terça-feira, fevereiro 13, 2007

O Aborto das Ruas da Minha Meninice


Todas estas peripécias à volta do referendo sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (um nome realmente pomposo, pelo menos para a giria popular...), fizeram com que recuasse no tempo, à procura da primeira vez que escutei esta palavra...
Não é segredo nenhum, que nós, na infância e adolescência, somos muito mauzinhos uns para os outros. Aproveitamo-nos quase sempre das fraquezas e desgraças dos outros para montarmos um circo e rirmos, quase sempre de uma forma exagerada, dando força ao sentido colectivo do espectáculo.
Foi nestes festivais de "gozação" que ouvi pela primeira vez a palavra ABORTO.
Curiosamente ou não, o seu significado nos recreios ou nas ruas era bem diferente do verdadeiro sentido da palavra. Não passava de mais um mimo, usado para adjectivar alguém que não tinha jeito para nada, desde o jogar à bola até outra brincadeira qualquer de rua.
Na adolescência este mimo também era usado para caracterizar as miúdas mais foleiras na escola e das nossas ruas (não faço ideia se elas também usavam esta palavra para caracterizar os rapazes menos jeitosos...).
Esta palavra estava distante das maternidades e dos "vãos de escada" (esta campanha transformou esta pequena frase num lugar, cada vez mais comum...), apesar de também reflectir ausência. Só que não era de vida, mas sim de talento ou de beleza...

Este texto está ilustrado com mais uma excelente fotografia de João Martins.

12 comentários:

Alice C. disse...

Lembras-te de cada uma...

mas era assim, claro que também havia "rapazes-aborto" no nosso olhar, Luís.

Acho que somos menos diferentes do que o que parece...

Maria disse...

Por momentos voltei aos bancos da Escola...

As crianças são terríveis, a rapaziada é mesmo mazinha...

Olha, podes crer que o inverso também era verdade... havia rapazes-aborto também... só que não me lembro onde íamos/fomos buscar essa palavra...

Maria disse...

Luís, se não te importas, deixo aqui uma mensagem para a

alice c.

O teu blog continua com fotos lindíssimas, às vezes dá-me vontade de ir até às Beiras ver toda aquele beleza ao vivo... Um dia destes vou mesmo...
Um beijo pra ti

Ana M. disse...

Embora não seja polìticamente correcto, é uma qualificação que assenta como uma luva em muita gente.
Há um locutor dos estúdios do Porto, o Pedro Cruz, que é um belíssimo exemplo do que se está, aqui, a falar...
Eu sou màzinha, já sei.

Luis Eme disse...

Alice, somos tão diferentes, que acabamos por ser parecidos...

Luis Eme disse...

Eu sabia Maria, tinha de haver também "rapazes-aborto"...

Luis Eme disse...

Sim, Zé do Carmo Francisco, claro que tem tivesse algum "defeito de fabrico" bem visível, não escapava a esta adjectivação.

Eu também pensava da mesma maneira, em relação às ovelhas. A lingua portuguesa está de tal forma espalhada, que há sempre uma palavra ou um significado à nossa espera...

Luis Eme disse...

Acenta sim senhor...

mas não estou a ver quem é esse senhor Cruz, Sininho...

Maria disse...

Luis, então não havia de haver rapazes-aborto? Tu sabes que sim, vindo daquela terra que é também a minha, a alice c. confirmou...
Vou registar o que aprendi aqui hoje, do jcfrancisco: sempre disse ovelha ranhosa, vou passar a dizer ovelha ronhosa. Sempre pensei que a ovelha ranhosa era estilo "ovelha negra", a pessoa do grupo que se portava mal, e tal, nunca me passou pela cabeça que a palavra viesse de ronha (fazer nada...)
Um abraço

Luis Eme disse...

Em relação ao que aprendeste ontem, Maria, penso que a outra expressão não está errada, e também é aplicada muitas vezes, mas com um sentido mais pejorativo.

Nia disse...

Não quero falar mais sobre isso hoje....Nem aborto "vivo" nem aborto "morto".Hoje só vim aqui com vontade de te dar um beijo.Olha..deixo-to aqui embrulhadinho com laçarote.

Luis Eme disse...

Gostei do conteúdo do "embrulhinho" Nia, e claro, do laçarote.