudo, como o português que insultava o filho menor na rua, puxando-o pelo colarinho da camisa, ou a senhorita que quase me atropelou com a mala e ainda teve a lata de dizer em bom português (com maus modos) que eu é que me atravessei no seu caminho...

Passei a gostar mais dos franceses, depois de um dos meus tios, emigrante em França, durante quase quatro décadas, me ter contado o grande carinho que sentia por este povo, que sempre o tratou bem.
Quando saiu do país a salto nos anos sessenta, começou logo a ser enganado por portugueses e espanhóis, durante a caminhada interminável por montes e vales, até ter passado a fronteira. Ainda se recorda das boas vindas dadas pelos franceses, que lhe arranjaram alojamento e comida quente, ao verem o estado em que se encontrava, tão faminto e cansado, entregue à sua sorte, num país desconhecido...
A história continuou...
Não demorou muito tempo a perceber que aqueles que fingiam ajudá-lo, eram quem mais o explorava. Desde o casal de portugueses, que lhe alugou um reles quarto ao preço de uma suite, a outros "compatriotas" que lhe cobravam todos os "favores" prestados, a preço de ouro.
Só quando começou a falar francês, percebeu onde estava metido, o muito que tinha pago por coisas que eram de graça, eram direitos (uma palavra que também desconhecia...).

Claro que, como em tudo na vida, trata-se "apenas" de uma questão de sorte ou de azar...
Provavelmente se tenho encontrado a senhorita portuguesa da mala, no restaurante, até era capaz de comer carne de burro...
É por estas e por outras que não sei se somos tão simpáticos e acolhedores como parecemos.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Setembro...

Setembro sempre foi um mês especial.

Penso que existe mesmo uma duplicidade de olhares e sentimentos em relação a este mês que funciona quase como fronteira entre as férias e o trabalho e a escola.
É por isso que é olhado com desencanto para muitos e de alivio para alguns...
Desencanto para quem adora o Verão e o tempo de férias, alívio para quem não morre de amores por esta época tão quente, movimentada e excessiva.
Mas é assim todos os anos, há algo que acaba e algo que começa...
Na minha meninice e juventude Setembro tinha também o atractivo das vindimas. Era uma aventura e pêras, seguir por aqueles caminhos, que se enchiam de lama com as primeiras chuvas.
O caminho para o "Vale da Moira" (uma das vinhas do avô...) era digno de um documentário, sobre a força dos bois e a coragem do avô, que não lhes dava tréguas, tanto na subida (que também se tornava perigossíssima a descer, com as tinas cheias de uvas ...), como na tal parte do vale, em que a estrada se confundia com um ribeiro e as pernas dos bois e até do avô quase que desapareciam no meio do lamaçal...
Sinto saudades daquela azáfama dos finais de Setembro, em que tudo era uma aventura e os perigos eram enfiados no bolso. E claro do lagar, do pisar as uvas e fazer o vinho...

Setembro continua a ser um mês especial, mesmo que as vindimas sejam só uma boa recordação...
A fotografia é do Parque das Caldas...

terça-feira, agosto 25, 2009

O Microclima do Oeste

Enquanto andávamos esbaforidos com o calor, o Zé Ventura, lembrou-nos, e muito bem, da existência do microclima especial da Região do Oeste.

Sentem-se logo as mudanças quando passamos a Serra de Montejunto...
Um ano destes tentei desviar a minha família para as praias do Oeste. Estivemos menos tempo no Algarve e ficou uma semana para aproveitarmos as "delícias" de praias como a Foz do Arelho, Salir, São Marinho do Porto ou o Baleal.
Mas a semana foi terrível, quase que choveu e tudo...
Na Foz era preciso andar de "sobretudo", em São Martinho, parecia que estávamos dos desertos do Sahara, com a areia sempre no ar...
Lá se acabaram as férias no Oeste, para pena minha, que até dos nevoeiros matinais da Foz do Arelho gosto...

terça-feira, agosto 18, 2009

Agosto Quente


Nunca pensei que este Agosto aquecesse tanto...
Ao ponto de ser extremamente desconfortável andar na rua nas horas de maior intensidade solar.
Nem à sombra se está bem...
Este mês não tenho passeado por Lisboa como noutros anos, nem tenho andado rente ao Tejo.
Não sei se me serve de consolo pensar que depois de amanhã é Setembro...

quarta-feira, agosto 12, 2009

O Jardim da Lurdes

No principio do ano fui surpreendido por um telefonema, de alguém que conhecia desde a meninice, de Salir de Matos, a Lurdes do Jardim. Sim, ela para mim foi sempre a Lurdes do Jardim, uma das educadoras do Jardim de Infância da aldeia, que sempre foi um exemplo escolar para a primeira infância. Havia mesmo quem viesse das Caldas, deixar os filhos a Salir de Matos...

