quinta-feira, dezembro 13, 2007

O Natal Neste Nosso País...

Pode soar estranho, mas cada vez gosto menos deste Natal, que nos impingem de todas as maneiras e feitios.
Irrita-me que sejamos reféns desta obrigação de comprar presentes, esquecendo a canção (que infelizmente não passa mesmo de uma canção, de que o Natal é todos os dias ou que o Natal é quando um homem quiser.
Irrita-me que de repente apareça muito mais gente a sorrir e se prepare para ajudar os pobrezinhos, nas vésperas da data festiva, apenas porque é Natal e fica bem (nem que seja só para a televisão...), embora não esqueçam os desinfectantes e os cremes, porque o "povo" sem abrigo fede.

A única coisa que sobra nesta quadra são as crianças, que ainda mantêm uma capacidade, quase ilimitada de sonhar, e é para elas que o Natal continua a fazer sentido...
Imagino o quanto importante é para um menino pobre, cujos pais (e deve haver tantos por este país fora, inundado pelo desemprego...) não têm possibilidade de lhe oferecer um presente, que seja um brinquedo, e não a peça de roupa tão necessária, receber algo que lhe ofereça grandes momentos de diversão, ao contrário dos nossos filhos, cuja magia de Natal dura pouco mais que os minutos que demora o abrir as prendas e o olhar para elas (algumas das quais, nem sequer chegam a brincar uma única vez...).
É por isso que neste Natal, a maior prenda que gostava de receber, embora saiba que é um daqueles presentes impossíveis, iguais aos que enchem a imaginação dos meninos pobres, era descobrir que o nosso país estava a fazer uma inversão política e a tornar-se, de novo mais justo e mais igualitário.
Digo isto sem qualquer hipocrisia e sem fazer parte deste ou doutro espírito natalício. Este presente faz parte sim do espírito humano, em que todas as pessoas deveriam ter os mesmos direitos e as mesmas oportunidades.
O mais grave disto tudo é saber que nunca surgiu nada de bom nos países onde o fosso entre ricos e pobres, vai aumentando, dia para dia, como é o caso deste nosso Portugal, cada vez mais capitalista... e onde se ignora o reflexo das sociedades excessivamente liberais e materialistas: o aumento da revolta, da violência, do desamor, da miséria, do vício, da corrupção, etc.

É uma pena descobrir que neste país, é cada vez menos Natal, apesar das ruas estarem mais iluminadas, fazerem-se mais festas e distribuírem-se mais presentes...

36 comentários:

Titá disse...

É a hipocrisia que reina nesta época que mais nos magoa.
Gostei deste espaço. Voltarei concerteza.
Um beijo

Anónimo disse...

Olá caro Luís

é sempre com alguma expectativa que abro esta página para saber novas da minha terra....de facto o Natal está aí..infelizmente partilho a maior parte das palavras sensíveis à desilusão da quadra....à medida que crescemos, o Natal deixa de ser a magia da infancia....e deixa de ter porque somos adultos e entendemos mais a farsa em que a quadra se tornou... o cheiro da hipocrisia que nos rodeia incomoda. É claro que neste momento o Natal deixou de ser um fenomeno religioso para ser um fenomeno do capital e a nivel global das civilizações ocidentais é de uma agressividade comercial espantosa.... Mas não é só o Natal....ainda o Natal não acabou já se pensa no Carnaval....depois na Páscoa. no S. Valentim, no dia da Mãe, agora no dia das bruxas e tudo é fabricado em função de vender, ganhar muito dinheiro, avidez desmedida..o mundo consome-se. O ser humano acaba por ser uma praga para a Terra.

um abraço
vitor Pires

Maria P. disse...

Ontem também na Casa o "Aforas" foi um desbafo neste sentido, Natal ou Carnaval?!...O uso de máscaras e sorrisos perfeitos nesta quadra são de um mau-gosto, quando o resto do ano é como se sabe...

Pitanga Doce disse...

Estamos em sintonia, Luis. Tu, eu a Maria P.

abraços do lado de cá.

Cristina Caetano disse...

