Peniche foi palco de uma das fugas mais espectaculares de resistentes antifascistas, das prisões políticas salazaristas, há precisamente 46 anos.
Os comunistas estudaram durante anos uma maneira de libertar o seu secretário geral, Álvaro Cunhal, preso em 1949, encarcerado numa cela solitária da Fortaleza de Peniche, sem êxito.
No final dos anos cinquenta a PIDE tinha conseguido prender alguns dos dirigentes mais importantes do partido na época, provocando uma crise sem limites no seio dos comunistas.
Esta crise fez com que se começasse a preparar um plano de fuga, naquela que era tida como a prisão mais segura do Estado Novo. Claro que este plano só poderia ser bem sucedido com o apoio de algum guarda da fortaleza. Depois de um "namoro" paciente conseguiram acenar com bastante dinheiro e cativar o guarda José Alves, que os ajudaria na fuga que teve lugar no princípio da noite de 3 de Janeiro de 1960.
Nesta fuga heróica, além de Álvaro Cunhal, foram também libertados: Carlos Costa, Costa Carvalho, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho.
No exterior contaram com o apoio dos dirigentes Octávio Pato, Dias Lourenço, Pires Jorge e Rui Perdigão, além dos médicos Orlando Ramos e Carlos Plácido, que foram os condutores de serviço do Cadillac e do Dodge, que quase ganharam asas nesta noite inesquecível para a resistência comunista.
O desenho que ilustra este texto é da autoria de Margarida Tengarrinha, viúva do escultor Dias Coelho, assassinado de uma forma cobarde pela PIDE.
13 comentários:
É sempre bom relembrar estas coisas porque há muita gente com memória curta
Agora sim fiquei arrepiadinha.
Luís, haveria tanto para dizer sobre a história desta fuga, sobre a luta da resistência, sobre o papel dos comunistas no tempo do fascismo, que naturalmente nenhum blog comporta.
Apenas de forma resumida.
Mas esse papel cabe à História.
A nós, cumpre-nos ensinar os nossos filhos e netos sobre tudo isto, tudo o que foi O ANTES para que percebam por que foi O DEPOIS... é que entretanto HOUVE o 25 de Abril...
Pois é Zé, são páginas da nossa história que não devem ser esquecidas.
Concordo contigo Maria, até porque Peniche não foi só uma vila piscatória. Ainda bem que existe um nucleo museológico na Fortaleza, que ajuda a não esquecermos o regime salazarista.
Os teus amigos comunistas da câmara de Almada devem ficar satisfeitos com este texto, Luís (estou a brincar...).
Embora estejas a brincar, é sempre bom dizer que este texto não tem apenas a ver com comunistas, mas sim com todos os democratas, que ficaram satisfeitos com esta fuga. Houve muita gente que brindou à liberdade destes dez resistentes e fez um manguito ao Salazar, que também perdeu algumas paradas durante o seu longo reinado.
Curioso como alguns de nós se lembraram de falar agora sobre a resistência à ditadura de Salazar. Este teu relato é óptimo para percebermos bem o que se passou nessa noite em Peniche . Um abraço
Não deixa de ser curioso, Zé do Carmo, percebermos que se passavam coisas esquisitas no nosso país, pelos silêncios, pelas coisas que escondidas, pelos olhares cúmplices, e claro, também por sermos testemunhas de coisas completamente absurdas, como a prisão de amigos e vizinhos, sem culpa formada...
A interacção da blogosfera tem muitas coisas boas, Ana.
Uma delas é a possibilidade de viajarmos no tempo, recordando coisas que estavam esquecidas nos cantos da nossa memória...
Ola Luis, é muito bom divulgares historias que a maioria das pesoas desconhece ...:(((
Beijoca*
É sim senhor, Cor do Mar...
O mais curioso, é que o meu avô paterno esteve preso em Peniche na década de cinquenta (penso que na primeira metade...), onde descobriu pela primeira que existia um comunista chamado Álvaro Cunhal, escondido até da comunidade prisional. Como deves calcular nunca foi uma tema muito falado, até porque o meu avô foi preso como contrabandista e não como político.
Nunca ninguém da minha família percebeu porque razão, é que ele foi parar à fortaleza de Peniche, por ser um presídio político...
É bom que estes factos sejam lembrados!
Claro que é, Rosa dos Ventos...
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