Fui crescendo e comecei a visitar cada vez menos Salir de Matos. Sei que estive muitos anos sem ver a Lurdes. Por essa razão ainda fiquei mais surpreendido com o telefonema...
Ela contou-me que o Jardim de Infância fazia 40 anos em Outubro e como sabia que eu escrevia, queria que eu fizesse a história da instituição.
Fiquei surpreso e tentei fazer-lhe ver que estava demasiado afastado de Salir de Matos e da realidade da instituição, para escrever o que quer que fosse. Também argumentei que tinha dois livros para acabar durante o ano...

Nada a demoveu e acabámos por manter contacto por "e-mail". Fiz um pequeno inquérito para ser enviado às pessoas que estiveram de alguma forma ligadas à fundação da Instituição. Também acabámos por nos encontrar, numa das poucas vezes que visitei Salir de Matos, onde me contou o porquê de todo aquele interesse, tendo já bastante documentação e fotografias. Foi quando ela soube que eu vivia em Almada e não nas Caldas...
Entretanto como estava envolvido noutros projectos, não me preocupei muito com esta história.

Posteriormente a minha mãe disse-me que ela estava doente, vitima da doença mais traiçoeira e perigosa que nos persegue, o cancro...
Quando cheguei de férias soube que tinha falecido.
Provavelmente levou consigo o sonho do livro, no qual queria que ficasse registado a verdadeira história do Jardim de Infância de Salir de Matos...

A vida é mesmo assim, injusta, para a Lurdes, e para todos nós...

domingo, agosto 02, 2009

Agosto Fresco

A chuva que caiu ontem fez com que um amigo me dissesse que o Inverno começa quase sempre em Agosto...

Claro que não passou de uma metáfora, de uma tentativa de me explicar que embora Agosto seja o mês por excelência das férias dos portugueses, é também o mais brincalhão, aquele que acolhe as chuvas e o frio, ainda que passageiro, com um sorriso traquina, de quem consegue trocar as voltas a muito boa gente.

Sempre gostei mais de Julho para férias. É assim há mais de vinte anos (só gozei férias em Agosto, obrigado...), até porque Lisboa, Almada (sim, apesar da Costa de Caparica ser a dois passos, fica mais calma), ou outra cidade que não seja local de férias de veraneio, ficam sempre mais calmas...
O mesmo não se pode dizer das Caldas, que fica sempre com mais vida nos meses de Verão, por ser o centro urbano mais próximo da Foz do Arelho e de S. Martinho do Porto.

quinta-feira, julho 16, 2009

Janela Azul

Gosto desta janela de Guilherme Parente, onde se olha o azul do mar e o azul do céu...
Só não percebo o que faz por ali, aquela nuvem castanha. Caprichos do artista, só pode...
Caprichos que se estendem à parte inferior, onde nem falta alguém de chapéu, com um livro na mão.
E sabe tão bem ler, dentro de uma sombra, olhando nos intervalos das palavras, o azul do mar e o azul do céu...
Prometo voltar em Agosto.

sábado, julho 11, 2009

«Gosto Muito do Cheiro do Atlântico»

Não tenho andado muito por aqui, foi por isso que deixei as palavras de Manuel Alegre, sobre a Foz do Arelho, na reportagem da "Visão" desta semana, "memórias da minha praia", à espera.


O poeta disse: «[...] Lembro-me bem do cheiro da ria... essa é a praia das praias. Mas nos anos 1980, descobri a Foz do Arelho, mais selvagem, em estado puro, um sítio onde podia pescar robalos à vontade. Gosto muito do Atlântico, do cheiro do Atlântico - lembro-me que quando estava exilado em Paris, ia até Biarritz só para sentir o cheiro do mar. Gosto das águas fortes e lá ouve-se o silêncio e a música do mar. E ainda vou na Primavera, no Outono e no Inverno... Tenho muitos poemas escritos ali. E da minha varanda vêem-se Peniche e as Berlengas. E às vezes só a neblina.»

É também por tudo isto que gosto da Foz do Arelho, daquele mar único. E não fazia ideia que tinha descoberto este meu Mar muito mais cedo que Manuel Alegre. Sim, descobri-o logo nos anos sessenta, na década em que nasci...

segunda-feira, julho 06, 2009

Outros Adiamentos...

