Na casa dos meus pais sempre houve animais, mas nunca os baptizámos com nomes muito humanos, não sei porquê...
Por termos espaço e vivermos ligeiramente afastados da cidade, sempre tivemos um cão de guarda e companhia, e por vezes também um gato (é verdade, nunca tivemos mais de um gato... e era sempre gato mesmo, nada de gatas, provavelmente por causa dos gatinhos...)
De todos estes animais nunca esqueci o "Preto", o bicho mais inteligente que conheci.
Não era gato de casa, de passar o tempo a ronronar e a roçar-nos as pernas, preferia ficar a olhar-nos no seu canto. Só chamava a nossa atenção com as suas habilidades. Por exemplo, era um caçador nato. Eu adorava ficar sentado no quintal a vê-lo nas suas "caçadas", a saltar pelo ar atrás das presas, e de vez em quanto lá apanhava um pássaro mais distraído...
Tinha outra característica, a preferida da mãe. Era incapaz de roubar o que quer que fosse da cozinha, ao contrário de outros sonsos que viveram lá por casa, que não podiam ver nenhum alimento à "pata de semear".
Também era um galã de telhado, no tempo das "gatas" desaparecia, só vinha a casa para as refeições...
Como acontece com tantos gatos, foi atropelado quase mortalmente. O meu pai encontrou-o estendido na estrada, a miar, próximo da nossa casa e trouxe-o para dentro.
Tinha ficado paralisado da cintura para baixo e chorava, quase como um ser humano. Eu também chorei. Acho que foi a primeira e última vez que chorei por um animal.
No dia seguinte, de manhã, já estava a preparar-se para uma nova etapa da sua vida, arrastando-se pelo quintal, incapaz de ficar à espera da morte num canto, sossegado ou a gemer...
Claro que dias depois os meus pais tomaram a decisão de o levar ao veterinário, para ser abatido, pois aquilo não era vida para um animal como o "Preto"...
Depois deste incidente, não houve mais gatos lá em casa...
32 comentários:
...conheço essa dor, e dói ainda bastante...
Bj
Sei o que isso é... demais!
...entendo-te.
Beijinho*
Percebo-te...
Beijinho
Na casa da família em Viseu havia uma gata toda preta. Chamava-se Boneca mas esta perturbava um bocado quando estavam a fazer a comida. Teve o mesmo fim que o teu Preto. As crianças sofreram bastante.
abraços
Só tu, Luís, com essa criatividade discursiva: "à pata de semear" e "galã de telhado" são pérolas inesquecíveis. Sobretudo para quem tem certo conhcimento da causa (e dos hábitos) felinos! Beijos... linda foto! Roubaste da Rosa? :)
A dor que se sente pela morte de um animal é a que sentimos pela perda de um amigo.
Mas isso só compreende quem gosta de animais.
Gostei muito deste texto.
Abraço
Meu Sasha está com 10 anitos e super em forma. Não gosto de parar para pensar como vai ser quando ele ficar mais velhinho. Entendo perfeitamente este sentimento que deixaste transparecer no texto.
Beijo
Penso que sabes do meu "amor" pelos gatos!
A história do "Preto" trouxe-me lágrimas aos olhos.
Também tenho um preto que se chama "Petrus" que tem uma vivenda só para ele.Agora apareceu lá no quintal um outro bem pequeno que se impôs ao dono da casa...
Além destes tenho três gatas no apartamento onde vivo!
São muitos gatos, eu sei...
Mas gosto mais deles do que de muitas pessoas!
Abraço
Não mos roubou porque, como podes ver, já vou no 5º e a foto só apresenta quatro!
Um abraço para ti, Ida!
Ó Luis, desculpe lá mas cada vez que entro aqui leio o título "Recordações do Porto" e fico toda animada.
Devo andar meio passada dos carretos.
Mano,foi gira a forma como descreveste um episódio de que me lembro bem.
É sempre agradável ler as tuas histórias, uma vez que também fiz parte de muitas
Triste e encantadora, ao mesmo tempo, esta história!...
