quarta-feira, maio 21, 2008

A Nossa Guerra

Deve haver muito pouca gente, que não tenha tido um familiar em África, a defender as nossas antigas colónias.
Eu tenho dois tios e dois primos, que estiveram em Angola, Moçambique e Guiné. Felizmente regressaram sem marcas visíveis desta passagem, próxima do "inferno"...
O mesmo não aconteceu a Mário Henriques, o primeiro mártir desta guerra estúpida, que conheci, amigo de infância dos meus tios de Salir de Matos.
Tinha apenas onze anos (pensava que tinha menos, mas o meu tio Zé disse-me que ele já faleceu depois da Revolução de Abril...), quando nos chegou a notícia da sua morte...
Toda a aldeia de Salir de Matos sentiu aquela morte, de uma forma profunda, por ser um meio pequeno e por toda a gente se conhecer. Os seus pais e a sua namorada, que passou por uma espécie de viuvez, foram quem sentiu mais esta perda...
Passados todos estes anos, ainda me lembro do seu sorriso, da sua alegria de viver, das suas brincadeiras, de andar às suas cavalitas...
O Mário é apenas um exemplo, entre muitos, dos milhares de jovens portugueses, que perderam a vida no Ultramar, nos anos sessenta e setenta, em defesa da pátria.

18 comentários:

Maria P. disse...

Sei sobre o que escreves, ouvi muitos relatos ao meu Pai que estive lá...

Beijos Luís M.

Anónimo disse...

triste e comovente...

Sonia

Oris disse...

Olha, Luís, as marcas invisíveis, ainda vão atormentando muitos dos que estiveram naquele "inferno".

Foram tempos muito difíceis para os jovens e para os familiares.

Beijitos

Maria disse...

"em defesa da pátria" é uma frase que dava pano para mangas, Luís.... mas era assim que se dizia na altura, era com essa ideia e firme convicção que iam para lá...
... mas os verdadeiros donos das empresas de diamantes, petróleo, algodão, cacau, café, etc. "safavam" os filhinhos de irem para lá.... esses é que iriam efectivamente defender o que era deles (seria?)....

Beijinho, Luís

com senso disse...

Acho muito, muito bom que para além de se falar da Guerra em abstracto, haja alguém de boa vontade que fale do concreto, das vidas desperdiçadas, do luto das famílias.
Esses jovens mortos na Guerra tinham nome e tinham rosto. Obrigado por os recordar.

LM,paris disse...

boa noite luis,
sim obrigda por dar a conhecer um rosto , um nome, um sorriso.
Nao me esqueço do amigo do meu irmao que là ficou.Em Paço d'Arcos sabiamos todos e ninguém falava.
Era tudo muito escondido, mal se falava das mortes, foi uma época terrivel.
Um abraço,lidia

Anónimo disse...

Caro Luís

Essa foi uma página triste da nossa história, não menos triste que a própria e discutível descolonização...um dos males da nossa sociedade é não saber quando deve parar e mudar, existem sempre tantos interesses alheios ao sentimento verdadeiro da mudança....tanta morte vã, tanta mãe que ainda hoje chora filhos, tantas mulheres que ainda hoje choram maridos, tantos filhos que ainda choram pais.....a história se repete sempre e homem não aprende...

Vitor

Maria disse...

Em azul, hoje?

Beijo

Luis Eme disse...

quase todos nós, sabemos, M. Maria Maio...

Luis Eme disse...

é verdade Sónia.

Luis Eme disse...

eu sei, Anoris...

Luis Eme disse...

pois dava, Maria, mas era a "cassete" do regime...

Luis Eme disse...

pois tinham, todos, Com Senso...

Luis Eme disse...

foi um tempo terrível para a juventude portuguesa, Lidia...

Luis Eme disse...

sem dúvida, Vitor.

erros atrás de erros... com as perdas que todos sabemos.

Luis Eme disse...

hoje a amanhã, Maria...

depois logo se vê...

Franky disse...

E as marcas desta guerra que ninguém vê? Aquelas feridas da alma, que acompanham estes homem por todos os anos da sua vida, que não partilham, que não dividem, que calam, e vivem em silêncio um drama que é só deles. Os "estilhaços" que eles carregam, vai atingindo as famílias e destruindo e desgastando ao longo dos anos tudo à sua volta. Quantos destes homens precisando de acompanhamento psicológico, foram abandonados à sua sorte e integrados à força numa sociedade que não os compreendia.

Luis Eme disse...

quantas pessoas sofreram e sofrem com estas marcas, Franky, além dos próprios...