As viagens nem sempre são possíveis de concretizar por questões económicas e pela ausência de dias vagos para se terem férias mais pessoais. Quem tem filhos menores, planeia sempre as férias a pensar na praia, muito importante para a saúde no ano inteiro (o único ano que não fiz praia, fui atacado por uma gripe que durou uns três meses...).
Mas o que quero falar agora, é de outros adiamentos, das leituras dos livros que vão ficando na prateleira, embora alguns não desistam de nos acenar...
Há livros que estão lá porque sim (não há grande vontade de ler...), outros é mesmo falta de tempo e medo (sim esta mania de se escreverem livros com mais de quinhentas páginas não tem muito a ver comigo, sinto que são palavras a mais e tenho dificuldade em agarrá-los...).
Foi por isso que ainda não li livros que já estão na estante há mais de uma década, embora ainda me pisquem o olho, de vez enquanto, como são os casos de, "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago e do, "Fado Alexandrino", de António Lobo Antunes (este recomendado pelo autor...).
Dos mais recentes, também me piscam o olho, embora menos, o "Equador", de Miguel Sousa Tavares, o "Eu Hei-de Amar uma Pedra", novamente Lobo Antunes, a "Cara da Gente", de Batista-Bastos... e depois há outros mais curtos como, "Os Duros não Dançam", de Norman Mailer, "A Virgem e o Cigano", de D. H. Lawrence, que me atrairam sobretudo pelos títulos (estes dois devem ir de férias comigo, finalmente...).
E, sem saber explicar muito bem, existem outros livros que me ofereceram que não tenho vontade de ler. Alguns de José Rodrigues dos Santos, da Margarida Rebelo Pinto e até o "Código Da Vinci", de Dan Brown. Sei que é uma falha minha, devia ler para perceber o porquê dos seus sucessos, mas...
O óleo é de Juan Gris, um nome grande do cubismo.

sábado, julho 04, 2009

A Vida É...

A vida é quase um "mar" de adiamentos...

Tanta coisa que queremos fazer e que vão ficando pelo caminho, à medida que vemos o tempo a passar por nós, como um comboio que vemos partir de uma qualquer estação e que vai ganhando cada vez mais velocidade...
Tudo isto apenas porque me lembrei das lista de cidades que queria conhecer e que ainda não sairam do papel.
Sim, Nova Iorque, Salvador da Baia, Berlim, Budapeste, Buenos Aires e Praga, continuam no topo da lista, cada uma por motivos diferentes...
Provavelmente não as vou visitar todas, talvez duas ou três.
Porque a vida é quase um "mar" de adiamentos...

O óleo é de Claude Monet...

terça-feira, junho 30, 2009

Ao Começo da Noite...

Gosto muito dos quadros de Manuel Amado, das suas geometrias e das suas cores.
É por isso que não resisto em colocar, a janela de "O Quarto de Fernando Pessoa - II", agora no começo da noite...

sábado, junho 27, 2009

O Meu Primeiro Observatório do Mundo

A Janela da sala do rés de chão onde vivi até aos treze anos, foi o meu primeiro observatório do mundo.
Foi o primeiro lugar onde me lembro de olhar o mundo com olhos de ver.
Adorava ficar por ali nos dias de chuva, a ver as pessoas a passarem na estrada de lama amarela (era muito pequenote, o alcatrão ainda não tinha chegado ao Bairro dos Arneiros...), cheia de buracos transformados em poças de água, extremamente perigosas com a passagem de qualquer carro, algo que não era tão frequente como nos nossos dias, embora bastasse um mais apressado, para pintar quem passava na rua de castanho...
Era uma rua sem passeios e sem alcatrão, um "perigo" que me divertia nestes primeiros invernos do meu contentamento, em que aprendia a olhar o mundo e as pessoas...
O quadro de Manuel Amado, com a janela, de "O Quarto de Pessoa", é um belo espaço de sonhos...

segunda-feira, junho 22, 2009

Eva Vital Recordista Absoluta

Eva Vital estreou-se na selecção A de atletismo da melhor maneira, na Superliga Europeia de Atletismo que se disputou este fim de semana em Leiria.

No sábado fez parte da estafeta de 4 x 100 metros femininos que bateu o recorde nacional absoluto, com a marca de 44,70' (Eva Vital, Naide Gomes, Carla Tavares e Sónia Tavares).
No domingo bateu o recorde nacional dos 100 metros barreiras de juvenis e juniores, com 13,66', além de ter conseguido mínimos para o Mundial de Juvenis...
Grande Eva!

quinta-feira, junho 18, 2009

Dias de Calor no Parque...

