quinta-feira, novembro 16, 2006

A Força da Água



No Outono e no Inverno, com a queda das primeiras chuvas, os rios e ribeiros enchem-se de água e transmitem-nos a sua verdadeira força e plenitude. Os seus leitos adquirem uma correnteza pouco habitual, que promete levar tudo aquilo que lhe surge à frente, inclusive nós.
A água sempre exerceu, e exerce, um fascínio especial para as crianças. Lembro-me de brincar, com o meu irmão e outros amigos de infância, junto a pequenos ribeiros transformados em rios com a queda das chuvas. Uma das brincadeiras era atirar objectos (normalmente paus e pedaços de canas que flutuavam, mas também barcos construídos de cascalho e até de papel - muito pouco resistentes...) para o seu leito, com os quais fazíamos corridas, a ver quem é que chegava primeiro a determinado local...
Não medíamos o perigo, como convém nestas coisas, mas também não me lembro de ver ninguém ser levado pela correnteza das águas.
Esta brincadeira também chegou a ser transposta para a ponte do Rio Salir que passa na minha aldeia. Atirávamos objectos para a água de um dos lados da ponte e depois corríamos para o outro lado para ver qual chegava primeiro...
Era uma aventura ainda mais perigosa, porque atravessávamos a estrada sem olharmos atentamente, se vinha algum carro, embora nesse tempo existissem poucos automóveis nas redondezas...
Estas brincadeiras de criança, não se podem, de maneira nenhuma, aproximar da irresponsabilidade dos adultos, que constroem as suas casas demasiado próximas dos leitos dos rios, acabando vitimas da força das águas, especialmente em anos de muita chuva...
Este texto está ilustrado com a "Ponte de Guifões", um óleo de António Ramalho, pintor contemporâneo de Malhoa.

7 comentários:

Ana M. disse...

Outros tempos em que a natureza era mais mansa e mais amada por pequenos e adultos.
Depois de tão maltratada, não são de admirar as mudanças que estão a verificar-se, ano após ano.

Maria disse...

Mais uma agradável surpresa -quadro e texto.
Traz-nos mais memórias, Luis, eu relembro neste momento um ribeiro que havia (há???) nas Águas Santas, a caminho da Foz, mas passo por lá e não vejo ribeiro nenhum.
Já nem sei se foi sonho...

Luis Eme disse...

Tens toda a razão, Sininho, nesse tempo a natureza era mais mansa porque era mais amada e compreendida por todos nós... e isso tornava tudo mais simples.

Luis Eme disse...

Maria, no Inverno formavam-se uma série de ribeiros à volta das Caldas. Infelizmente muitos eram utilizados também como esgotos (ainda não havia saneamento básico...)...

Maria disse...

Passei só para desejar um bom fds

Luis Eme disse...

Bom fim de semana também para ti, Maria (embora o domingo já esteja aí..).

Anónimo disse...

Antigamente, as crianças faziam os seus brinquedos, com uns pauzinhos e bugalhos se faziam lindas azenhas,um ficava ao meio, os outros, eram escavados e espetava-se um pau que, por sua vez, era enfiado no do meio e, assim sucessivamente, até haver e caber,no do centro. Colocavam-se dois pauzinhos cruzados, de cada lado da "valeta" transformada em ribeiro pela chuva punha-se a roda dos bugalhos em cima, a água caía e fazia a "azenha" rodar. só por isto já mereceu a pena nascer na aldeia.