Quase todos nós temos uma Canção do Mar, povoada de imagens memoráveis que conseguem dar cor e som aos nossos melhores dias passados, rente ao Oceano.
Embora a minha canção esteja sempre presente em qualquer pedaço do Atlântico, ganha uma sonoridade mais límpida e esfuziante rente às águas mexidas, que beijam com ardor o areal da Foz do Arelho, a praia da minha vida.
E pensar que, com apenas cinco anos, fui atirado para as águas geladas da praia da Foz do Arelho por um vizinho anormal, juntamente com o seu filho, meu amigo de infância, numa manhã longínqua, completamente cerrada pelo nevoeiro matinal que tomava conta das praias situadas a norte do Cabo Carvoeiro, com demasiada frequência.
Estes episódios estúpidos acabam, muitas vezes, por marcar para sempre a nossa relação com o mar. Felizmente consegui dar um passo em frente e ultrapassar esse primeiro contratempo, graças a uma meninice cheia de traquinices à beira mar.
Deve ser por isso que as imagens projectadas na minha Canção do Mar têm como personagens uma mão cheia de amigos de infância, e não há vestígios de gente «tamanho grande».
O facto de ter um irmão dois anos mais velho, fez-me crescer um palmo e partilhar, precocemente, as mil e uma aventuras vividas no começo de adolescência pelo seu grupo de amigos.
Formávamos, diariamente, um cordão de bicicletas nas margens da estrada perigosa da Foz, sem medir os perigos de quatro rodas que passavam por nós, a várias velocidades.
As nossas férias prolongavam-se de Junho a Setembro. Chegávamos antes das barracas de pano branco, alugadas à quinzena, e despediam-nos depois de as recolherem, com a sensação feliz de que a praia era nossa.
Atrás daquele mar delicioso ficava a bela Lagoa de Óbidos, onde, quase todos aprendemos a nadar, sem mestre. Contávamos apenas com o auxilio precioso dos mais velhos, atentos às picardias que nos faziam emergir até à superfície sinónimos de «maricas», à espera que ganhássemos a coragem necessária para desafiarmos as zonas onde se perdia o «pé»...
Nos dias que o nevoeiro cobria a praia de cinzento, oferecendo-nos uma aragem húmida e salgada, sentava-me na areia, com o olhar preso às ondas indomáveis que deitavam sons de liberdade e rebeldia para quem as quisesse escutar, aprendendo a soletrar a bonita canção do mar.
Era quase sempre «acordado» pelos meus companheiros que já tinham desencantado uma bola e estavam preparados para fazer valer os seus atributos de futebolistas de praia.
Pelo caminho ficaram alguns amores que o vento quente e as águas calmas de Verão, não deram grandes margens no prazo de validade. Sobra a saudade dos banhos de mão dada, dos beijos salgados, num tempo de inocência em que o sexo era quase uma miragem na adolescência...
Por vezes penso que já não sei toda a bonita letra e música da “Canção do Mar”, por me sentar cada vez menos à beira mar a ouvir, encantado, o melhor hino que conheço à liberdade...
Mesmo que esteja na Costa de Caparica, consigo voltar ao meu mar alto da Foz do Arelho... e reencontrar a criança feliz que fintava as ondas e atirava seixos grandes e alguns pedaços de madeira, deitados borda fora, às águas agitadas da praia da minha vida...
Embora a minha canção esteja sempre presente em qualquer pedaço do Atlântico, ganha uma sonoridade mais límpida e esfuziante rente às águas mexidas, que beijam com ardor o areal da Foz do Arelho, a praia da minha vida.
E pensar que, com apenas cinco anos, fui atirado para as águas geladas da praia da Foz do Arelho por um vizinho anormal, juntamente com o seu filho, meu amigo de infância, numa manhã longínqua, completamente cerrada pelo nevoeiro matinal que tomava conta das praias situadas a norte do Cabo Carvoeiro, com demasiada frequência.
Estes episódios estúpidos acabam, muitas vezes, por marcar para sempre a nossa relação com o mar. Felizmente consegui dar um passo em frente e ultrapassar esse primeiro contratempo, graças a uma meninice cheia de traquinices à beira mar.
Deve ser por isso que as imagens projectadas na minha Canção do Mar têm como personagens uma mão cheia de amigos de infância, e não há vestígios de gente «tamanho grande».
O facto de ter um irmão dois anos mais velho, fez-me crescer um palmo e partilhar, precocemente, as mil e uma aventuras vividas no começo de adolescência pelo seu grupo de amigos.
Formávamos, diariamente, um cordão de bicicletas nas margens da estrada perigosa da Foz, sem medir os perigos de quatro rodas que passavam por nós, a várias velocidades.
As nossas férias prolongavam-se de Junho a Setembro. Chegávamos antes das barracas de pano branco, alugadas à quinzena, e despediam-nos depois de as recolherem, com a sensação feliz de que a praia era nossa.
Atrás daquele mar delicioso ficava a bela Lagoa de Óbidos, onde, quase todos aprendemos a nadar, sem mestre. Contávamos apenas com o auxilio precioso dos mais velhos, atentos às picardias que nos faziam emergir até à superfície sinónimos de «maricas», à espera que ganhássemos a coragem necessária para desafiarmos as zonas onde se perdia o «pé»...
Nos dias que o nevoeiro cobria a praia de cinzento, oferecendo-nos uma aragem húmida e salgada, sentava-me na areia, com o olhar preso às ondas indomáveis que deitavam sons de liberdade e rebeldia para quem as quisesse escutar, aprendendo a soletrar a bonita canção do mar.
Era quase sempre «acordado» pelos meus companheiros que já tinham desencantado uma bola e estavam preparados para fazer valer os seus atributos de futebolistas de praia.
Pelo caminho ficaram alguns amores que o vento quente e as águas calmas de Verão, não deram grandes margens no prazo de validade. Sobra a saudade dos banhos de mão dada, dos beijos salgados, num tempo de inocência em que o sexo era quase uma miragem na adolescência...
Por vezes penso que já não sei toda a bonita letra e música da “Canção do Mar”, por me sentar cada vez menos à beira mar a ouvir, encantado, o melhor hino que conheço à liberdade...
Mesmo que esteja na Costa de Caparica, consigo voltar ao meu mar alto da Foz do Arelho... e reencontrar a criança feliz que fintava as ondas e atirava seixos grandes e alguns pedaços de madeira, deitados borda fora, às águas agitadas da praia da minha vida...
1 comentário:
Pois é, até as carreiras, dos "Capristanos" (que já não recordo) e dos "Claras" merecem espaço nas nossas memórias... Nesta altura os carros ainda eram um objecto de "luxo" ao alcance de poucos lares.
As carreiras andavam quase sempre cheias, ao contrário do que sucede nos nossos dias.
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