Fugi da civilização por apenas quatro dias, tempo mais que suficiente para sentir que o bom da vida não está nas grandes metrópoles, para onde todos caminhamos, atrás de sonhos que raramente se cumprem...
Apesar do abandono, da solidão e da tristeza a que foram votadas as aldeias do nosso interior e os seus habitantes, quase sempre idosos, a grande maioria mulheres de negro, cuja viuvez é uma matriz cada vez mais forte nesta parte esquecida de Portugal, é sempre possível encontrar um lado positivo nestas coisas.
Como sou sempre o primeiro a levantar-me, depois de tomar um pequeno almoço ligeiro, dou sempre uma volta pelos arredores da aldeia. Sabe-me bem andar no meio dos campos em pousio, especialmente agora, que está tudo florido e bem cheiroso.
Gosto de escutar o que se esconde por detrás do tão falado silêncio campestre, de descobrir a diversidade do canto dos pássaros, assim como as suas tonalidades e até a forma como dão às asas.
Depois de andar uns bons metros, gosto de parar e girar lentamente, olhando para todos os lados, a ver o tempo passar por mim. Tão lentamente, que me dá espaço para quase tudo...
Até consigo reparar que o vento transforma o simples toque nas ramagens das árvores em coros afinados, que podem ser confundidos com orquestras naturais, que dispensam qualquer maestro, por melhor que seja...
Depois regresso a casa. Abro a porta com cuidado, porque eles ainda estão a dormir o sono dos justos...
Apesar do abandono, da solidão e da tristeza a que foram votadas as aldeias do nosso interior e os seus habitantes, quase sempre idosos, a grande maioria mulheres de negro, cuja viuvez é uma matriz cada vez mais forte nesta parte esquecida de Portugal, é sempre possível encontrar um lado positivo nestas coisas.
Como sou sempre o primeiro a levantar-me, depois de tomar um pequeno almoço ligeiro, dou sempre uma volta pelos arredores da aldeia. Sabe-me bem andar no meio dos campos em pousio, especialmente agora, que está tudo florido e bem cheiroso.
Gosto de escutar o que se esconde por detrás do tão falado silêncio campestre, de descobrir a diversidade do canto dos pássaros, assim como as suas tonalidades e até a forma como dão às asas.
Depois de andar uns bons metros, gosto de parar e girar lentamente, olhando para todos os lados, a ver o tempo passar por mim. Tão lentamente, que me dá espaço para quase tudo...
Até consigo reparar que o vento transforma o simples toque nas ramagens das árvores em coros afinados, que podem ser confundidos com orquestras naturais, que dispensam qualquer maestro, por melhor que seja...
Depois regresso a casa. Abro a porta com cuidado, porque eles ainda estão a dormir o sono dos justos...
O óleo que acompanha este texto chama-se "Só na Aldeia" e é da autoria de José Malhoa.
32 comentários:
Também eu estive ausente pela cidade Invicta em acontecimentos culturais e visitas a gente amiga, e já estou na mira do mês que vem em que irei passar cerca de 3 semanas a Veneza! Cada vez gosto mais de conjugar o verbo "ir", e trazer memórias, fotos, e o olhar diferente das pessoas.
Ah! e já agora tb digo que gostei deste texto, e não é favor nenhum dizê-lo!
Bjs
TD
Excelente passeio este, conduzida pelas tuas palavras.
Beijinho*
... é como o saborear da nossa própria descoberta!
Gosto muito desses momentos..
muito mesmo..
Dão-me alento!
Abraço grande e obrigado pela partilha **
Como compreendo este texto. Eu própria um dia troquei a grande cidade por terras do Oeste e por este cheiro a campo. É um hino à calma e à serenidade!
Obrigada por este momento.
Um beijinho
E como é bom o silêncio e a tranquildade do campo, em comparação com o bulício das cidades!
Até a chuva, quando cai, nos traz aquele doce cheirinho a terra molhada...
Fazes muito bem em conjugar o verbo ir, Teresa...
Há sempre algo de novo para guardar e trazer no nosso "saco" de memórias...
Foi o que aconteceu, Maria...
Se pudesse, passava mais tempo lá que cá...
É...
São estes pedaços que nos fazem sentir vivos, "Pessoa cada vez menos Estranha"...
Eu também gostava de fazer isso...
Mas quando temos responsabilidades familiares, a vida torna-se mais complicada, Franky.
Pois é Sininho, e então o cheirinho a terra molhada é uma maravilha...
Quase ouvi o vento entre as ramagens. Sei bem do que falas, e que é tão bonito.
