Esta fotografia de José Águas a erguer a Taça dos Campeões Europeus tem um significado especial para mim. Vou mesmo mais longe, embora não esteja completamente certo disso, penso que é ela a grande responsável por ser benfiquista.
Sem saber explicar muito bem o porquê, sei que na minha meninice, ficava parado, deslumbrado, a olhar para esta imagem vitoriosa, pendurada na sala da casa de um dos meus vizinhos.
Claro que não estou aqui para falar do meu “benfiquismo”, que nunca foi muito doentio, nem mesmo na adolescência. Estou aqui sim, para salientar a importância das palavras que trocamos com os outros, mesmo sabendo que se vive num tempo, quase sem espaço para conversas, para lá do bom dia e boa tarde. A convivência nos lugares onde vivemos é o melhor exemplo do que acabo de dizer.
O que é facto, é que conversar continua a ser uma prática deliciosa. E quando o interlocutor é uma pessoa por quem sentimos empatia, somos capazes de estar horas e horas à conversa, sem dar qualquer espaço ao silêncio. Foi exactamente isso, que aconteceu na tarde de ontem, na esplanada de um pequeno café de Cacilhas.
O meu encontro com António Cagica Rapaz - um nome que é facilmente identificável por todos aqueles que acompanhavam o futebol na década de sessenta e princípio de setenta, pois pisou os nossos principais relvados com as camisolas da Académica, CUF e Belenenses. -, foi pretexto para uma conversa extremamente rica, sobre pessoas, lugares, livros, jornais, futebol, política, etc. Mas o melhor da conversa, foi falarmos de algumas pessoas que nos diziam muito, pelas mais variadas razões.
Um pequeno exemplo da nossa conversa, foi o “encontro” com dois extraordinários futebolistas, que se existir futebol no paraíso, continuam a marcar grandes golos. Estou a falar de Matateu e José Águas. Cagica complementou a ideia que eu tinha destes magos da bola, exímios na arte de meter golos, que por não serem do meu tempo, não me deram a felicidade de os puder ver jogar, ao vivo.
Matateu era um espectáculo dentro e fora dos relvados. A facilidade com que marcava golos e a sua alegria natural, faziam que tudo á sua volta se transformasse numa festa. Amava a boa vida e gostava de estar sempre com uma “fresquinha” nas mãos. Não tenho dúvidas que a sua vida poderia dar um grande filme, embora não existam actores com capacidade para fazerem de “Matateu”, dentro dos relvados...
José Águas foi um dos melhores jogadores portugueses a movimentar-se dentro de área e um dos avançados mais elegantes do nosso futebol. Ainda tive a felicidade de o conhecer, na minha actividade jornalística, e fiquei com a melhor das impressões.
Obrigado Cagica, pelas palavras, pelos livros e pela amizade...
9 comentários:
Há momentos assim, em que conseguimos numa só tarde viver toda uma geração.
Podes crer Pedro. É uma pena esquecermos com demasdiada facilidade, que é a falar que nos entendemos.
Obrigado pelas palavras elogiosas, e sobretudo pela publicidade feita a este blogue na "Estrada de Macadame", através de uma excelente crónica publicada na "Gazeta das Caldas", com um título, também ele, especial: «Ó Salir de Matos / terra de mil encantos...»
:)
Não sou grande apreciadora de futebol e do Benfica ... enfim, ainda menos :-). Contudo, li o teu artigo com todo o agrado. Há momentos e pessoas como essa com quem estiveste - especiais!
Um beijo
Imagino que deves ser Portista, Pink, o que é perfeitamente natural, dadas as tuas origens. A gente do futebol costuma dizer, que ninguém é perfeito... mas isso é mais uma graça, que outra coisa.
Como deves ter observado, este blogue é mais pessoal que o "Casario", porque é escrito de memória...
Pois é Cagica, depois da cumplicidade das palavras ditas, surge agora a cumplicidade das palavras escritas... neste "Libero e Directo", que viaja por todos os espaços do futebol, onde até "O Menino" é gente importante, vestido de azul, claro.
E...nessa conversa sobre futebol não falaram do homicídio do árbitro José Azeredo em Selir? ;)
Por acaso não falámos da morte do árbitro, falámos sim da minha ingenuidade quando escrevi o romance "Bilhete para a Violência" há quinze anos. Nessa altura pensava que a maior parte dos árbitros eram honestos, quando na realidade, se passa exactamente o contrário...
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