Na última vez que estive no parque com o meu filho, contei-lhe algumas das "batalhas navais" que travei no Lago do Parque, no começo da adolescência.
Sei que era quase sempre o mais pequeno da "pandilha". É o que acontece quando temos um irmão mais velho dois anos e os seus amigos são os nossos...
Talvez por isso fosse também o mais reguila, as "costas quentes" fazem destas coisas...
A batalha naval que guardo na memória com mais gozo, foi travada contra os "betinhos" do liceu, muitos deles colegas de turma do meu irmão, como o João Pedro "catatau", entre outros. Sei que graças à nossa perícia demos um banho monumental aos "meninos", que eram mais que nós e por isso mesmo resolveram fazer uma "espera", a pedirem meças, em terra firme...
Um amigo mais velho, que assistiu de camarote deliciado ao banho que demos, fez-me sinal, num dos bancos, para ir ter com ele. Reguila e rufia, antes de fugir, ainda me atirei às canelas de um deles, que já não recordo o nome...
Depois foi a debandada geral. Como éramos mais dados ao desporto e às correrias, os "betinhos" foram forçados a desistir da "forra"...

terça-feira, junho 16, 2009

A Oeste do Oriente...

Nunca estive no chamado Oriente. O único lugar que conheço com algumas remiscências destes "mundos estranhos", é Marrocos.

Mas por ali, fiquei sempre com a sensação que o uso do lenço ou do véu, é facultativo. A única vez que estive mesmo num país qualquer, que se poderia chamar Irão, Líbano ou outra coisa qualquer foi no papel, numa "micronarrativa" (nessa altura não se chamavam assim...) que escrevi num ano qualquer, quase no final do século XX...
«Estranhamente a noite tornou-se dia, naquele quarto de pequenas dimensões. A mulher que se escondia dentro daquela coisa estranha, com um nome ainda mais estranho, que quase lhe roubava o rosto e corpo, assim que fechou a velha porta de madeira, com duas voltas na chave, libertou-se da "amarra". Fiquei quieto, com os olhos presos ao corpo quase visivel por debaixo da veste que me pareceu transparente. Acho que abri a boca, surpreendido com toda aquela beleza que começava nos cabelos bonitos, longos e sedosos que se libertaram e lhe cairam pelas costas. Pior só quando me olhou pelo espelho, tão fundo. Entrou de tal forma dentro de mim, que me senti despido, sem ter tido tempo para desapertar um único botão da camisa. Ali, naquele reduto, Gabina era mulher por inteiro, podia exibir toda a sua beleza sem reparos ou retaliações, tendo como testemunha o meu ar feliz e surpreendido...»
Não consegui identificar o autor do quadro...
Adenda: Esqueci-me de dizer o essencial, não sinto qualquer atracção por estes países, como destinos turísticos ou outra coisa qualquer...

quarta-feira, junho 10, 2009

A Minha Estação: Caldas-Tejo

Tinha escrito qualquer coisa sobre a pretensão que algumas pessoas têm, de ser apenas cidadãos do mundo, de se distanciarem dos lugares que pisaram com a frequência natural de quem não é filho de nenhum artista de circo.

Mas o papel escondeu-se debaixo de outros papeis (esses mesmo que rodeiam a minha existência...).
Tinha escrito qualquer coisa do género: só se fosse mentiroso, me dizia cidadão de Nova Iorque, Paris, Londres, Buenos Aires, etc.
Sou orgulhosamente cidadão das Caldas da Rainha e de Almada, é aqui que residem grande parte das minhas influências e confluências.
Lembro-me de pequeno, sem os conhecer bem, já gostar de Malhoa, Rafael ou Proença.
Isto não aconteceu por acaso...

sábado, junho 06, 2009

Um Desafio Poético

A Cristina lançou-me um desafio, completamente aberto, que apelava à construção e colagem de palavras.

A minha escolha acabou por ser parte da poesia do quase "patrono" destas minhas "viagens", ou seja, o lado mais campestre de Fernando Pessoa: Alberto Caeiro, o homem que descreveu o mundo sem pensar nele, em jeito de entrevista...

