quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Uma Fotografia, Várias Histórias

Estava à procura de uma fotografia, quando encontrei várias imagens das Caldas da Rainha, já com uns anitos.
A que me chamou mais a atenção foi a que tirei ao interior do Salão do antigo Casino do Parque, mais tarde Casa da Cultura da Cidade.
Nota-se que é uma fotografia de Outono, com o chão forrado a folhas douradas, das árvores seculares do Parque D. Carlos I.
Ao olhar para a fotografia, além do ar desolador, que se nota em cada milimetro da imagem, fixei as banheiras enormes que por ali cirandavam, meio perdidas.
Só podiam ser as banheiras do Hospital Termal, onde na minha meninice, tomei bastantes banhos de imersão, porque faziam bem à saúde. Aqueles banhos eram (e se calhar ainda são...) quase como as pomadas de "banha da cobra", vendidas nos mercados, faziam bem a quase tudo. A sua terapêutica recomendava-se para as doenças de pele, doenças respiratórias, entre outras maleitas, com nomes mais técnicos.
Eu só tinha direito a estas "borlas" de imersão, porque a minha mãe foi durante largos anos funcionária do Centro Hospital de Caldas da Rainha...
Não sei se as coisas estão iguais por aqueles lados, se as "ruínas" apresentam o mesmo ar desolador. Calculo que sim.
Nem sei como consegui tirar a fotografia, pois hoje existe um "muro", que esconde esta vergonha (os muros escondem quase sempre vergonhas...) e o desaproveitamento de um edifício histórico, que guarda tantas histórias, dentro da própria história da então vila termal, entre os finais do século XIX e a primeira metade do século XX...

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Rugas...

Gosto de rugas.
Daquelas rugas que significam vida, que são o mapa de uma caminhada desigual pela estrada, que nos trás e nos leva daqui...
Claro que não tenho nada contra as pessoas que disfarçam ou tentam esconder as rugas. Nem tão pouco percebo porque continua a existir uma dualidade tão grande nos critérios estéticos definidos pela sociedade, entre homens e mulheres. Embora as coisas comecem a mudar (a barriga dos homens por exemplo está a começar a deixar de ser sexy...), a mulher perde com mais facilidade a batalha da beleza, porque lhe exigem que esteja sempre apresentável. É por isso que é uma maior cliente dos cremes de beleza, das operações estéticas e de outros truques usados. E claro, não podemos esquecer a questão económica, pois há cada vez mais gente a viver deste negócio da "beleza"...
Mas não gosto dos exageros. Tal como não gosto de mulheres de bigode, também não gosto dos quadros de pintura ambulantes, que circulam aqui e ali...
Gostava das rugas da minha avó, tal como gosto das rugas da minha mãe...
Mas não escondo que há aqui, neste ponto de vista, ares sexistas ou até machistas. Não me lembro de olhar para as rugas do meu avô ou do meu pai, da mesma forma que olhava para as da avó e olho as da mãe. Embora existissem, não dava por elas...
A única coisa que sei, é que gosto de rugas...
A fotografia é de Augusto Rocha Soares.

sábado, fevereiro 16, 2008

Claro, a Maria Callas...

Esqueci-me da Maria Callas, Alice...
Chamam-lhe a voz do século (XX). E têm razão...
É a voz mais perturbante que já ouvi. Consegue entrar dentro de nós, tal é a intensidade vocal das suas interpretações.
Nunca superou a separação do grego Aristotle Onassis, que a trocou por Jackie Kennedy.
Um dia disse: «A felicidade não é o meu mundo. Há pessoas que nasceram para ser felizes e outras que nasceram para ser infelizes. Eu, simplesmente, não tive sorte.»

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Bailes Longe da Paróquia...

Nunca fui grande frequentador de bailes, até porque na minha adolescência, as discotecas já começavam a ganhar aos pontos aos espaços dançantes aos pares. A "Green Hill", o "Ferro Velho", o "O Inferno da Azenha" (tinha escrito Azenha do Inferno, mas não me soou tão bem...) e outra discoteca na Foz do Arelho, um pouco antes do "Facho", que teve tantos nomes, que não me lembro de nenhum em especial...

