sábado, outubro 27, 2007

Vendedores da Sorte

Sempre me fez confusão os "vendedores da sorte", serem pessoas tão desvalidas na vida, apesar de andarem de rua em rua a apregoar, «quem quer a sorte grande?», acrescentando o nem sempre convincente, «aproveite, anda hoje à roda».
Todos a queremos, mais agora que os tempos estão mais próximos das histórias de Dickens... mas e tu cauteleiro? Chegam-te os trocados que algum sortudo, te poderá dar, agradecido pela tua insistência?...

Recordo que no final da rua onde cresci também havia um casal de meia-idade que vendia jogo. Lembro-me que ele usava um boné de pala, igual aos dos arrumadores de carros oficiais, tinha uma voz rouca e no regresso a casa, vinha quase sempre aos esses pela rua abaixo.
Viviam para lá de um portão de chapa, que escondia uma série de anexos, ocupados por gente pouco considerada pela vizinhança, onde também morava uma prostituta reformada, conhecida como "varina" (sobre a qual também existe uma história, um pouco picante, que teve como protagonista o meu irmão...). Tinha uma série de filhos e alguns netos, quase todos com pouca vontade de trabalhar. E lá andavam eles "velhos", a sustentar todas aquelas bocas, ela a vender tremoços e ele cautelas...
O álcool era a sua perdição e também o seu afago...

18 comentários:

Maria disse...

Às vezes o desamor ou a dureza da vida leva as pessoas a refugiarem-se, normalmente no álcool, para "não pensarem"....
... se calhar é quando pensam mais...

Bom domingo, Luís

Maria P. disse...

É a "sorte" da vida de cada um...para esquecer ou pensar de outra forma, existem os escapes, álcool e outros tantos.

Bom Domingo*

Rosa dos Ventos disse...

Belo e trite retrato de vidas sem sorte!

Abraço

isabel mendes ferreira disse...

vendedores dos sonhos dos outros!!!!


_________________


boa noite Poeta.



beijo.

Pitanga Doce disse...

Também conheci um cauteleiro assim. Vivia numa situação degradante até que foi levado a um lar de idosos da igreja. Talvez tenham essa vida porque não há muitas opções para eles. A maioria não tem profissão e os anos vão passando, e o vinho a os acompanhar...é triste.

abraços caro Luis.

Anónimo disse...

... ou a "sorte" dos vendedores, nao é?

Beijinho Luis e b feriadito, que eu vou ao parque pois parece que há por lá uma noite de Halloween
;*

Luis Eme disse...

É curioso, que quase todos vocês, só pegaram na dica do álcool, Maria.

E não no facto destas pessoas, andarem a oferecer a sorte grande nas ruas, e conviverem diariamente, com a sorte pequena...

Luis Eme disse...

O que seria da vida, sem escapes, Maria P...

Luis Eme disse...

Vidas sem sorte, apesar de distribuirem a "Grande", Rosa...

Luis Eme disse...

São isso mesmo, Isabel:

«Vendedores dos Sonhos dos Outros».

Podia ser o título deste "post" ou dum conto, ou até poema...

Luis Eme disse...

É uma daquelas profissões, catalogadas de menos dignas e procuradas pelos menos bafejados pela sorte, quase ironicamente, Pitanga...

O vinho é mais um artefacto, a puxar para baixo...

Luis Eme disse...

O parque é um lugar óptimo para uma "noite de bruxas".

Espero que tenha sido divertido, Cor do Mar...

Maria disse...

Será por não jogar na lotaria, Luís....

Cristina Caetano disse...

Será esse o motivo de eu não ter vontade de apostar? Eu, o jogo, as loterias: não combinamos. Quando o prêmio acumula, enchem tanto os meus ouvidos, que acabo apostanto para ver se a chateação passa...mas sem fé alguma, confesso.
Beijo

Luis Eme disse...

Fizeste-me sorrir, Maria...

Luis Eme disse...

Eu também raramente jogo, a qualquer coisa. E quando o faço, nunca estou muito motivado, Cris...

Provavelmente, não nascemos para enriquecer com a sorte...

APC disse...

É... Irónico, mesmo. Mas a sorte é isso mesmo... É alea!

Volto quando o irmão autorizar a publicação da história picante! :-)

Luis Eme disse...

O problema não é esse, acho que o meu irmão nem se chateia...

Um dia destes conto-a, embora seja ligeiramente (este ligeiramente depende de quem lê, claro...) "ordinária", APC...