quarta-feira, outubro 31, 2007

Porque Hoje é Dia de Poupar...

A Arte de Rafael Bordalo Pinheiro pode ser utilizada para ilustrar qualquer texto, ainda mais se se tratar do Dia Mundial da Poupança...
Este "escarrador" de louça, da sua autoria, é uma maravilha, com tantos "reis", em jeito de saca...
É contemporâneo dos "colchões", o lugar quase mítico, para se guardar dinheiro, quando os bancos ainda não inspiravam grande confiança...
E este é mesmo um objecto de museu, e não quase...

sábado, outubro 27, 2007

Vendedores da Sorte

Sempre me fez confusão os "vendedores da sorte", serem pessoas tão desvalidas na vida, apesar de andarem de rua em rua a apregoar, «quem quer a sorte grande?», acrescentando o nem sempre convincente, «aproveite, anda hoje à roda».
Todos a queremos, mais agora que os tempos estão mais próximos das histórias de Dickens... mas e tu cauteleiro? Chegam-te os trocados que algum sortudo, te poderá dar, agradecido pela tua insistência?...

Recordo que no final da rua onde cresci também havia um casal de meia-idade que vendia jogo. Lembro-me que ele usava um boné de pala, igual aos dos arrumadores de carros oficiais, tinha uma voz rouca e no regresso a casa, vinha quase sempre aos esses pela rua abaixo.
Viviam para lá de um portão de chapa, que escondia uma série de anexos, ocupados por gente pouco considerada pela vizinhança, onde também morava uma prostituta reformada, conhecida como "varina" (sobre a qual também existe uma história, um pouco picante, que teve como protagonista o meu irmão...). Tinha uma série de filhos e alguns netos, quase todos com pouca vontade de trabalhar. E lá andavam eles "velhos", a sustentar todas aquelas bocas, ela a vender tremoços e ele cautelas...
O álcool era a sua perdição e também o seu afago...

segunda-feira, outubro 22, 2007

Os Espantalhos

Ao descobrir esta fotografia voltei à minha infância.
Voltei a inventar formas de tornar os espantalhos que o avô colocava nas fazendas mais humanos, juntamente com o meu irmão...
Sim, mais humanos, ou seja, com roupas, chapéus, rosto e até mãos, com dedos palha...
Pedíamos à avó roupas velhas, esburacadas com o uso, chapéus sebentos que já ninguém usava e construíamos as nossas primeiras (e únicas...) esculturas, com alguns laivos de arte...
Recordo que o avô preocupava-se mais com os movimentos que ele fazia, colocando vários objectos móveis, que abanavam e projectavam sons, quando o vento soprava, afastando as aves das colheitas...

quarta-feira, outubro 17, 2007

A Charanga

Embora Caldas da Rainha não seja uma cidade eminentemente cultural, de vez em quanto aparecem projectos inovadores e interessantes.
Foi o que se passou com o grupo de música popular "Charanga", nos anos oitenta, que chegaram a ter algum sucesso a nível nacional, embora se tivessem colado um pouco aos "Trovante"...
Uns anos depois desapareceram, como acontece com tantos projectos culturais, neste falso paraíso, à beira mar plantado...
A sua música ficou e continua a ser agradável, apesar da simplicidade das composições.
Deixo-vos também a capa do álbum "Aguarela", com uma paisagem do Oeste...

domingo, outubro 14, 2007

Mistérios do Olhar...

A forma de olharmos tudo o que nos rodeia está muito ligada ao nosso estado de espírito...
Muitas vezes somos completamente indiferentes às pessoas que nos cercam, a nossa atenção fixa-se em coisas tão simples como as ruas, o céu, as árvores, as casas, o rio, as flores, etc.
Outras, reparamos em tudo, com tanta nitidez, que até assusta...
Ontem "viajei" em vários transportes públicos (cacilheiro, metro, autocarro...) e descobri que quase todas as pessoas mascavam pastilhas, homens ou mulheres...
Ocorreu-me um pensamento justificativo: talvez estivessem a tentar deixar de fumar e esta fosse a forma de terem a boca ocupada...
Também descobri que quase todas as pessoas que atendiam e falavam ao telemóvel, o faziam aos berros. Perguntei para os meus botões: «será que eu também sou assim?»
Provavelmente sou. Prometi a mim mesmo que ia tentar falar mais para dentro, em público...
Em relação ao mascar pastilhas elástica, não faço parte do "clube". Não acho que os maxilares precisem de tanta ginástica...

