sexta-feira, janeiro 09, 2009

Quando as Cidades eram Aldeias...

Hoje estive a entrevistar um almadense, que viveu a sua juventude nos anos trinta e quarenta.

Contou-me coisas bastante importantes para um trabalho que estou a realizar.
Uma das coisas que achei mais interessante e partilhável neste espaço, foi a sua noção de que o mundo só mudou de uma forma mais radical, após a Segunda Guerra Mundial.
Disse-me mesmo que até aí, a vida dos seus bisavós, avós e pais, era muito idêntica. A verdadeira revolução social e económica, só começou com a sua geração e seguintes.
Até então Almada era uma cidade pequena, onde as pessoas se conheciam todas umas as outras, completamente limitada no tempo...

Outra coisa extraordinária que ele me disse, foi que apesar de Lisboa ficar no lado de lá do rio, a ida à Capital era um acontecimento extraordinário, especialmente para a criançada. Muitos almadenses só pisaram o solo lisboeta, quando abandonaram os estudos e começaram a trabalhar na "cidade grande"...
Nós hoje não temos qualquer ideia de que as coisas fossem assim...

Este apontamento poderia muito bem ser publicado no "Casario", mas as "Viagens" são o meu espaço mais nostálgico, além disso estou convencido de que esta história também poderia ser contada por caldenses (com a excepção da proximidade da Capital, claro...)

A foto é de Robert Doisneau, "os porteiros"...

14 comentários:

Teresap disse...

Luís: O assunto da tua entrevista foi, ontem, tema de uma das minhas conversas. E nessa altura referi que assisti, nos anos 80, à defesa de uma tese na UNL, cujo presidente de júri, um antropólogo inglês, não conseguiu perceber um dos aspectos desta tese que frisava precisamente, como nas aldeias era vivida a distância entre vizinhos. Não acreditou que havia pessoas que viviam em Cortes de Cima (perto do Fundão... "se me não falha a memória")e nunca tinham ido a Cortes de Baixo, mesmo ali ao lado. A minha conversa de ontem foi com uma inglesa que me punha o mesmo problema, incrédula, embora viva em Portugal há 20 anos... perto de Salir de Matos!
A propósito, não esqueças a festa de Santo Antão, hoje e amanhã.
Mas, continuando, ela acha que ainda se passa o mesmo com pessoas que residem perto dela. Este aspecto torna-se muito interessante quando analisamos quem vai a tal festa ou romaria e não a outra. Por veze, verificamos que os vizinhos nunca vão à festa que fica mais perto da sua terra. E, aqui, não podemos aplicar o aforismo: "Santos de casa não fazem milagres". As questões parecem-me ser outras: relações de vizinhança.
Bom! Este comentário mais parece um post... talvez por isso, raramente comento, Há sempre tanto para dizer!
Aproveito para te agradecer os teus comentários e o teu interesse pelo meu blog.

Elsa Martinho disse...

Outros tempos sem dúvida, tempos em que ir de Mafra à Capital era dia de "festa" dia de vestir as melhores roupas, assim contam alguns por aqui...


Um abraço, Luís.

Luis Eme disse...

é sempre um prazer, ler-te, Teresa, mesmo na caixa de comentários.

é verdade, dantes as pessoas viviam uma vida sem sairem das suas terras. o serviço militar obrigatório também tinha a função social de apresentar mais mundo, aos jovens, que nunca tinham saído da sua "santa terrinha". coisa que se perdeu...

e a festa do S. Antão voltou a passar-me ao lado...

vamos ver se para o ano passo lá...

Luis Eme disse...

é verdade, Elsa.

éramos mais provincianos, mais pobres, mas também mais felizes...

Cristina Caetano disse...

E ainda bem que passei aqui para ler a história. O passado me interessa, sempre. A tua terra é a de meus avós e as boas histórias se perderam com a morte deles, mas posso saber do passado, aqui. Obrigada.

Beijinhos

gaivota disse...

linda enmtrevista, bonito trabalho!
cada vez gosto mais das aldeias e das terras pequenas...
daí ter voltado a viver numa aldeola, que nem vem no mapa (lolololololol) na zona saloia de Loures, e tenho sempre o meu ponto de referência, a minha terra natgal, Caldas que ainda vejo à moda antiga... e a Nazaré que preserva as casas brancas e pequeninas, dos pescadores...
beijinhos

Anónimo disse...

Esta é a história do Portugal pobrete de Salazar.
Um país fechado dentre de si mesmo, sem horizontes.
Só começou a mudar depois de 1945 e depois de 1958, com Delgado.

Foi agradável passar pelo seu Oeste.

as velas ardem ate ao fim disse...

eu estou farta da cidade grande...fartinha!~

um bjo

Paula Crespo disse...

O séc. XX é o grande século, o de todas as viragens. A partir de meados do século, então, os acontecimentos se sucederam em progressão geométrica. E nada será como dantes...
Bjs

Luis Eme disse...

sim, aqui há espaço para as memórias, para o mundo que já não há, Cris...

Luis Eme disse...

eu também, Gaivota.

é tudo mais autêntico e natural.

Luis Eme disse...

é verdade, Eduardo, Salazar tornou-nos mais pequeninos.

e o seu espírito ainda anda aí...

Luis Eme disse...

já somos muitos, Velas...

Luis Eme disse...

pois não, Paula...

virámos tudo de pernas para o ar.