Embora fosse demasiado pequeno na década de sessenta (a que me trouxe ao mundo...) e setenta, como tenho lido e conversado bastante sobre estes tempos, noto que em três, quatro anos, recuámos quase quatro décadas. Voltámos a ser um país sem rumo, perdido nas "europas"...
Não vou falar de causas (seria preciso o dia todo...), mas apenas de alguns efeitos.
Com o quase desaparecimento da classe média, a tal que é sempre difícil de configurar por acolher estratos sociais muito diferenciados (os que são quase ricos e os que deixaram de ser pobres...), desaparece quase tudo num país.
Voltámos ao país do final dos anos sessenta, princípio de setenta, em que havia apenas ricos (20%) e pobres (80%).
E isto é tão negativo... normalmente é a classe média que funciona como motor da economia e da sociedade.
Sim, não tenham dúvidas disto. Normalmente os ricos estão demasiado ocupados com os seus dinheiros e os pobres com a falta dele. Sobra a classe média, empreendedora e ambiciosa, para actuar como o principal veiculo do desenvolvimento e inovação de qualquer país.
Não sei porquê, mas acordei a pensar nisto...
Podemos recuar no tempo, ir ao "cavaquistão", ao "guterrismo", à "tanga-durão", ao"calimero-lopes", mas quem "matou" de vez a classe média foi o senhor, que de filósofo só tem o nome.
Em trinta e muitos anos de democracia nunca vi um governo proteger tanto o alto capitalismo, ao mesmo tempo que ia destruindo a classe média, enchendo-a de impostos e cortando-lhe a possibilidade de criar, de empreender, transformando os nossos sonhos em autênticos pesadelos...
Para terminar a sua epopeia, completamente oposta à do "robin dos bosques", ainda teve o descaramento de financiar um banco privado, que funcionava com direito reservado, aberto apenas a quem tinha dinheiro e poder.
Sei que ainda é cedo para se fazer história. Resta a esperança de que o tempo faça justiça a esta gente mal formada, que continua a confundir interesses pessoais com nacionais.
Este óleo é de Salvador Dali, a "Invenção dos Monstros"...
12 comentários:
O Soares colocou o socialismo na gaveta, o Sócrates foi lá buscá-lo e botou-o no lixo.
Temos é que "chocalhar" o povo e acordá-lo, pois é preciso uma política alternativa, e as eleições estão quase à porta...
Beijinho, Luís
(não, nao quero ir para o poder...)
:)
Excelente texto Luis!
É preciso que as pessoas acordem!
um bjo
Gostei deste "dedo na ferida". Excelente!
O que é uma sociedade sem classe média? O seu estrangulamento condiciona tudo o resto, sem dúvida. E a nossa tem sido barbaramente estrangulada!
Beijos, Luís
Caro Luís
Estamos a viver em conflito com o tempo..as revoluções sucedem-se e somam-se nos tempos...a tempestade e os dias de bonança que se seguem....o choro e o sono da criança...O ser humano está com preguiça, o ser humano que enriquecer depressa...já não se planta um sobreiro, mas sim um eucalipto... de um modo geral a nossa avidez desenfreada tem causas no desiquilibrio em que vivemos..a classe média existe devido ao equilibrio sustentado...Tal como Antonieta passeava nos jardins de Versalhes alheia às convulsões, os nossos governantes passeiam-se surdos, mudos, insensíveis e sempre preocupados com o seu umbigo...
Obrigado
Vitor Pires
acho que foi mais ou menos assim, Vera...
e como é que vamos chocalhar esta gente, cada vez mais perdida, Maria?
pois é, mas como, Velas?
um dedo insuficiente, Cristina...
temos sido tão mal governados, Lúcia...
o 25 de Abril trouxe a esperança, mas também um mar de oportunistas que se têm governado à grande nos últimos trinta anos.
há de facto um grande desiquilibrio na nossa sociedade (crescente), Vitor.
pior que isso, só mesmo o autismo e as habituais "meias-verdades" de quem nos governa...
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