- Gostou de regressar à “Cidade Grande”?
- Nas cidades as grandes casas fecham a vista à chave, escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos podem dar, e tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
- Já vi que a realidade actual chocou-o...
- A espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias.
- Mantém viva a sua filosofia...
- Eu não tenho filosofia: tenho sentido...
Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é, mas porque a amo, e amo-a por isso...
- Pelo menos continua um homem apaixonado...
- O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, porque já não posso andar só.
- Foi por isso que voltou com os seus dois filhos, o Pedro e o João? Como olha para eles?
(Antes de responder olhou com satisfação para o Pedro que brincava com o irmão ali ao lado).
- É uma criança bonita de riso natural. Limpa o nariz ao braço direito, chapinha nas poças de água, colhe as flores e gosta delas e esquece-as. Atira pedras aos burros, rouba a fruta dos pomares e foge a chorar e a gritar dos cães.
(Quando começou a falar do João, esboçou um sorriso de orelha a orelha...)
- Corre atrás das raparigas que vão em ranchos pela estrada com as bilhas às cabeças e levanta-lhes as saias.
- Mas aqui vai ser diferente...
- Eu nem sempre quero ser feliz. É preciso ser de vez enquanto infeliz para se poder ser natural...
- Faltam-lhe os rebanhos...
- Eu nunca guardei rebanhos, mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor, conhece o vento e o sol.
- Pelo menos vão ter o Tejo como companhia...
- O Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia...

Como tem sido hábito meu, não passo este desafio a ninguém em especial, passo-o antes a toda a gente que o ache divertido e o aceite...
A pintura, "Lisboa e o Tejo", é do genial Carlos Botelho.

sexta-feira, junho 05, 2009

Se a Desonestidade Matasse...

Não consigo ficar indiferente à "mentira" de Vasco Pulido Valente, publicada hoje no "Público".

Ele escreveu o seguinte: «Fui anteontem à Figueira da Foz por uma auto-estrada deserta. Literalmente deserta: um camião ou outro, umas dezenas de automóveis, mais nada. A auto-estrada, claro, vai mudando de nome. Começa por se chamar A8, depois muda para A14 e acaba, salvo erro, em A17.»

Quem não conheça a auto-estrada até pode pensar que é assim. Mas não é. De vez enquanto vou às Caldas de carro e nunca encontrei esta via deserta, como o cronista falacioso diz, até tem movimento a mais para o meu gosto. Claro que não tem a circulação automóvel da A1 (felizmente!), mas está longe de ser o "deserto" que este senhor diz. Sei que ele é useiro e vezeiro em deturpar acontecimentos da nossa história, de qualquer forma não estava a espera de ler uma estupidez deste quilate, tudo para atingir a governação de Guterres. Nem sequer se lembrou (aliás, fingiu...) que a época da "loucura" pelas auto-estradas, data do famoso "cavaquistão", de tão má memória, com gente no governo com a classe de Oliveira Costa, Cadilhe, Loureiro, etc...

quinta-feira, junho 04, 2009

Caminho de Luz

Foi com grande prazer que entrei no Salão luminoso do antigo Casino das Caldas, depois de Abril, Casa de Cultura e, espaço teatral do "Teatro da Rainha".
Não custava assim tanto, renovar aquela passagem deliciosa, entre o Largo Rainha D. Leonor e o Parque D. Carlos...
Quando os "poderes" de uma cidade andam de costas voltadas, sabemos que é mais difícil acontecerem boas novas. E foi quase assim, durante vinte anos...
Não fiz nenhuma "sondagem" mas tenho a certeza que os Caldenses, os visitantes e a própria história da Cidade gostam de Luz...

segunda-feira, maio 25, 2009

A Rua das Montras e a Cultura (2)

Mas as surpresas culturais só terminaram no final da Rua das Montras, com uma instalação "frágil" e três lindos "grafittis" de homenagem ao grande Rafael Bordalo Pinheiro feitos por alunos da ESAD (penso que englobados no "Caldas Late Nigth"), com o patrocínio da amiga, coleccionadora e divulgadora de toda a sua obra,
Isabel Castanheira, que também tive o prazer de rever e de trocar algumas palavras.
Fiquei com a certeza de que a minha Cidade Natal com todas estas iniciativas, fica mais viva e bonita...

domingo, maio 24, 2009

A Rua das Montras e a Cultura (1)

Gostei bastante dos reencontros nas Caldas no sábado de manhã, no centro da cidade, não só pela conversa extremamente agradável que tive com a
Teresa, não na Esplanada do Parque como tínhamos combinado (a chuva apareceu...) mas no seu interior, mas também pelo que encontrei na Rua das Montras: Cultura de uma ponta a outra.
Os alunos finalistas do curso de Artes Visuais organizaram uma venda de obras de arte, com particular realce para os quadros de José Pires, artista plástico caldense.
Que bom ver tanta agitação na principal rua da Cidade...

sábado, maio 23, 2009

Regresso à Linha do Oeste

Não viajava de comboio na Linha do Oeste, há aproximadamente uma década.

