domingo, julho 15, 2007

Há Muito


Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa


Estas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen, são muito apropriadas para este espaço, pelas saudades que tenho do areal e das grandes vagas da Foz do Arelho, tal como o óleo de Manuel Amado.

sábado, julho 14, 2007

Os Oleiros das Caldas

As Caldas foram durante o século XX um dos principais centros de indústria cerâmica portugueses. As suas fábricas albergaram a produção de uma grande variedade de loiça, quase sempre com um cunho artístico, graças à influência de vários artistas locais.
Infelizmente a "crise" nacional e a "chinesice" que tem invadido a Europa, conseguiram fechar as portas a casas emblemáticas como a Secla e colocar no desemprego, centenas de operários.

Em homenagem a todos os homens que desenvolveram e desenvolvem esta arte na minha cidade natal, ofereço-vos "Os Oleiros" de José Malhoa.

terça-feira, julho 10, 2007

A Primeira Equipa de Iniciados do Caldas

Desde muito cedo que soube que o futebol não seria o meu futuro. Mesmo assim jogava, sempre que me era possível os meus amigos de infância, porque adorava (e adoro...) este jogo. Ainda cheguei a fazer parte de algumas boas equipas de bairro, embora normalmente fosse o "tapa buracos" da equipa nos torneios de futebol em que entrávamos e costumávamos ganhar.
Quando alguns dos meus amigos revolveram ir tentar a sua sorte no Caldas - o clube mais emblemático da cidade -, que ia ter pela primeira vez iniciados (época 1977/78), resolvi aproveitar a boleia.
Não fui escolhido no primeiro treino de captação, pelo Américo, antigo jogador dos seniores e treinador dos juvenis. E já nem sequer pensava voltar ao campo da Mata, para voltar a tentar a minha sorte... mas o meu amigo Xico Mendes insistiu e lá fui (curiosamente ele é que acabou por desistir da ideia - e era um belíssimo guarda-redes -, assim como o Paulo Gaspar, outro grande amigo e colega de escola, que apenas voltou no ano seguinte. Também era bastante bom, ao ponto de ter chegado a jogar nos seniores do Caldas).
Nesse dia uma das pessoas que estava a escolher a miudagem era o treinador dos seniores, Mourinho Félix (pai de José Mourinho) que gostou do facto de eu não virar a cara à luta e chamou-me para o canto dos "eleitos". Como devem calcular, fiquei extremamente satisfeito por ser escolhido.

Apesar de não ser um predestinado, acabei por fazer toda a época como titular, a defesa central, fazendo dupla com o jogador mais talentoso e valioso da equipa, o Chagas, que chegou a internacional juvenil, com as cores do Sporting, onde fez dupla com o Venâncio. O Chagas acabou por ficar pelo caminho. Mas só não foi mais longe devido à sua baixa estatura (tinha pouco mais de um metro e sessenta, muito pouco para um central...) e não por falta de qualidade futebolística...

Desse tempo sobrou uma fotografia, em que curiosamente falta, aquele que se tornaria, duas décadas depois, na figura mais mediática daquela equipa simples, o José Mourinho, que nesse fim de semana não jogou...
Normalmente o nosso onze era composto pelos seguintes jogadores: Ginja; Ilídio, Chagas, Milheiro e Orlando; Chico, Fragoso, Zé Mourinho e Rui Pedro; Ramos e Paulo Jorge. O Vitor costumava entrar quase sempre, era avançado e a nossa arma secreta.
Vamos lá então às apresentações segundo a fotografia. Em baixo da esquerda para a direita estão: Vitor, Parrila, Rui Pedro, Chagas, Chico e Eu.
Em cima, pela mesma ordem: Santana (treinador) Paulo Jorge, Ilidio, Ramos, Fragoso, Manuel, Ginja, Orlando e Castanheira (Dirigente).
Não sei o que é feito da maior parte destes companheiros de infância. Como disse anteriormente, tirando o Chagas, ninguém foi muito longe como futebolísta. O José Mourinho tornou-se famoso como treinador, ao ponto de ser considerado um dos melhores do mundo. Outro elemento que também saiu da mediania, mas noutra actividade, foi o José Fragoso, que hoje é o director da TSF.

quinta-feira, julho 05, 2007

Os Banhos de Rio

Agora que o calor começou a apertar, recordei-me de outra das nossas aventuras da meninice em Salir de Matos, os banhos no rio que passava na aldeia.
O lugar escolhido para o banho era praticamente debaixo da ponte, quase na fronteira entre Salir de Matos e Casais da Ponte, onde se formava um pequena represa, sempre com água, mesmo no pico do Verão. Os mais pequenotes como eu, até perdiam o pé, no meio daquela quase piscina natural.
Escusado será dizer que era proibido tomar banho de calções de banho. E quem não tirasse os calções era maricas...

O óleo que ilustra este texto é de Carl Larsson...

terça-feira, julho 03, 2007

Um Exemplo de Honestidade

O meu avô materno, além de excelente contador de histórias, foi uma das pessoas mais honestas que conheci.
Era incapaz de tocar em algo que não lhe pertencesse ou de enganar alguém.
Quando era feitor numa das muitas quintas que rodeavam as Caldas da Rainha, extremamente rica em árvores de fruta, era de tal forma zeloso, que não era capaz de apanhar uma peça de fruta caída no chão.
Habituei-me a escutar nas conversas de família, inúmeros exemplos desta postura, mas a que acho mais deliciosa, passou-se quando a minha mãe, ainda criança, percorria com a avó a zona das árvores de fruta e iam apanhando algumas peças caídas no chão. O avô assim que as viu, chamou-lhes gulosas e com um gesto de reprovação, perguntou-lhes se não sabiam que aquilo não lhes pertencia. Escusado será dizer que elas não lhe ligaram. Foi com esta postura que o avô nunca enriqueceu demasiado. Foi comprando algumas courelas, aqui e ali, com grandes sacrifícios e fruto do seu trabalho e da família numerosa.
Nesta altura não existiam empréstimos bancários e os contratos eram selados apenas com a palavra e com dinheiro vivo.
Gostava de o ter visto, garboso, a cavalo, percorrendo a quinta e os caminhos entre Caldas da Rainha e Salir de Matos...

Escolhi esta aguarela de Renato Guttuso, "Campieri", para homenagear o meu avô, Manuel Joaquim Saloio...