Estava a conversar com amigo, sobre este triste país antes de Abril. Embora sejamos da mesma geração, crescemos em sítios diferentes. Eu no Litoral, ele no Interior.
Ambos sabemos que a diferença entre a proximidade do mar e o distanciamento sempre existiu, não é coisa dos nossos tempos...
Mas o que nos uniu na conversa foi o facto de a maior parte das aldeias do interior não terem electricidade. Recordei a aldeia dos meus avós paternos, onde a única televisão que existia era a do também único café, movida por um gerador ensurdecedor. Ele recordou outras onde nem gerador existia...
Nós quando somos pequenos adaptamos-nos a tudo e não achamos as coisas estranhas. Eu por exemplo, vivia na cidade, numa casa normal, sem luxos mas com tudo o que deveríamos ter direito. E nunca estranhava ir para a casa dos meus avós maternos, onde passávamos parte das férias, dormir por exemplo num colchão cheio de folhas secas de milho. Até gostava de saltar em cima dele e ver como ficava deformado... Embora já tivéssemos electricidade (nunca me lembro da casa dos meus avós sem luz eléctrica... fomos mesmo dos primeiros de Salir de Matos a ter a instalação eléctrica, graças ao meu tio electricista), visitava algumas casas que apenas eram iluminadas a candeeiro de petróleo, daqueles de vidro, e a candeias de azeite.
Consigo ver todos à volta da mesa, na casa dos Antunes, a jantarem, com os rostos cheios de sombras do reflexo do candeeiro. Na altura achava aquilo exótico...
E sem luz não existiam frigoríficos, haviam sim as arcas de salmoura, onde se conservava a carne com sal grosso. Até o peixe era salgado (detestava os carapaus salgados, que só via pendurados na cozinha da avó)...
Foi Abril que trouxe a electricidade a quase todas as aldeias do país, assim como estradas, mais ou menos decentes.
Pensar que há por aí, quem queira o regresso de "Salazar".
A ignorância sempre foi e será, muito atrevida...
16 comentários:
Muito mais do que atrevida, Luís. É a mãe de todos os males no Mundo.
Beijinho.
quem se atreveria a pensar...
hoje, viver sem electricidade, é de todo impensável!
bem me lembro da casa da minha avó, também sem frigorífico, nem água canalizada, aprincípio, em caldas, no centro!
beijinhos
vamos reocupar
O regime do Estado Novo era iníquo porque cerceava a liberdade dos cidadãos e os seus direitos mais elementares. Fazer a crítica desse regime com factos que não decorriam da sua acção é estúpido e perigoso, porque por comparação poder-se-ia dizer que regimes ditatoriais e autoritários eram bons porque trouxeram progresso material aos seus povos, como foi o caso da Alemanha e da Itália.
Portugal é um país pobre e com fracos recursos, independentemente do regime que nos governa. O Estado Novo foi notável na obra pública que executou e isso não o faz melhor. Foi a época das grandes barragens e centrais hidroeléctricas. Fez uma notável rede de estradas onde não havia nada, construiu das nossas melhores e mais modernas pontes. A rede ferroviária funcionava em pleno, hoje temos estações ao abandono. Abril pôs electricidade e água no interior do país à custa dos dinheiros do plano alemão e americano e depois com os fundos europeus. Nada disso existia no Estado Novo.
O Estado Novo era um mau regime, mas não pelos factos que aponta. Porque por aí e por comparação, pode ter surpresas pouco abonatórios para o regime posterior. A emigração atingiu nos anos sessenta níveis enormes e hoje para lá caminhamos…Há que criticar racionalmente e sem comparações patetas e demagógicas. Esta, a demagogia, a par da ignorância, é de um atrevimento sempre perigoso.
Olha, um tipo a querer branquear o Salazarismo. Isto há cada uma.
Dos 48 anos do fascismo só os primeiros 12 tiveram algum préstimo. A partir da 2ª Guerra Mundial foi uma miséria, uma pobreza, só não vê quem não quer.
E isso não tem nada a ver com os nossos recursos mas sim com a orientação política rural de Salazar. Ele gostava de governar ignorantes e pobres, porque eram mais domesticáveis.
Ele sabia a cartilha toda.
Sebastião
O Salazar fez-nos muito mal de facto.
Ainda estamos a pagar a factura da sua governação. Parte da falta de empreenderismo que existe, deve-se ao paternalismo com que governou Portugal.