quinta-feira, outubro 11, 2007

A Coragem de Catalina Pestana

Conheci Catalina Pestana quando deixei as Caldas e vim viver para a Cruz Quebrada. Ela vivia no mesmo prédio dos primos Zé e Elisete e era visita de casa, pelo que nos cruzámos muitas vezes.
Desses meus dezoito anos guardo a imagem de uma mulher forte, desabrida, generosa e solidária.
Voltámos a encontrar-nos mais vezes, ao longo dos anos, quase sempre com um ponto comum, o padre Felicidade Alves.
A última delas foi em Salir de Matos, na inauguração do "Largo Padre Felicidade Alves".
O "Caso Casa Pia" acabou por a transformar numa figura pública, com a sua nomeação como Provedora da Instituição, no seu período mais critico.
Continuo a pensar que foi uma boa escolha, porque era necessário alguém com coragem e personalidade forte para enfrentar todo aquele clima de suspeição e de violência que envolvia a Casa Pia.
Houve uma altura que achei que ela estava a falar demais, que devia manter uma maior descrição. Esquecido de que estava sempre rodeada de jornalistas, à procura de "assunto" para alimentar a novela...
Finda a comissão voltou a ter a sua vida de volta, embora continuasse ligada às pessoas e ao processo, por razões óbvias.
Processo que foi arrefecendo, até que ela deu uma entrevista oportuna ao semanário "Sol" - desta vez não tenho dúvidas que falou na altura certa -, causando alguns embaraços e até mau estar, no interior e no exterior da Instituição.
Não gostei do discurso facilitista da actual directora, que diz que tudo está bem, quando todos sabemos, que estamos a falar de "feridas" que demoram muito tempo a sarar e nunca deixam de doer. Nem tão pouco da indignação dos funcionários, que falaram de um clima de terror, nos seus tempos de provedora. Embora os compreenda, para eles era bem melhor o tempo em que tratavam os alunos como objectos, sem terem de dar satisfações pelos seus actos a ninguém, que os tempos de Catalina, em que tiveram de ser mais responsáveis, além de verem quase todos os seus passos vigiados, pelo menos no interior da Casa Pia.

Embora todos nós estejamos convencidos que esta "montanha" vai parir um rato, é bom que apareça alguém, com coragem, para dizer que quase nada mudou, que grande parte dos "predadores" continuam à solta, por aí, sem desistirem das "presas" da Casa Pia e de outros lugares...

segunda-feira, outubro 08, 2007

A Influência do Ambiente Onde Vivemos

Olho para o meu dia a dia em Almada e percebo o quanto os ambientes locais nos podem influenciar...
Um dos bons exemplos é a relação que tenho com as Colectividades do Concelho.
Sou sócio de sete colectividades populares. Claro que só me sinto verdadeiramente atraído, por duas delas, a SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada e a Sociedade Filarmónica Incrível Almadense.
Enquanto vivi nas Caldas nunca fui sócio de nenhuma Associação, desportiva, recreativa ou outra coisa qualquer.
Às vezes penso que fui influenciado pelo lado anarquista do meu pai, que sempre o afastou de clubes, partidos ou outros grupos colectivos. Gostava de pensar pela sua cabeça e de caminhar com os seus próprios pés...
Mas mais importante que a sua influência, foi o ambiente da cidade, muito pequeno-burguês, pouco dado aos orgulhos colectivistas que ainda hoje se vivem em Almada.
Quando descobri a Incrível Almadense - que está quase a fazer cento e sessenta anos -, fiquei encantado com o seu passado de luta e com tudo o que tinha dado a largos milhares de pessoas. E não resisti, fiz-me sócio.
A SCALA é uma história diferente, tem muito a ver com a minha paixão pelas artes e letras, e claro, com alguns amigos que tive o prazer de conhecer...
A sabedoria popular bem nos diz: «Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.»
Mas chateia-me pensar, que se vivesse nas Caldas, provavelmente, nem sequer seria sócio dos Bombeiros Voluntários da Cidade...

A fotografia que ilustra este texto é do começo do século XX e mostra-nos o Mercado das Caldas...

quinta-feira, outubro 04, 2007

Porque Hoje Ainda é Quatro de Outubro...

Às vezes ponho-me a pensar, como seria o nosso país, num regime monárquico.
Provavelmente não seria muito diferente daquilo que é hoje. Basta olharmos para o lado, onde existe uma monarquia tranquila e um reino mais desenvolvido que a nossa segunda república...
No entanto fico sempre com receio que fossemos um país mais desigual, com demasiados "condes", aqui e ali, a tentarem viver à sombra de qualquer "bananeira", daquelas que dão euros e não bananas...
Claro que a nossa nobreza, em 1910, estava de uma forma geral, falida. O poder económico era detido por uma burguesia emergente, cujas aspirações se prendiam com a atribuição de um "título" ou a compra de um daqueles brazões que contam histórias quase milenares.
Ainda hoje é assim, com os novos ricos, só que em vez de brazões, adquirem grandes vivendas, grandes carros, barcos, etc, quase sempre, mais para exibição, que para gozo pessoal.
Claro que existe uma grande ilusão em todas estas transformações sociais, porque os "condes" e os "barões", nunca deixaram de existir, mudaram foi de nome...

A República tem ainda outra vantagem, é retratada como uma mulher linda e justa, tal como esta do bonito óleo de Margarida Cepeda...