domingo, abril 27, 2008

Os Jardins da Família de Salir de Matos

Um dos motivos de orgulho da nossa família era o jardim da casa da avó, sempre muito bem cuidado pelo avô e tão elogiado pelas pessoas que passavam pela nossa rua, a caminho da igreja de Salir de Matos, com vontade de colher uma ou outra flor.

Os dotes do avô, felizmente tiveram continuidade.
O jardim da casa dos tios Zé e Lurdes, é um mimo de se ver, cheirar e sentir, tal é a variedade de flores e plantas, ao qual nem falta um pequeno lago, com peixes e rãs, que são o encanto dos mais pequenos...

Este jardim não é tão apreciado como o do avô, apenas por estar mais resguardado dos olhares públicos, que o da velha casa da avó...

sexta-feira, abril 25, 2008

A Minha Pequena Revolução

«Apesar de ter apenas onze anos, recordo-me bem do dia 25 de Abril de 1974, «inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio», como tão bem retratou, a nossa Sophia de Melo Breyner Andresen.
Como vivia nas Caldas da Rainha, uma cidade de província notoriamente conservadora, não se sentiram grandes ecos revolucionários, pelo menos até ao fim da tarde.
Penso mesmo que a cidade viveu este dia de uma forma apreensiva, até porque um mês e alguns dias antes, os militares do RI 5 tinham saído do Quartel em direcção a Lisboa, para participar numa outra Revolução, que tinha entretanto sido adiada...
A censura tentou, e conseguiu, que o 16 de Março fosse tratado de uma forma ligeira, sem merecer grande destaque nos jornais, na rádio e televisão. O saldo desta tentativa de revolta, saldou-se pela prisão e destacamento dos militares envolvidos, para evitar males maiores.
Como é óbvio, a Cidade teve conhecimento do caso, embora a maior parte das pessoas não soubessem ao certo o que tinha acontecido. Não me lembro de ter sido tema de conversa em casa. Como eu e o meu irmão ainda éramos menores, os meus pais não falavam destas coisas à nossa frente. Mas na Escola Preparatória Rafael Bordalo Pinheiro, onde estudava, esta rebelião foi bastante falada, e até ficcionada, pela imaginação fértil das crianças de onze e doze anos, que nutrem um fascínio especial por histórias de “guerra”, entre os bons e os maus.
Um dos meus melhores amigos, filho de um militante do PCP, facto que desconhecia na época, contou-me, quase como se fosse um segredo de estado, que o pai tinha estado nesse dia com alguns amigos, a observar à distância as movimentações dentro e fora do Quartel. Munido de binóculos assistiu à saída e entrada de viaturas militares, assim como das forças da autoridade.
Felizmente, quarenta dias depois, a Revolução saiu mesmo à rua.
Militares vindos de várias regiões do país invadiram a Capital e ocuparam os lugares estratégicos da cidade. As dúvidas iniciais dos “Capitães de Abril” transformaram-se em certezas, graças ao apoio popular de milhares de pessoas, que surgiram de todos os lados, de uma forma completamente expontânea, para dar vivas à Revolução e à Liberdade.
Enquanto a multidão invadia a baixa e deixava o Largo do Chiado em estado de sitio, eu brincava no quintal da minha casa, satisfeito pelo “feriado” escolar inesperado. Assistia serenamente à troca de informações entre a mãe e uma vizinha, que não tiravam os ouvidos do rádio, que dava conta dos últimos desenvolvimentos (nessa altura já tínhamos televisão, mas as emissões deviam ter sido interrompidas, pois só me recordo da transmissão das notícias radiofónicas...) da Revolução.
O ponto alto desse dia acabou por ser a rendição de Marcelo Caetano e de todo o governo. Era o sinal mais da vitória dos Militares de Abril.
A minha mãe ficou bastante dividida nesse final de tarde, porque era uma das muitas espectadoras atentas às “Conversas em Família” do Marcelo Caetano, por quem tinha uma grande admiração, considerando-o um bom governante e um homem sério.
O meu pai, de espírito mais libertário, ficou bastante satisfeito com este desfecho. Acreditou firmemente na possibilidade de Portugal se tornar um país mais justo, tal como milhões de portugueses...
Uma das coisas que mais o chocava eram os constantes abusos de autoridade, praticados por quem detinha qualquer poder. Qualquer soldadeco da GNR ou agente de terceira da PSP, procedia como se fosse dono deste, ou de qualquer outro mundo. O pai tratava-os por “pançudos” e realmente, nessa época, eles eram todos bem anafados...
Como devem calcular, mais chocado ficava, quando sabia que alguém tinha sido preso ou interrogado, pelo simples facto de defender um Portugal mais livre e democrático.
Acabo como comecei, com as palavras de Sophia. Tenho algumas dúvidas que «esta é a madrugada que eu esperava», porque trinta e três anos não foram suficientes para nos termos tornado um país mais justo e igualitário. Claro que «livres habitamos a substância do tempo»... e a Liberdade continua a ser a herança mais preciosa da Revolução de Abril.»


