Hoje, sem saber explicar muito bem porquê, lembrei-me de uma coisa maravilhosa: da minha avó a cozer pão no forno. Pão que tinha aquele gosto especial, que não conseguimos encontrar nas várias imitações do pão caseiro, que se vão vendendo por aí.
A própria farinha ainda vinha dos moinhos de vento, através de um processo de troca por troca, que já não existe. O avô trocava alguns alqueires de trigo por sacos de farinha já moída.
A avó fazia sempre umas brandeiras (pãozinhos pequenos) que partia a meio e polvilhava com açúcar amarelo quando ainda estavam quentes e que ficava imediatamente derretido no pão e era uma delícia...
Mas havia mais. Comer o pão ainda quente com manteiga, que também ficava completamente derretida, era outra delícia...
Tenho saudades do cheiro da lenha, de ver a minha avó de volta do forno com um pano branco a cobrir-lhe a cabeça, com aquela espécie de pá com que tirava o pão (à Padeira de Aljubarrota), quando já estava bem cozido, nas mãos... e de ficar alí, à volta do forno, à espera do meu "bolo", juntamente com o meu irmão e os primos...
Às vezes a avó até deixava que fossemos nós a fazer o nosso pequeno pão, com aquela massa de farinha, que se colava aos dedos...
Infelizmente nessa altura não se tiravam muitos retratos, pelo que não tenho qualquer fotografia deste episódio tão memorável. Para ilustrar estas palavras socorri-me de uma imagem de Jean Dieuzaide, um fotógrafo francês que nos visitou nos anos cinquenta e deixou excelentes fotografias do Portugal de então.
13 comentários:
E quando a avó fazia pão de milho com uma sardinha lá dentro?
E quando o chamado pão saloio (mistura de trigo, centeio e milho) saía do forno e o passávamos por alho e azeite?
E quando a avó apanhava caracoletas no quintal e as assava para os netos?
E quando a avó, e quando a avó...
Que tempos bons, de que guardamos tamanhas recordações e ainda, lá muito no fundo, o cheiro do pão quente e outros petiscos...
Subscrevo por completo tudo o que foi dito. Recordo-me que a minha tia cozia ao Sábado, e o que era mais extraordinário, é que cinco dias depois o pão continuava delicioso. Hoje, bom, cinco horas depois já se parece com tudo, menos com pão
Estou a ver aquelas "forgunetas" carregadas de regueifas, com o pó a assentar por todos os lados...mas que tinham um sabor fantástico!
Ou será que o sabor fantástico nos vem da saudade?!
Fogoooo...fiquei com água na boca porque me lembrei..e lembrando soube-me a tempos de menina com boca lambuzada de pão quente com manteiga e açucar a derreter ...a derreter...
Lembrei-me também de um forno comunitário da minha aldeia e dos "bolos da Páscoa!" que depois iam direitinhos para a mesa que o senhor Abade ia abençoar e nós comermos.Ainda bem que a minha aldeia não era a aldeia da minha avó materna (uns 15 quilómetros mais acima) que aí, o Senhor Abade mais os seus acólitos, levavam tudo que estava em cima da mesa da Páscoa incluindo os bolos amarelinhos como os nossos.Diziam eles que era para a quermesse e para os pobrezinhos...mas aquilo sempre me cheirou a esturro.Dava graças a Deus por os costumes "sacerdotais"da minha aldeia serem outros...porque aqueles bolos feitos no tal forno de lenha...tinham um cheirinho celestial mas ainda bem que eram terrenos-terrenos. ;)
Pois é Maria, a recordação do campo e das avós, dão-nos coisas deliciosas...
Pois é Zé Ventura, já não há pão que dure uma semana... pelo menos nas cidades.
MFC, o sabor delicioso vem da saudade e de um tempo em que se valorizavam as pequenas coisas...
Grande mesa a do senhor Abade... quando ele fingia conhecer um carreiro que levava os pobres e incautos na direcção do Céu...
Às vezes 15 quilómetros são uma imensidão, é como se vivéssemos num outro mundo, não é Nia?
Ya ... q saudades, e a minha avó tambem assava as pevides das abóboras que ficavma em cima o telhado a secar ... (Ericeira).
Beijocas ;**
A minha também... "Cor do Mar".
Ih...dá mesmo saudades. Não havia o pão, já ela vivia em apartamento no Brasil, mas havia o bolo, o pequeno almoço no sítio aos fins de semana, onde o coador de pano coava o café. Outro sabor, maravilhosas lembranças. Mas a foto é linda, e me dá saudades de estar em Portugal, numa aldeia ao pé do fogão à lenha...pôxa!!! Também podia ser na cidade, mesmo heheeh. Aí já começou a esfriar, vem o Natal...muito bom...muito bom!!!
abraços
Por acaso ainda não começou a "esfriar" por cá, Cris. Os dias têm estado muito incertos, alternando o sol com muita chuva, mas a temperatura tem estado bastante amena, pelo menos para Novembro.
Fico satisfeito pelo meu texto te deixar com saudades do nosso Portugal...
E quando em vez, bebia-se com o café da avó, que era feito assim: cafeteira com água, em cima das brasas, até a água começar a ferver, quando isso acontecia deitavam-se duas colheres cheias de café em pó, mexia-se, voltava ao lume até começar a subir tirava-se do fogo, com a tenaz pegava-se em duas brasas,metia-se dentro da chaleira, para a borra assentar mais depressa... a tigela cheia de café a fumegar numa mão e na outra o famoso pão da avó, quentinho e.. com açucar ou manteiga era de comer e chorar por mais.
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