E o cheiro do campo, Luís, logo de manhã, depois do orvalho da noite...
Regresas com "baterias carregadas", aposto...
na hora de sonhar ...
beijinhos embrulhados em abraços.
Há barulhos das ramagens, que até nos fazem estremecer, Maria. Tal é a sua intensidade... no meio do silêncio.
Esqueci-me de falar disso, mas quase que só nos lembramos da existência das estrelas, no campo...
Gostei da tua visita "Sonhadora"...
Bonita prosa "Alberto Caeiro".
Gostei da sensibilidade que deixas transparecer... nem todos conseguem ouvir essa orquestra da natureza e sentir a paisagem da forma bonita com que a descreves.
Um bjo e bom fds
Tás a ver, Luís? Tens a percepeção do entorno como muitos, infelizmente, não têm. Gostei imenso das tuas impressões. Sabes, eu gosto disso, tenho um coração de mulher de aldeia, mas uma alma cosmopolita. Adoro as cidades, mas aquelas que revelam evolução e traços inegáveis e incontestáveis de civilização. Afinal, todas as cidades surgiram de aldeias, e guardam, em geral, as marcas desse passado. Percebe-se, na arquitetura e nos costumes dos habitantes, o lento caminho que as fez chegarem onde chegaram. Isso é verdade histórica, e faz bem à alma. Agora, NY é uma versão concreta de um projeto Matrix urbanístico. Já tens uma primeira impressão lá no sb, hão de vir outras.
Obrigada pelos bjinhos de parabéns... foi um aniversário muito especial... renovei a licença em grande estilo... e feliz. :)
Bjs,
Essa do "Alberto Caeiro", é um grande elogio, Alice. Exagerado claro.
Pois não Elsa... é por isso que há pessoas que detestam o campo...
Só de pensarem nos insectos e nas plantas que vão encontrar, ficam assustadas...
Não percebi essa da perspectiva do "entorno" Ida. Uma expressão no minimo curiosa.
Eu acho que também sou muito "homem da aldeia"... embora goste de manter a minha urbanidade, de me perder pelas ruas das cidades...
Já fui ao teu "Sulbúrbio" ver as primeiras impressões novaiorquinas.
Ter a percepção do entorno, pra mim, é o que a Aprendiz chamou de ouvir a orquestra da natureza... não tem q ser só a da natureza, mas ligar-se no mundo imediatamente circundante e perceber-lhe as minúcias e, no teu caso, conseguir transformar tudo isso em um texto, no mínimo, agradável, como tão bem fazes.
Fico contente que NY não faça parte dos teus roteiros sentimentais... ai, este etnocentrismo... muitos pecados tenho eu pra redimir...
Há lugares mágicos mas tu também lhes dás um toque muito especial!
É o toque do saber olhar e não ver apenas!
Gostei da tua explicação e dos elogios (exagerados, claro...), Ida.
É uma pena que nós acabemos por não gostar das cidades e até das pessoas da América, pela forma como nos querem "civilizar", de uma forma quase forçada, com a sua (in)cultura.
Ai estas mulheres...
Obrigado pelas tuas palavras, Rosa.
de vez em quando também fujo da civilização, mas depois não consigo resistir ao apelo do retorno....
Não precisas encabular!!! Afinal, ninguém nos obriga a cá vir,mas dá gosto, por isso vimos, e não dizer o q pensamos seria um despropósito... Aposto que tens coisas insuportáveis... hehehehe mas escreves bem e escolhes bem o foco.
Beijinhos e boa semana!
deixo-te sonhos das marés prateadas do meu mar.
Beijinhos embrulhados em abraços
Acho que nenhum de nós resiste... não estamos habituados a tanto silêncio e a tantas estrelas no céu, Vladimir...
Eu não "encabulei" (tu e as tuas expressões giras...) Ida...
Pois é, ente outras coisas, tenho "mau feitio", o que me vale é escolher bem o foco (mais outra expressão tua para guardar...).
Prometo dar umas braçadas no teu "mar", sonhadora...
Adorei a frase "não estamos habituados a tanto silêncio e a tantas estrelas no céu"... a beleza pode ser opressiva e a opressão pode ter uma beleza por ser familiar.... OK, ainda são dez da manhã no Hemisfério Sul, junto à Mata Atlântica, e eu só bebi café!!! beijos e bom domingo!
Não deixa de ser curioso, falar contigo, desse lado do Atlântico (junto à mata Atlântica...), com alguma diferença horária, que nem se nota...
Provavelmente, consegues ver por aí, as estrelas do céu, Ida...
Será que são maiores que por aqui?
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