Uma das coisas inesquecíveis da minha infância foram as estórias com cheiro a lenda que o avô nos contava, deixando-nos deliciados a ouvi-lo, sentados na escada de cimento que dava para a casa de fora, ao lado do forno.
Havia um pouco de tudo, desde cobras voadoras que sobrevoavam as fazendas, ao homem que aparecia dentro da lua, quando ela estava completamente cheia, com um molho de vides às costas. Segundo o avô, tratava-se de um sujeito que tinha sido apanhado a trabalhar ao domingo e acabou por ser transportado para a Lua pelo Deus dos cristãos, para que servisse de exemplo aos homens da terra de que era proibido trabalhar ao domingo, dia santo.
Geralmente, estas conversas eram interrompidas pela avó, que tinha um jeito especial para quebrar todo aquele ambiente de magia, criado à volta do avô.
Ela nunca percebeu a importância das estórias e lendas na vida das crianças, sempre foi, exageradamente, real.
E claro que também havia ali um pouco de ciúme, compreensível...
A foto que ilustra este texto é dos meus avós maternos, Manuel e Henriqueta, com os netos (falta o João, que ainda não tinha chegado de "França", no bico de uma Cegonha...).
16 comentários:
Sabes Luís, gosto imenso das tuas Estórias... elas trazem-me recordações muito boas. O velho da minha lua tinha um molho de vides às costas.
Beijinho
Luís
Nós éramos nove, e o que a gente fazia não lembrava ao diabo.
Por isso não me espanta que, de entre outras memórias, sobressaia aquela frase (nunca cumprida) do meu avô "olha a chibata!"
Nunca vi a chibata, mas que a frase surtia efeito, lá isso era verdade...
Para nós, o homem na lua era, como para a anag., um homem com um feixe de vides às costas...
Ana G., fico muito satisfeito por as minhas histórias te recordarem coisas boas.
Pois é, o velho da minha lua também trazia um molho de vides às costas (foi um lapso, mas já o coloquei ao texto)...
Maria, a história deve quase universal... eu é que me esqueci de "colocar" o molho de vides nas costas do pobre velho, desterrado na lua...
não tive grande contacto com o único avô que conheci, por um sem número de razões. Mas, sendo a 6ª filha, ouvi muitas estórias contadas sobretudo à lareira, pelos pais, madrinha e até irmãos.
É óptimo ouvi-las. Transportando a nossa imaginação para cenários que construímos ...
Enquanto que a foto a preto e branco do post anterior me lembra o cheiro a farinha, esta, lindíssima, parece que exala o cheiro das plantas e das couves.
Devia ser bom passear por ali depois de chover...
Uma foto tipica dos anos sessenta!
Há sempre nostalgia ao olharmos para elas!
Engraçado que nunca ninguém me contou a história do homem na lua com o molho de vides às costas. Há sempre qualquer coisa que nos foge.
Não tenho fotos dos avós e só cheguei a conhecer a avó materna e já no fim da vida. Mas também me deu a saudade de momentos passados e postei a dos meus pais que foram artistas de circo :) As histórias que ouvia eram diferentes: a da artista que se apresentava com uma jibóia e que foi esmagada por ela em plena actuação, a do domador de leões que devido a uma pequena distracção ficou sem a... bem.. só desgraças e não quero deixá-lo indisposto. Passei aqui para o visitar e gostei de estar a ler os novos post. Agora vou seguir. Um grande abraço
Nas noites frias, quando nos juntamos à lareira, há sempre espaço para viajar pelo tempo, Tit...
Devia ser e é... embora as coisas já não estejam tão cuidadas, o perfume da terra e das plantas continua presença, especialmente depois das primeiras chuvas, Maria.
MFC, há muita nostalgia no nosso olhar, por muitas razões... todos crescemos um palmo e os avós partiram.
Os meus primos mais pequenotes já são adultos, alguns com filhos. A foto foi tirada no principio dos anos oitenta, há praticamente vinte cinco anos.
Pois é Ana, as nossas vivências nem sempre são iguais...
è perfeitamente natural que no lugar do "velho da Lua" surga o acrobata que um dia caiu sem rede, a encantadora de jibóias que acabou sufocada, etc.
No entanto pensava que também haviam histórias de magia e divertimento no circo, embora todos nós saibamos que por detrás da máscara alegre do palhaço, se escondem pequenos e grandes dramas do quotidiano...
Ola Luis, ao ler-te deparo-me com uma frase que ja estava esquecida, mas logo me avivou a memória, da casa da minha avó: "...que dava para a casa de fora" - a casa de fora, termo usado tambem ali junto ao mar da Ericeira - saudades...
Beijinho e b f semana*
As casas da Estremadura (pelo menos as rurais) tinham quase todas duas cozinhas... e é dai que vem a utilização do termo "casa de fora" (penso eu...).
Bom fim de semana também.
Achei este texto de uma ternura comovente.
Transportou-me à infância e no meu caso a en(contadora) de estórias era a avó paterna. O homem da Lua também constava no seu reportório, juntamente com bruxas e lobisomens.
Havia uma casa de fora mas ficava longe do forno.Este ficava no pátio, na chamada casa do forno.
Tanta coisa que havia...quando éramos todos!
"Rosa dos Ventos", a tua expressão, «tanta coisa que havia... quando éramos todos!», explica em parte estas viagens que faço, de memória...
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