Antes desta fase apareceram as primeiras festas particulares, de aniversário ou apenas festas dançantes, especializadas em músicas lentas, onde tive os primeiros contactos com as curvas das miúdas e aprendi a dançar as "valsas lentas" com namoradas ou simples amigas, que também aproveitavam estes jogos para a longa e complexa aprendizagem do amor...
As músicas? Pois... nestas valsas lentas, raramente faltava o clandestino "Je T'Aime Moi Nou Plus", de Serge Gainsbourg e Jane Birkin.
Mas a grande descoberta da minha adolescência foram, sem qualquer dúvida, os "Pink Floyd", com todas aquelas viagens quase cósmicas, sem a ajuda de qualquer tipo de droga, leve ou pesada, que ainda hoje gosto de ouvir...
Depois havia uma longa lista, de músicas e músicos...
Mas agora prefiro referir apenas os de cá, os especiais que sempre gostei, desde a adolescência. O Sérgio Godinho, o Zeca Afonso, o Fausto e o Vitorino. Não me lembro de uma voz feminina portuguesa que me tocasse...
Na minha adolescência ainda não havia Rui Veloso, mas já havia rock português. Lembro-me de ter assistido a concertos dos "Tantra", "Arte & Ofício", "Ferro e Fogo" e até dos UHF, a primeira banda rock, que ouvi cantar em português, acho que em 1978, numa passagem de ano, realizada no ginásio da Escola Rafael Bordalo Pinheiro.
Não, não gostava de fado. Na época era proibido aos adolescentes da minha geração gostarem de fado...
Obrigado Maria e Sininho, por me fazerem recordar estas e outras músicas...
A imagem que ilustra este texto é do álbum histórico dos "Pink Floyd",
The Dark Side Of The Moon, de 1973...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Os Bibes Brancos da Primária

Todo este "rebuscamento" ao passado de Sócrates, fez com que me recordasse (num comentário que fiz sobre o tema na blogosfera) do tempo dos bibes brancos que usávamos na escola primária.

Não me lembro bem como funcionava toda esta história dos bibes, mas tenho impressão que os deixávamos na escola e que só eram utilizados na sala de aulas.

Não sei se os levávamos para o recreio. Mas se isso acontecia, deviam ficar bonitos...

E claro, na escola primária do Bairro da Ponte (em frente da estação da CP) ainda apanhei as separações por sexo. Havia um pequeno muro que fazia de fronteira, entre a escola das meninas (não sei porquê, mas elas sempre foram mais meninas que raparigas...) e a escola dos rapazes.

Só quando entrei para o ciclo preparatório, com o advento da Revolução, é que as turmas passaram a ser mistas...

A fotografia é de Eduardo Gageiro, do livro "Estas Crianças Aqui", de que é co-autor com Maria Rosa Colaço.


sexta-feira, fevereiro 01, 2008

O Meu Amigo Buiça

Durante o ciclo preparatório e o ensino secundário, nas Caldas, tive como companheiro de turma e amigo de mil e uma brincadeiras, João Buiça.

Recordo-me, que numa das vezes que visitei a sua casa, ele mostrou-me um jornal antigo, com algum orgulho. Tratava-se de um exemplar de "O Século" ou o "Diário de Notícias" (penso que era "O Século", mas não tenho a certeza...), de 2 de Fevereiro de 1908, em que era noticiado o regicídio de D. Carlos, Rei de Portugal.
Ele era nada mais nada menos que bisneto de Manuel Buiça, o autor do tiro fatal, de carabina, que atingiu sua alteza real.

Como devem calcular, com os meus onze, doze anos, adorei ouvir aquela história...

Em conversas posteriores vim a saber da perseguição que foram vitimas, durante bastante tempo, inclusive no Estado Novo. Os Buiça só se sentiram verdadeiramente livres, depois da Revolução de Abril.

Esta ilustração, onde se vê Manuel Buiça a disparar a carabina, foi publicada no jornal francês, "Le Petit Journal", após o Regicídio.