sábado, setembro 29, 2007

Figuras Públicas

Estava no meio de uma conversa com "os meus botões" (adoro esta expressão, e se falo com estes companheiros...), quando, apanhei no ar duas palavras que escaparam do diálogo entre duas personagens secundárias, que atravessavam o rio, no mesmo cacilheiro que eu.
Não pude deixar de pensar no conceito que esta gente tem da "figura pública", nem tão pouco de continuar a viajar no tempo...
Tenho a certeza de que quando não havia televisão, nem se vendiam as revistas "cor de rosa foleiro", as pessoas não se tornavam "figuras públicas" por fazerem coisas absurdas e insignificantes, como andar por aí de festa em festa, a comer rissóis e a tirar fotografias, com sorrisos e poses de actores de quarta categoria.
Recuei à minha infância e não foi difícil de concluir que quem deveria merecer esta designação era o barbeiro, o sapateiro, o merceeiro, a cabeleireira, o taxista, etc, esses sim, figuras eminentemente públicas, cuja existência se devia ao facto de servirem a comunidade e não de se servirem de nós...
Mas estamos numa época em que não se mudam apenas os tempos. Está tudo em transformação permanente.
Até os ventos já não são o que eram, estão cada vez mais rebeldes...

terça-feira, setembro 25, 2007

Lugares de Outono

Um dos lugares onde melhor se sente a chegada do Outono é na Mata das Caldas da Rainha.
Andar ou correr no meio de tantas folhas caídas, ao ponto de ficarmos com os pés cobertos do "ouro", com a "música" característica do pisar das folhas secas, é normal para quem passeia neste espaço...
E quando olhamos para cima, descobrimos a nudez das árvores, que nos olham quase envergonhadas...
No Parque a tristeza é disfarçada pelas árvores que não se rendem ao Outono e permanecem imponentes, o ano inteiro...

quinta-feira, setembro 20, 2007

A Salmoira

Estava a tirar alguns apontamentos históricos, quando descobri a palavra Salmoira. Esta palavra levou-me logo de viagem até Salir de Matos...
Voltei a entrar na casa da avó, a descer a escada ao lado do forno, a percorrer o corredor da adega e a parar, junto à arca de madeira, cheia de sal grosso. Sal que cobria a carne e o toucinho, guardados após a matança do porco.
Nessa altura ainda não havia frigorífico lá em casa, nem na maior parte das habitações da aldeia...
E a carne era toda conservada em salmoira...
Esta aguarela de Maria Valente representa muito bem qualquer aldeia da Estremadura, como Salir de Matos. E como me lembra a rua detrás, dos nossos pátios, que começava na casa da tia Utilde...

domingo, setembro 16, 2007

Partir à Procura de uma Vida Diferente


Um dos meus tios, foi um dos muitos portugueses que se aventuraram a salto, até França, nos anos sessenta.
Não o fez por razões políticas, muito menos para escapar da guerra colonial, que era um "terror" para quase todos os jovens do nosso país...
Foi atrás do sonho de uma vida melhor, para ele e para os seus...
Na hora de partir, deixou muita coisa para trás, inclusive a esposa, grávida do primeiro filho...
A viagem da fronteira portuguesa até à fronteira francesa, durou catorze longos dias, com fome, frio, sede e muito medo de ser apanhado e preso.
Ele e os companheiros de fuga só descansaram quando chegaram a França, onde foram muito bem recebidos pelos locais das terras fronteiriças, que lhe deram comida e até guarida.
Hoje está por cá, mas não esquece o acolhimento que teve, no país que considera a sua segunda pátria. E se há coisa que não gosta, é de ouvir dizer mal de França e dos franceses, porque é um homem grato ao país que lhe deu a oportunidade de recomeçar uma nova vida.
Aconteceu-lhe o que acontece a tantos de nós. Partimos à procura de algo diferente, na esperança de encontramos a razão da nossa existência, e acabamos por adoptar segundas terras e segundos países...

sexta-feira, setembro 14, 2007

O Relógio do Tempo

Nas minhas férias campestres do começo de Setembro, nunca usei relógio e mesmo o telemóvel, estava quase sempre desligado, por falta de "rede"...
Mas no campo raramente nos perdemos no tempo, porque o sino da igreja da aldeia continua a replicar de hora a hora, com as badaladas necessárias e de meia em meia-hora, com apenas um toque.
Em Salir de Matos também é assim... o som ecoa por toda a freguesia, embora avise cada vez menos agricultores, porque, infelizmente, são uma espécie em vias de extinção...
Outra curiosidade matinal na aldeia era a visita do peixeiro, que começava por apitar, para de seguida, nos oferecer os fados da Amália, provavelmente ainda de cassete, enquanto visitava as ruas da localidade...

sábado, setembro 08, 2007

Sons e Saberes dos Campos


O ambiente campestre desperta-me sempre a atenção para as coisas pequenas, que normalmente nem sequer mereceriam uma linha, noutro lugar qualquer...
É por isso que...
Gostava de conhecer as aves pelo seu assobio,
uma linguagem demasiado bela e simbólica,
ou ainda pelo garrido das plumas
e pelo bater das suas asas...

Da mesma maneira que gostava de conhecer todas as plantas,
que crescem aqui e ali, ao Deus-dará (gosto desta expressão)...

A aguarela é de Ernest Duez...