Um dia destes percorri o caminho que fazia diariamente, para a escola primária, de regresso a casa, entre o Bairro da Ponte e o Bairro dos Arneiros ...
Consegui encontrar os amigos que me acompanhavam, sempre com mil e uma brincadeira, em ambas as direcções, numa estrada ainda pouco perigosa, com muito mais bicicletas e motorizadas que carros...
Tanto espaço aberto, hoje ocupado por urbanizações...
Desapareceram as áreas verdes (pinhais e hortas) que cercavam o bairro, a estrada única de entrada deu lugar a outras passagens e até a uma ponte sobre a Linha do Oeste, que quase apagou a antiga passagem de nível.
A velha casa do Zenário (penso que é assim que se escreve...) e os mil e um anexos que a rodeavam foram substituídos por apartamentos...
Já no meu bairro, parei na rua detrás, junto da escola primária, que vi construir. Olhei os desaparecidos campos de terra escura, onde corri quilómetros atrás das bolas que apareciam, sempre pela equipa da rua do meio (a rua 26, que é agora a rua do Compromisso...).
Olhei os prédios em frente da escola e puxei pela memória, à procura dos moradores da minha geração. Apareceram o Fernando, o Pedro e os irmãos, o João e o Hilário, a Luísa... quem também não perdeu a oportunidade de aparecer foi a impagável leiteira - que distribuía o leite e o "jornal" porta a porta - e o marido claro, muito pequeno e magro, uma autêntica caricatura ambulante.
Senti-me quase prisioneiro naquela selva, porque os Campos agora são de cimento...
A fotografia não tem muita qualidade mas retrata os primeiros tempos do Bairro dos Arneiros, nos anos cinquenta, com a casa do Zenário, logo à sua entrada...
35 comentários:
Não conheço ninguém que mencionas.
Nem idéia sequer da fotografia...
Só me lembro da Rua do Compromisso.....
Beijinho
Caro
Recordo aquela casa e uma outra do lado oposto da estrada e que nao se ve na foto (casa da Herminia )Esses eram os tempos em que era irreal sonhar com o que hoje preenche aquele espaco...mas a realidade estah ali e o dia de amanha serah para recuar ainda mais no tempo a simples casa quadrada dos mil anexos. O bairro dos operarios!
Viver assim com tantas recordacoes eh como viver num mundo paralelo. Admiro as pessoas capazes de registarem os infimos pormenores dos tempos idos, os locais, as gentes, os costumes, os paladares, os cheiros...manter vivas essas memorias eh viver duplamente uma vida que se acha sempre curta. Por vezes penso que essas memorias sao o sorriso que levamos de partida deste mundo.
vitor
Uma coisa curiosa na minha vida é que quando fui morar sozinha comprei casa ao pé da minha escola primária...não foi pensado mas não deeixa de ser terno para mim.
bjo
Já desisti de voltar a certos locais da minha infância.
É demasiado frustrante...
Abraço
Que texto tão simples e tão poético.
Apeteceu-me seguir a sua sombra, mas não sou do tempo dos bairros, só das ruas e das avenidas.
Ruth
:)
Adoro este tipo de post onde cada palavra chega aqui a casa com afecto, com vida, com saudade...
Beijinhossss
Cimento e alcatrão a mais, verde e espaços de lazer, convívio e cultura a menos.
Mas fazer o quê?
Os nossos queridíssimos autarcas e os seus aliados empreiteiros é que decidem...
No teu texto vi-me eu mergulhada há uns anos atras...
Como as coisas mudam...
Bom fim de semana te desejo
(*)
Luis,
obrigada!
__________bjj.
Imagino quantas saudades...
Como sabes nao sou de cá, mas é o caminho que palmilho, quase todos os dias, atravessando nessa ponte aerea,onde o vento nos leva quase os cabelos eheheh - mas adoro fazer esse caminho a pé.
Tem um bom f semana
BeijocaS*
voltei para dizer o seguinte :
Tu escreveste e descreveste muito bem,e o Vitor (anonimo) confirmou, e esta frase é muito bonita - "Por vezes penso que essas memorias sao o sorriso que levamos de partida deste mundo"
Bj
Voltar a percorrer os locais de uma memória de criança é das sensações mais bonitas que se pode sentir. É tão agradável reviver aqueles tempos.
Vim reler-te, encoontrar-me com um passado que embora próximo já nada tem de semelhante com os dias de hoje. Umas coisas melhores, outras piores e entre umas e outras fica a saudade.
Beijinhos e aparece
entrei para te ler, como sempre o faço
mas hoje bateu à minha porta a nostalgia...
ou será uma saudade inexplicável?
seja o que for senti o que li
um abraço
lena
Por vezes é melhor nem passar por esses "caminhos de memórias"...
Beijinho*
As pessoas de que falo, são amigos da infância, além da leiteira e do marido, que não recordo os nomes, Maria...
Lembro-me da Herminia, era continua na escola.
Tinha um ar duro, cara de poucos amigos, mas era uma boa pessoa...
não sei o que é feito dela, Vitor...
É sempre agradável observar toda aquela confusão juvenil, "Velas"...
Eu não desisto, Sininho.
A vida é isto.
Obrigado pela visita e pelas palavras, Ruth...
Olá "Chat Gris"...
Sophia-Mar, sem querer ser "puxa saco", também sinto isso no teu "mundo"...
Esse é o grande problema, Rosa.
Mesmo nas autarquias de esquerda e que fingem defender o ambiente (Almada e Seixal são exemplos deste casamento, entre o comunismo e capitalismo...)
"Um momento" para te dizer olá...
gostei de te ver por cá.
Isabel, eu é que agradeço...
As memórias são isso e mais, são o sal da vida, Cor do Mar...
É mesmo Rui...
Pois não Sophia...
Daqui a nada vou aí...
Gostei que destas vez, fizesses barulho ao entrar, Lena...
Eu passo e repasso, há sempre algo novo para recordar e registar, Maria P...
A Herminia Por sinal minha sogra, já está reformada e concordo com a expressão "cara de poucos amigos" mas também concordo com a pessoa extraordinária que é e continuará a ser.
Folgo em saber notícias dela.
Obrigado José.
Obrigada Luís, por me dar as Caldas que sempre imaginei entrever por entre o cimento. Essas histórias nunca morrem, hei-de voltar eu a descer a rua da estação, daqui por 30 anos, com o vento na cara e um rolo de papel equilibrado entre um braço e o guiador da bicicleta. Hei de me lembrar da leiteira e da equipa da rua do meio...
Boa noite, sim está correcto o nome Zenário. A casa e os mais diversos anexos pertenciam ao meu avô, que já faleceu a mais de 20 anos.
Deixo aqui o meu agradecimento por me ter feito recordar momentos tão verdadeiros.
Jamais pensei em encontrar por aqui a casa do meu avô.
Ana Zenário
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