sexta-feira, janeiro 04, 2008

Ano Novo, País Velho

Ontem cruzei-me com uma senhora açoreana, que já deve andar próximo das oitenta primaveras e que já não via há meses.
Pela dificuldade em andar, mesmo com o auxilio da bengala, percebi o motivo...
Recordei-me da existência de uma espécie de antecâmara da morte, que nos vai toldando os movimentos e manietando, a pouco e pouco, o dia a dia. Obriga-nos a reduzir as saídas de casa, até deixarmos de sair, quase definitivamente. Começamos a querer ficar até meio da manhã na cama até ficarmos por lá, quase o tempo todo, mais que preparados para que a "coisa negra" passe e nos leve...
Costumávamos frequentar o mesmo café. Lembro-me dela desde sempre, tinha uns gostos um pouco exóticos, na maneira de vestir, de se maquilhar e até de tomar o pequeno almoço, embora fosse sabiamente compreendida pelos senhores, Manuel e Inácio, empregados de mesa.
Só trocávamos bom dia e boa tarde, embora uma vez me surpreendesse, dizendo que tinha gostado de ler um dos meus livros...
Tal como ela, todos os anos desaparecem rostos familiares das mesas do "Repuxo". Este ano o número deve aumentar, com a demasiado saudável, proibição de fumar, nos cafés e restaurantes...

O desenho é de Jorge Barradas...

10 comentários:

Kalinka disse...

Muito obrigado pelo teu gesto de carinho.

Beijos.

BOM ANO

Maria P. disse...

Triste este post, assim o senti...

Bom fim-de-semana*

Isamar disse...

Os teus livros? Conta lá, Luís! Gosto mesmo de te ler. Quanto à senhora, conheci aqui perto de mim, duas assim. Exóticas q.b. , observadas com alguma inveja por outras que quereriam ter a sua ousadia mas faltava-lhes a coragem.
Coisas que a cada um dizem respeito.
Deixo-te beijinhos

as velas ardem ate ao fim disse...

bjinhos e bom ano!

Luis Eme disse...

Beijos Kalinka.

Luis Eme disse...

É triste mas é real, Maria P...

Ontem recebi a revista "Tempo Livre" do Inatel e recomendo a leitura da crónica (na última página) de Fernando Dacosta...

Retrata muito bem a forma como muito boa gente trata os nossos "velhos"...

Luis Eme disse...

Sim, Sophiamar, é difícil (sempre foi...) respeitar as diferenças...´

Os livros meus? São o resultado do gosto de escrever, de olhar, de viver...

Luis Eme disse...

Beijinhos Velas.

Maria P. disse...

Não sei se terei acesso à revista...
Já assisti a coferências de Fernando Dacosta (creio que a última foi sobre a Natália Correia) gosto do seu discursar.

Beijo Luís*

Luis Eme disse...

É uma pessoa extremamente sensível e bem formada, Maria P.