Luís, não sonha estranho porque te entendo perfeitamente. Nos dias de hoje temos de fazer um esforço sobrenatural para manter o espírito de Natal que há muito se perdeu. E acho mesmo irritante as pessoas que só se lembram das crianças carentes nesta data. As campanhas de Natal sem fome me irritam porque parece-me que é normal passar o resto do ano à míngua.
Eu me esforço muito para não ser "contaminada" procurando me lembrar sempre da principal mensagem do Natal que é a fraternidade, mas nem por isso, vou sair desejando por aí a quem não gosto e não gosta de mim - isso sim, pode parecer muito chocante.

Abraços fraternos

Maria disse...

Se eu pudesse, Luís, se eu pudesse adormecer este fim de semana e acordar só no dia 2 ou 3 de Janeiro....
... isto deve dizer-te do estado de espírito em que estou...
Tenho saudades, sim, do Natal de quando eu era pequenina...

Beijo

Anónimo disse...

se este post fosse uma petição, eu assinava já por baixo, luís. a mim o natal já não sabe a nada. beijo!

lena disse...

14 de dezembro e é natal, tal como ontem e amanhã, tal como todos os dias das nossas vidas

gosto de passar no meu silêncio, ler-te e entrar quando o que dizes me toca muito,

desculpa a intromissão, a porta está aberta

hoje lembrei-me de algo que escrevi, nada tem haver com o natal dos outros, é mais o natal do dia a dia que sinto e senti vontade de o deixar aqui:


vejo o vazio do rasto
no branco de olhares com fome

vejo no espelho rostos
abandonados ao frio

vejo um presépio de mãos
estendidas à procura de vida

vejo dias indivisíveis
de uma infância estilhaçada

vejo lágrimas de pretensão
rastejantes a sorrir

vejo sim, vejo presunção
que não se reconhece

mas vejo o nascimento
numa extensão de vida

e aí afirmo
é sempre Natal no Peito


l.maltez

assino na totalidade o que aqui escreves, mesmo não sendo uma petição.


um abraço meu e é um prazer ler-te.

lena

Bichodeconta disse...

Assino por baixo na totalidade.. Tenho pena que assim seja, eu que sempre fui de mau feitio, desliguei.me há muito dessa obrigação quase doentia de dar , porque é Natal..Dão-se por vezes coisas sem utilidade, e gasta-se dinheiro que normalmente desequilibra o orçamento, mas dá-se.. Dá-se o perfume que o outro não gosta, dá-se a encharpe feia que se compra á pressa, porque é Natal, e dar é preciso.. CONCORDO QUE DAR É PRECISO, MAS DAR ATENÇÃO A QUAM ESTÁ AO NOSSO LADO E DOENTE, A QUEM ESTÁ SÓ, A QUEM ESTÁ FORA DO SEU PAÍS E NORMALMENTE É OLHADO DE LADO, ESQUECENDO QUE TAMBÉM ALI ESTÁ UM SER HUMANO.. EU QUE TENHO DE FACTO MAU FEITIO DEIXEI DE ALINHAR, MAS SINTO.ME MUITAS VEZES POSTA DE LADO, PORQUE PARA DAR SÓ TENHO AMOR.. um beijinho muito grande..felizes todos os dias da sua vida....

Bichodeconta disse...

A Maria disse exctamente o que sinto.. Uma vontade de adormecer e acordar quando as festividades tivessem acabado.. Esconder-me na carapaça de tartaruga que eu tenho para certas ocasioes... Um abraço...

Ida disse...

Ai, Luís, pq será que, se há tantos de nós que escrevem e pensam assim, não há um movimento, movimento planetário, ou ao menos na parte do planeta que comemora a efeméride Cristã, para realmente mudar isso. Somos sempre reféns da imagem, do marketing e do que os outros esperam de nós. Ainda assim, é bom saber q anda por aí, gente como tu. Devia ser bom ser teu amigo e poder falar dessas e de outras coisas.

Mas, se quiseres, dá uma olhada no link a seguir:
http://www.correios.com.br/

e clica no item "papai noel dos correios" (tentei o link da página mas era longo demais para pôr aqui).