Esta é a minha crónica, que consta no livro "25 Olhares de Abril", coordenado por Carlos Garrido (apresentado no próximo dia 29 de Abril, na livraria "CIrculo de Letras", em Lisboa), que me pediu para lhe contar como tinha sido o meu 25 de Abril, em 1974. Claro que é um olhar sem profundidade e sem mágoa, de alguém com onze anos, que pouco ou nada sentiu, os reflexos do salazarismo ou marcelismo. Limitou-se a ouvir falar. Mas o dia, foi assim...

quarta-feira, abril 23, 2008

Não Um, Mas Dez Livros Especiais...


(Continuação do "Largo da Memória"...)

Mais tarde ainda, antes de me cruzar com José Cardoso Pires no “Ribadouro” (e com o Fernando Lopes que adaptou o romance ao cinema, só podia ser ele...), li o “Delfim” e percebi um pouco melhor como se vivia antes de 1974, onde havia gente ligada ao regime, que era quase dona do mundo português...
Pelo meio fui transportado para a Margem Sul, onde conheço os “Bonecos de Luz” (novamente o cinema...) de Romeu Correia, que também se torna um amigo especial, e me apresenta Almada, de uma forma fascinante.
Desço um pouco mais para Sul e aparece-me, de mão beijada, “O Fogo e as Cinzas”, de Manuel da Fonseca, que me oferece um olhar especial sobre o Alentejo...
Já homem grande, ainda me consegui enternecer com a beleza das palavras de Luís Sepúlveda, em “O Velho que Lia Romances de Amor”...
O curioso em todas estas leituras, é a compulsão que sinto em ler, quase de seguida, toda a obra dos escritores que descubro e amo as palavras.
Bem... provavelmente, o melhor é ficar por aqui, tentar “desligar” a memória, antes que me apareçam mais livros e autores, a pedirem umas palavras, a recordarem-me o prazer com que li as suas “vidas de papel”...



Este texto tem dedicatória... é dedicado a uma senhora que talvez goste mais de livros que de gatos, a Isabel Castanheira, que me pediu um texto sobre um Livro da minha vida e recebeu mais nove...

terça-feira, abril 22, 2008

Dia da Terra

O meu avô dizia-nos, a mim e ao meu irmão, que era da Terra que nasciam todas as coisas...
Gostava de encher as mãos daquela terra castanha dos campos e deixá-la cair, por entre os dedos.
Nós olhávamos um para o outro e depois imitávamos o avô, com um sorriso nos lábios, a ver a como a Terra nos escapava das mãos...
Fico muito feliz por saber e sentir, que os meus filhos amam a Terra, em toda a sua plenitude. Gostam de brincar, de se sujarem na Terra, de tentarem perceber a origem das pequenas coisas...
Esta bonita paisagem, "Pombeiro", é da autoria de Alfredo Keil.

sábado, abril 19, 2008

Andar Perdido Dentro de Campo...