Luís, pelo visto isto está a se transformar em um café entre amigos. Parece que entramos à espera de nos encontrarmos e se não acontece, deixamos, na mesma, umas "bocas" que vào encontrar resposta.
Abraço pra ti e pra Rosa.
PS: Bonito ver um personagem interagindo alive por aqui.
Pois dói, Cor do Mar...
Mas a culpa também é nossa, já que temos a tendência de humanizar os animais...
Quem já teve gatos, sabe que eles sentem uma atracção especial pelas estradas, Samuel.
Sempre me questionei: como é que um bicho tão inteligente fica tão estúpido com a presença de carros e luzes?...
A Maria P entende-me e a Maria da Ilha, percebe-me...
A minha avó também me percebia muito bem. Nos últimos anos que viveu na velha casa de Salir de Matos, já sem a companhia do avô, teve vários gatos, aos quais se afeiçoava e com quem tinha grandes conversas... que tinham sempre o mesmo fim...
E um dia também disse que não queria mais gatos, porque ficava sempre muito sofrida...
É a triste sina dos gatos, Pitanga...
Tu e as pérolas, Ida...
A foto é minha, os gatos são de quem os amar...
Mas dez anos já deve ser uma idadezita para um gato...
Mas o teu Sasha deve-se cuidar, Cris...
É isso mesmo Sininho, até porque os animais conseguem ser amigos como poucos, raramente nos sentimos traídos por eles...
Claro que sei, Rosa.
Tens um conhecimento mais profundo que eu sobre estes "bichos" tão bonitos e misteriosos...
Isso é que é amor ao Poarto e ao Daouro, Pitanga...
E esta?, recebi a visita (em palavras) da personagem principal e secundária, de tantas histórias que tem passado por aqui...
Abraço mano
A realidade é assim APC...
triste e encantadora...
Assim é que é bonito, Ida...
Ainda por cima com uma visita especial, a tal personagem...
Luís, estou neste momento com um problema desses! Compreendo o que sentes, porque esta dor, a da partida de um anima que foi nosso companheiro, é muito sentida por nós e por vezes não compreendida pelos outros. Mas doí muito cá dentro. E a saudade... essa fica para sempre.
Beijinhos
De facto há animais que são uns grandes companheiros, Franky, ao ponto de nunca os esquecermos...
OLá , Parabéns pelo que escreve e como escreve.
Gostaria de contar uma história :
Em casa dos meus pais, numa aldeia perto de Caldas, sempre houve gatos, com a missão de caçar os ratos, mas com miúdos, sabe-se como é, por mais quew a minha mãe, na dificuldade de dar comer aos filhos, dizia :os gatos que vão caçar.
Entre muitos que por lá passaram havia um amarelo, que era lindo e um bom caçador de toupeiras, tarefa nada facil, mas quando a fome apertava para o gato, epara nós,o almoço era fraco, pelo meio da tarde, abria-mos a gaveta do pão que devido á idade da mesa, fazia um ruido, e estivesse onde estivesse o gato, de imediato aperecia a miar, o que levava a
minha mãe, que fazia durar o cesto do pãp para toda a semana, a exclamar: lá estão vocês de volta do pão outra vez.
Ficávamos divididos entre o pontapé no gato, enquanto cortávamos um naco, mas lá ía sempre um a côdea para o bichano.
O que mais me incomoda hoje é, porque acreditei, que no meu país de Abril, nunca mais houvesse gavetas, vazias e cada vez elas são mais, mas continuando a gostar de gatos que os há mais bem tratados, do que pessoas e crianças.
Esqueci de dizer que meu Sasha é um cão. Gosto tanto de animais que esqueci que o post tratava apenas de gatos. Perdão pela falha!
E sim, meu Sasha se cuida, tem uma dona de olho em cima dele, e toma remedinhos e vai ao veterinário regularmente, onde faz exames anuais. :)
Beijinho
Obrigado pela visita e pela história, Bordalesco.
Passa a ser um cão-gato, Cris...
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