terça-feira, agosto 22, 2006

Férias no Campo


Nos meus primeiros anos de vida a parte maior das férias grandes eram passadas em Salir de Matos, na casa dos meus avós maternos.
Recordo-me que na época não morria de amores pela vida do campo. Quando o avô dava algumas explicações sobre as leis da natureza, era costume fazer ouvidos de mercador.
O avô era um pequeno agricultor a tempo inteiro. Conseguia sobreviver sem dividas, graças a uma gestão muito cuidadosa e a uma vida cheia de trabalho, do nascer ao pôr do sol. Comercializava o vinho, a fruta e a maior parte dos produtos hortícolas que eram cultivados na meia dúzia de fazendas que possuía, ao longo do ano inteiro.
Nos dias longos e quentes de Verão, eu e o meu irmão passávamos parte dos dias na sua companhia, a inventar brincadeiras, de fazenda em fazenda. O fim da tarde era a parte do dia mais agradável, por ser a altura da rega.
Todas as crianças gostam de brincar com água. Nós não éramos excepção...
A Ambrósia e a Várzea eram visitadas diariamente, porque era aí que o avô plantava as novidades, ou seja: tomates, pepinos, pimentos, feijão verde, melancias e melões.
A vista da Ambrósia era extraordinária. No alto das encostas sobranceiras, que se perdiam de vista entre os montes e vales que traçavam uma espécie de linha do horizonte, encontravam-se meia dúzia de moinhos que ainda tinham velas. Rodavam com a força do vento e ainda deviam produzir farinha, depois de esmagarem o trigo, o milho e o centeio.
Na sua baixa existiam dois poços de areia, que depois de serem despejados na rega, não precisavam de muitas horas para voltarem a ficar repletos de água.
O avô regava a horta, ora com o motor ora com o cabaço, criando carreiros, de forma quase labiríntica, que se enchiam de água, sempre em movimento, como se fossem rios. O grande atractivo deste “festim” eram os regos do feijão verde, que encantavam qualquer criança, com as suas canas a quererem furar o céu, atadas na forma triangular das tendas dos índios do “outro oeste”. Quando o feijão já trepava até ao alto das canas e ficava cheio de folhas, eu e o meu irmão aproveitávamos para brincar às escondidas. De quando em vez lá ouvíamos uma reprimenda do avô. Traídos pelo entusiasmo da brincadeira, pisávamos, invariavelmente, as plantas e alguns frutos...

5 comentários:

Luis Eme disse...

Era um mundo completamente diferente... o que faltava em dinheiro sobrava em trabalho.
Concordo plenamente, que estas viagens no tempo fazem bem à saúde.

Pedro Martins disse...

Este seu novo blogue foi uma bela surpresa.

Eu gosto muito das Caldas (talvez seja mais correcto dizer de Caldas). Tenho por lá um ou outro amigo e gente conhecida.

Gosto das Caldas do Parque D. Carlos e dos museus, da praça da fruta e da igreja de N.ª Senhora do Pópulo. Gosto das Caldas de Malhoa, de António Duarte e (adoptivamente) de Rafael Bordalo Pinheiro. E gosto da Foz do Arelho.
Fico leitor.

Luis Eme disse...

Obrigado pela visita Pedro.
As Caldas e toda a região do Oeste é bastante bonita, cheia de atractivos.

Anónimo disse...

Nasci em Sta. Catarina, mas fui para a cidade com um ano de idade e essas vivências eram apenas reservadas às "férias de verão"... aí tive o gosto das fazendas, a Cobrada, os Soisos, a Várzea, onde ia com o meu avô Lúcio, tendo como transporte um burro, com os alforges que traziam os bens de primeira necessidade. Ah, já esquecia as Penas, onde bebia água fresca utilizando uma folha de couve, no ribeiro, junto da azenha, depois de ter comido uns figos lampos... uma delícia!
Lembram-se do capitão Henrique Calado, campeão dos saltos de hipismo? (eu tinha visto uma prova de hipismo no Campo da Mata) pois, também me quis armar em "Henrique Calado, o burro não gostou e dei um trambulhão de todo o tamanho na estrada de terra que ligava a Granja Nova a Santa Catarina... essa infância que não se esquece...

Luis Eme disse...

Estas peripécias também estavam reservadas nas nossas "férias grandes" (de Junho a Setembro...).
Apesar das dificuldades com que se vivia no campo, a vida era muito mais bela e simples.