A nossa memória é tão selectiva... e recorda-nos coisas tão estranhas.
Foi o que aconteceu esta manhã, quando me recordei da coisa mais estranha que aconteceu, na minha curta carreira de futebolista...
Jogávamos em casa, no velho Campo da Mata contra um adversário que não recordo. Estava sentado calmamente no banco de suplentes, naquela que era a minha primeira época de juvenil, quando o treinador (qualquer coisa Reis...), olhou para mim e mandou-me aquecer para entrar no jogo...
Aqueci e depois a única indicação que recebi, foi: «vais marcar aquele gajo, vais andar sempre em cima dele e não o deixas tocar na bola.»
Entrei em campo e senti-me completamente perdido. A única referência que tinha no campo, era um jogador habilidoso e rápido, que tinha de perseguir e tirar-lhe a bola, se conseguisse... não tinha uma posição, um espaço.
Joguei pessimamente, completamente desenquadrado do jogo, andava ali, à procura de quase nada...
O treinador não falou comigo depois do jogo, mas percebi que não tinha gostado da sua opção...
A esta distância, sei que nenhum treinador devia pregar uma partida destas a um rapaz de quinze, dezasseis anos, sem lhe ter explicado antes, o que era isso da marcação "homem a homem"...

terça-feira, abril 15, 2008

O Mercado de Santa Suzana

Esta bonita foto de Jorge Almeida Lima - que nos deixou excelentos registos fotográficos sobre a região das Caldas da Rainha - é de 1913 e retrata o Mercado de Santa Suzana, uma das aldeias do Concelho.

Este mercado merece um realce especial, por ter conseguido ultrapassar o milénio, sem interrupções, continuando a realizar-se mensalmente, acho que ao primeiro domingo de cada mês, e a ser um dos maiores, senão o maior, mercado do Concelho, mesmo com a atenção e vigilância apertada da ASAE nos dias de hoje...
Adenda:
Não quis alterar o texto, mas ele tem um grande equivoco (esclarecido pela minha mãe...). Ou seja, fiz confusão entre o Mercado de Santa Suzana e o de Santana. Este último é que continua a realizar-se todos os domingos e é um acontecimento local. Não sei se ainda se realiza algum mercado em Santa Susana, sei sim que tinha uma grande romaria (e raparigas giras), que cheguei a visitar com amigos...
O seu a seu dono...

terça-feira, abril 08, 2008

Abril-Abril

Abril, quando é mesmo Abril, trás sempre a chuva numa das "mãos".
É por isso que este mês tem tanto de bonito como de chato, pois nunca sabemos muito bem com que roupa vamos sair de casa, no dia seguinte...
E na actualidade as coisas conseguem ser ainda mais estranhas, já que conseguirmos ter as quatro estações, num só dia...
Não deixa de ser giro, todos gostarmos da chuva, ou seja, do espectáculo da chuva. É por isso que preferimos, quase sempre, a protecção dos alpendres ou as janelas... não gostamos muito de quando ela cai, mesmo por cima de nós. E da combinação Chuva-Vento, óptima para guerrear e destruir os chapéus de chuva menos resistentes, nem se fala...
Mas não é por isso que deixo de gostar de Abril...

O "Efeito das Nuvens" é de Alfredo Keil.

sexta-feira, abril 04, 2008

Passeios à Procura do Verão...

Quando o calor aparecia antes do tempo, como tem acontecido nesta semana, era certinho o meu grupo de amigos, do Bairro dos Arneiros, fazer uma "excursão" à Foz do Arelho...
Com as nossas bicicletas, lá íamos nós, a cortar o vento, tão delicioso, que se fazia sentir na velha estrada, cheia de árvores e de sombras, em correrias tontas até à nossa praia...
Felizmente ainda não existiam tantos carros, sentíamos que a estrada era quase só nossa...
Levávamos quase sempre uma bola de futebol, para aquecermos para o banho nas águas frias no Mar, selvagem e resmungador, como tanto gostávamos...
Claro que também dávamos as primeiras braçadas, na Lagoa, mas mágico, era o mergulho nas ondas do Mar...
Era óptima a sensação de que éramos os "donos" da praia...