Como é se pode falar nas nossas estradas antes de Abril, dizendo que são boas? bastava ir a Espanha e ver as suas vias...
Caro anónimo e Pedro Sales,
Onde é que no meu comentário leram qualquer tentativa de branquear o salazarismo?
O que não gosto de ver é a artilharia apontada a falsos alvos, porque podem ferir as nossas tropas. Criticar o salazarismo por causa da falta de luz nas aldeias ou da falta de autoestradas é menosprezar o que de mais odioso efectivamente houve no Salazarismo (não foram as obras públicas). E isso é que me parece branqueamento.
O melhor meio de atacar o inimigo é conhecê-lo bem. Quem afinal é que tem medo que se estude a sério o que foi o salazarismo?
não, nós é que nem sempre lhe damos o melhor uso, Maria...
é verdade, Gaivota, impensável...
reocupa, então.
Xico, não sei que critica tão forte faço ao Estado Novo, para merecer uma quase lição de história (mal dada, diga-se de passagem).
apenas faço uma referência final, aos saudosistas.
em relação ao Salazarismo, muito haveria que contar, sobre o atavismo, a ignorãncia e pobreza (especialmente a de espírito) que grassaram no seu tempo.
do que valem as obras de fachada, se a maior parte da população vivia em situação miserável?
em relação às estradas, nem vale a pena falar. muitas das secundárias nem sequer eram de alcatrão. as restantes eram estreitas e morosas. qualquer viagem mais longa demorava quase um dia inteiro.
e os comboios, são coisa do século XIX, do Fontes Pereira de Melo...
era bom que o que diz fosse verdade, mas...
o tema era a a electricidade, Sebastião, e não o Salazarismo...
se fez, Pedro...
Xico, gostava de saber quais são as comparações que faço, patéticas e demagógicas.
fiquei curioso.
Caro Luís Eme
Qualquer crítica que faça ao Estado Novo nunca será suficientemente forte para demonstrar o mal nele implícito. Peço desculpa se o tresli e nunca foi minha intenção dar-lhe lições de história porque para isso não estou habilitado.
Um dos grandes males do estado novo, e houveram muitos, foi que quem não era por ele era contra ele. O mesmo mal parece que se passou aqui.
Nunca disse que o estado novo construíra a rede ferroviária, disse tão só que funcionava em pleno e hoje não.
O ataque aos nossos inimigos, para ser eficaz, deve reconhecer-lhe não só os defeitos mas também as virtudes. E quando falamos de obras públicas, porque foi disso que falou quando se referiu às infraestruturas eléctricas e às estradas, não se pode deixar de reconhecer o papel do estado novo nesse aspecto que foi positivo por muito que nos custe dizê-lo. Foi uma das épocas de ouro da engenharia portuguesa. O LNEC atingiu um prestígio considerável internacionalmente e foi importantíssimo na execução das nossas barragens hidroeléctricas, e hoje é com a amargura na alma que o vejo definhar-se. O papel de Duarte Pacheco em Lisboa nunca mais foi ultrapassado nem comparável. E a obra do engº Edgar Cardoso é a todos os níveis notável, na construção de uma rede rodoviária que era inexistente.
E aqui chegamos às comparações patéticas e demagógicas, e mais uma vez lhe peço desculpa se me excedi nas palavras. Mas limitar a comparação entre o regime do estado novo com o que Abril nos trouxe, através da electricidade nas aldeias e do estado das estradas, é redutor e perigoso porque as comparações nesse aspecto podem fazer as pessoas pensar que no outro tempo era melhor, porque o desenvolvimento das infraestruturas do país deveu-se à ajuda internacional. O que não podemos esquecer foi o papel fundamental do poder autárquico, esse sim, uma grande conquista de Abril que tanto tem sido vilipendiada nos últimos tempos.
O horror ao estado novo não se pode medir pelas obras públicas mas pelas obras do exercício democrático e do pensamento.
Tenha um bom carnaval, pois que o direito à alegria foi também uma conquista de Abril.
eu não tenho horror ao Estado Novo, Xico. foi uma realidade nefasta para o país, como tantas outras, infelizmente, da nossa história.
foquei apenas um aspecto, o da falta de electricidade nos meios mais pequenos, que com uma outra politica poderia ter chegado mais cedo a praticamente todo o país.
em relação ao que fala, é preciso acrescentar que o eng. Duarte Pacheco faleceu no começo da década de quarenta do século passado, de acidente rodovário, e a ditadura duram mais trinta e quatro penosos anos...
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