Luiz Pacheco escolheu a véspera do dia de Reis para partir, ele que sempre foi um desalinhado, preferindo sempre a "corte" dos marginalizados, à "cúria" dos hipócritas, que sempre vegetaram (e vegetam...) nos meios culturais deste curto país...
Luiz Pacheco passou pelas Caldas da Rainha nos anos sessenta. Não foi uma passagem invísivel, como muito bem nos conta João B. Serra, no seu livro de crónicas dos anos 50/60, "Continuação":
«[...] Chegou às Caldas, vindo de Setúbal, no final do ano de 1964. Hospedou-se no Hotel Lisbonense, enquanto procurava condições para instalar a família. Em Dezembro, quando editou o panfleto O Cachecol do Artista, indica já como morada a R. Rafael Bordado Pinheiro, 2 , r/c. [...] Dispunha de um curriculum apreciável quando aportou às Caldas, como editor, como tradutor e como observador crítico da vida literária e artística portuguesa. Os traços da sua personalidade intelectual estavam definidos: discernimento e ousadia raros como editor, irreverência contundente como comentador, independência e lucidez incómodas como crítico. [...]»
12 comentários:
Li, algumas entrevistas de Luiz Pacheco, e sempre achei deliciosa a maneira irreverente, como ele respondia.
As descrições do seu dia a dia no lar, apesar de satíricas, dão-nos muito que pensar...
Beijitos
Convivi com Luiz Pacheco nessa época, em Caldas, e mais tarde em Lisboa (a famosa "carta a Gonelha"...).
Gostava que o tivesses conhecido (e a outros dois Luises de lá), Luís...
AMIGO
há 8 dias que estou c/uma broncopneumonia, ou seja, deixei o ano velho e entrei no novo neste terrível estado.
Não conhecia Luiz Pacheco.
Muito obrigado pelo teu carinho em 2007, espero continuar a contar com ele durante 2008.
Beijo.
BOM ANO.
"irreverência contundente como comentador, independência e lucidez incómodas como crítico."
Portanto, tudo qualidades que, como se sabe (e se viu), dão imenso dinheiro...
Era uma grande figura!
abraço!
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tudo dito.
comovidamente.
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Fiquei a conhecê-lo melhor através do Câmara Clara da RTP2.
Sim, ele era completamente louco, não fazia curvas às perguntas, nem se esforçava para ser politicamente correcto, Oris...
Sabes, Maria, uma vez estive tentado a visitá-lo num dos lares onde esteve (no principio da década de noventa), para o entrevistar, mas tive algum receio de não conseguir "comunicar" com ele...
Conseguiu ser uma personagem única, sem imitações. Só por isso terá o seu lugar na história...
Espero que já estejas bem, Kalinka.
abraço e melhoras.
O curioso era a forma perfeitamente normal com que ele ligada com todo o género de misérias, sem fazer qualquer concessão aos "compradores de pessoas", Samuel.
Foi um grande exemplo de liberdade criativa, talvez o maior do século XX.
Não, Isabel, disse muito pouco dele, até por não o ter conhecido pessoalmente...
Se ele nos puder ver, lá do alto do pedestral que lhe reservaram, deve estar a sorrir, graças à lata dos tipos que sempre o detestaram (por os mandar para aquele sitio, com todas as letras, por cheirar mal dos pés, e fundamentalmente, por ser único) e agora dizem maravilhas dele...
Eu também vi a parte final, mas já conhecia o documentário. É um bom retrato do Pacheco, Rosa.
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