Na sexta-feira resolvi ir até às Caldas da Rainha, de comboio. Estava longe de pensar que esta viagem ia "matar" a ilusão...
Senti-me quase "aprisionado" dentro da carruagem, sem janelas de abrir para se sentir o vento na cara e a paisagem a correr, lado a lado com o comboio.
As saudades que tive das carruagens de compartimentos, dos corredores onde conversávamos, onde se fumava e onde se olhava as vistas, interiores e exteriores...
Não sei se ainda circulam, era bom que sim, porque são esses os meus comboios e nunca a "lata" azul na qual viajei...

quarta-feira, maio 20, 2009

Repetições...

A existência deste blogue (como de todos...) tem algumas particularidades, quase sempre deliciosas.

Tanto pode ser motivo de uma bonita reportagem, como a que foi publicada na "Gazeta das Caldas" da semana passada, pela Joana Leite Silva, como de uma conversa de café, com alguém que conhecemos mas que estávamos longe de imaginar que conhecesse bem o "Oeste"...
A região das Caldas, pela sua beleza, sempre foi um lugar de passagem de férias, especialmente de veraneantes. As praias de São Martinho do Porto e da Foz do Arelho sempre foram povoadas por lisboetas. A primeira foi mesmo a praia de algumas famílias importantes, que tiveram uma segunda habitação rente à baía, durante várias gerações. A segunda sempre foi mais selvagem, era preciso ter outro espírito para se ser seduzido por aquele mar brigão.
Falámos disto tudo, e claro, do Parque. Até porque não deve haver ninguém que não fique rendido à beleza deste grandioso espaço verde, ainda por cima decorado com autênticas obras de arte e com um Museu encantador.
Sei que me estou a repetir. O problema é que não me canso de falar das coisas deliciosas do Oeste..

domingo, maio 17, 2009

A Nossa Praia...

Manuel Alegre continua nas bocas no mundo. Mesmo sem ter saído do partido que ajudou a criar e ter demonstrado não estar preso ao lugar de deputado, continua a ser alvo de críticas, aqui e ali.

Quanto a mim, tomou a atitude mais digna que poderia tomar.

Um dia escrevi-lhe um poema, a que chamei "Alegre":

A minha praia é tua,
a tua praia é minha...

Porque a nossa Foz do Arelho
é muito mais que um sonho salgado...

É uma grande e bela balada selvagem
que fura a neblina e mostra o mar verdadeiro
com ondas brutais que nos levam de viagem
para lá do nosso coração marinheiro...

É a minha homenagem ao Poeta e ao Político. A fotografia é de Maria José Palla.

sexta-feira, maio 15, 2009

O 15 de Maio nas Caldas

Para quem não sabe, hoje é o Dia da Cidade, o Feriado Municipal das Caldas.

A esta hora o Borlão deve estar cheio de gente aos gritos e com camisetas com a fotografia da falsa estrela pop portuguesa, especialista em versões que se colam a ouvidos distraídos.
Li na "Gazeta" da semana passada que a temática dos 40 mil euros do "cachet" do grande Tony até tinha chegado à Assembleia Municipal. Mas, como costuma dizer o outro, a crise nunca é para todos...
Um das pessoas que continua a merecer ser recordada neste dia é a Rainha Dona Leonor. Foi ela que se interessou pelas Caldas, pelas águas sulfurosas que quase faziam milagres...
Esta fotografia da estátua, tirei-a em Abril. Gosto dela por ser diferente...

quarta-feira, maio 13, 2009

A Confraria do Príapo

Ainda não escrevi nada sobre a nova Confraria do Príapo, que nasceu no mês passado com o propósito de defender, valorizar e promover, com identidade própria, a cerâmica erótica das Caldas da Rainha, de que o falo é a principal peça e símbolo.
Acho a Confraria bem aparecida, até porque pode desenvolver várias actividades que podem ser uma mais valia para a cidade, como o provável Museu Erótico das Caldas.
Quanto ao quererem fazer uma abordagem cultural, artística e elegante da "coisa" (aliás coiso), rejeitando o que se entende por vulgar, grosseiro e ofensivo, é que vai ser mais difícil...