É um projeto que nasceu espontaneamente, do desejo das crianças que enviavam cartas ao papai noel pelos correios e, recebidas que eram e abertas pelos funcionários, suscitaram uma onda entre eles, que começaram a tomar cada um em uma carta e a enviar o que a criança havia pedido, com remetente do papai noel, num movimento silencioso de uma comunidade emrpesarial.

O movimento chegou aos ouvidos da direção da empresa, criou-se um projeto aberto à comunidade inteira, em todas as cidades do país. E hás de ver qtas crianças já foram atendidas. Algumas, sabes, pedem, por exemplo, um colchonete para ele e para a avó, com quem vivem, e dormem no chão puro.

Pode ser um começo. E o mais bonito é que surgiu naturalmente, como uma fagulha que se espalha no feno seco.

Abraço pré-natalino, deste sul.

samuel disse...

As nossas memórias de um Natal diferente, tanto para crentes como para não-crentes, estão bem enterradas lá no passado e vivem a custo, unicamente na nossa memória.
"Este" Natal é (quase) apenas mais uma operação comercial agressiva.

as velas ardem ate ao fim disse...

Para além dos meus problemas esta epoca ajuda me a ficar ainda nmais de rastos...

bjo

greentea disse...

estou cansada de hipocrisia barata e de iluminações a rodos quando nada mais tem "luz" - como dizes o natal é um momento, só para alguns , que outros continuam a dormir na valeta à chuva e ao frio...

Anónimo disse...

Desejo que passes um bom Natal, com saúde e tudo de bom, para ti e familia

Um abraço

Anónimo disse...

Hoje vi a rua principal, com nova electrificação, candeeiros muito modernaços ...;)

Sao bonitos sim.

Beijinho *

Rosa dos Ventos disse...

Tens toda a razão, Luís e não sei como iremos sair desta situação tão deprimente...
Como se vive com o ordenado mínimo?!
Como vivem os desempregados?!
Como se pode viver na rua?!
Como podemos nós viver ao lado desta miséria?!

Um abraço

Nia disse...

Normalmente venho aqui dar-te beijinhos, comentando a brincar.Neste post não consigo brincar.É sério demais.É verdade tudo que disseste.Infelizmente verdade.
(Ah!Mas os beijos ficam.Não por ser Natal mas porque sim).

Luis Eme disse...

Tens toda a razão Tita.

Volta sempre.

Luis Eme disse...

É mesmo isso, Vitor, o mundo consome-se, com a nossa anuência...

Luis Eme disse...

Tens toda a razão Maria P.

Luis Eme disse...

Penso com tu, Cris, parece que o ano se redua a um só dia...

Santa hipocrisia.

Luis Eme disse...

Nunca tinha pensado nisso, Maria, não era má ideia não senhor...

Luis Eme disse...

E é bom, Pitanga...

Luis Eme disse...

Não é uma petição, é a realidade que amarga, Alice...

Luis Eme disse...

Mais um lindo poema, obrigado Lena...

Luis Eme disse...

É uma pena tornarmos as coisas importantes volúveis e vulgares, "Bicho de Conta"...

Luis Eme disse...

E cada vez mais agressiva, Samuel...

Luis Eme disse...

São tantos os comentários que até troco a ordem...

Ida, felizmente sobram as crianças, é por elas que vale a pena haver Natal...

Luis Eme disse...

Como te compreendo Velas...

Luis Eme disse...

Talvez eles pensem que uma noite é melhor que nada, Greentea, mas é muito pouco, num ano inteira...

Luis Eme disse...

Para ti também, Cor do Mar...

Luis Eme disse...

Se não patrocinarmos todos estes hinos hipócritas, já estamos a fazer alguma coisa, Rosa...

Luis Eme disse...

Infelizmente é assim, Nia...

Franky disse...

Descreves aqui aquilo que eu penso “deste” Natal actual, deste Natal de fingimentos, de hipocrisias, de consumismo, é assim que eu penso também e este ano não tive coragem para o denunciar.
Tentando esquecer todo este circo mediático em que se transformou o Natal, desejo para ti e toda a tua família um Feliz Natal!

Luis Eme disse...

Que o Natal se prolongue para além das corridas aos centros comerciais Franky, mas é difícil...

Abraço