Quando estava a ajudar o meu filho nos trabalhos escolares do Estudo do Meio, lembrei-me das minhas férias campestres em Salir de Matos.
Nessa época não existia qualquer tipo de educação ambiental.
Havia sim muito cuidado, especialmente pelas coisas que se semeavam. As searas eram algo quase sagrado. Não admira, era dali que vinha o pão para toda aquela gente...
O resto era de todos e não existiam cuidados especiais na sua preservação. Acho que havia a ideia de que a natureza se auto-regulava, com a nossa ajuda e de outros animais bravios.
Por exemplo os pássaros estavam longe de ser uma espécie protegida. Eram para caçar à fisga, com armadilhas ou ainda para lhes descobrir os ninhos e destrui-los. Os peixes a mesma coisa, eram para pescar à cana ou com camaroeiros improvisados nas ribeiras. As plantas selvagens não eram olhadas com o respeito com que se olhavam as semeadas, como se estas precisassem de cuidados especiais (e precisavam de facto...) para crescerem e se tornarem comestíveis.
Claro que havia um olhar de admiração e de respeito por tudo aquilo que significasse vida... mas acho que se alimentava a ideia de que as coisas selvagens, além de serem de todos eram inesgotáveis, como se tivessem qualquer protecção divina.
Felizmente passados alguns anos mudámos de ideias e de atitude, ao percebemos que havia várias espécies de animais e plantas em risco de desaparecerem, para todo o sempre...
Apesar de todas estas considerações, continuo a pensar que as pessoas do campo têm um apego e uma sensibilidade mais apurada em relação a tudo que nos rodeia. Conhecem muito melhor as leis da natureza e sabem o quanto é importante preservarmos o Mundo onde vivemos...
12 comentários:
Concordo, e na aldeia tudo vive numa harmonia natural.
Um abraço*
Quem nasceu e cresceu nos grandes meios urbanos nem sabe o que perdeu.
A propósito a esta hora está a ser apresentado no "Pópulos" um livro sobre Salir de Matos "Salir de Outrora" de Carlos Marques Querido.
Nasci em terra seca embora por baixo dela corra imensa água a caminho do Almonda e do Alviela, por isso nunca pesquei, quanto às fisgas e às armadilhas para caçar tordos nunca fizeram o meu género...sensibilidade de menina ;-)) mas tens toda a razão.
Pensávamos que o que existia e se repetia ciclicamente nunca se esgotaria...
No meu recuado tempo, tive de compôr um "herbário":
Um album onde se colavam raízes, caules, folhas, flores, sementes, ets, etc, de todas as espécies de plantas que conseguíssemos arranjar, incluindo as aquáticas.
Depos de sêcas, colavam-se nas folhas do album, com fita-cola e com a legenda descritiva, por baixo.
O que isso me ensinou a olhar para a natureza, a mim que sempre fui nada e criada na cidade...
Ainda hoje conservo essa "relíquia"...
Tens toda a razão, Luís.
E melhor seria se quem nos governa não se limitasse aos estudos dos senhores "encanudados" e que não conhecem as realidades e tivessem a preocupação de falar com quem conhece, de facto, as zonas que vão ser sujeitas a intervenção.
Ocorreu-me, com este teu post, a barbaridade que já foi feita e repetida na Lagoa da Foz, os assoreamentos, a aberta, o mar, etc., em que nenhum pescador da Lagoa foi ouvido. E o resultado, depois de remendado, é o que se vai vendo...
Pois vive Maria P....
Obrigado pela notícia. Eu sabia que tinha sido lançado no 10 de Junho em Salir de Matos, mas foi-me de todo impossivel de ir.
Vamos ver se o compro na 107, quando passar pela nossa cidade...
Pensávamos que o filão era inesgotável... mas mesmo com os avisos da natureza, não temos muito juizo, Rosa.
Eu já não fiz esses trabalhos didácticos, mas o meu irmão ainda andou a apanhar plantas para colar, Sininho.
Como tu bem dizes, o que se aprendia...
Tens toda a razão na tua observação. Olham para as pessoas como ignorantes, esquecidos da sua experiência de vida, coisa que não se aprende em nenhuma universidade...
Nem sabes o quanto é verdade tudo o que escreves. Temos tempo para escutar os pássaros , ouvir o vento, ver as plantas crescerem e escutar o som do silêncio...
Mas também temos tempo para abrir o livro de memórias e cecordar coisas boas...
bjos
fica bem
Ana Paula
E é tão bom escutar o silêncio, Ana Paula...
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