Gosto de rugas.
Daquelas rugas que significam vida, que são o mapa de uma caminhada desigual pela estrada, que nos trás e nos leva daqui...
Claro que não tenho nada contra as pessoas que disfarçam ou tentam esconder as rugas. Nem tão pouco percebo porque continua a existir uma dualidade tão grande nos critérios estéticos definidos pela sociedade, entre homens e mulheres. Embora as coisas comecem a mudar (a barriga dos homens por exemplo está a começar a deixar de ser sexy...), a mulher perde com mais facilidade a batalha da beleza, porque lhe exigem que esteja sempre apresentável. É por isso que é uma maior cliente dos cremes de beleza, das operações estéticas e de outros truques usados. E claro, não podemos esquecer a questão económica, pois há cada vez mais gente a viver deste negócio da "beleza"...
Mas não gosto dos exageros. Tal como não gosto de mulheres de bigode, também não gosto dos quadros de pintura ambulantes, que circulam aqui e ali...
Gostava das rugas da minha avó, tal como gosto das rugas da minha mãe...
Mas não escondo que há aqui, neste ponto de vista, ares sexistas ou até machistas. Não me lembro de olhar para as rugas do meu avô ou do meu pai, da mesma forma que olhava para as da avó e olho as da mãe. Embora existissem, não dava por elas...
A única coisa que sei, é que gosto de rugas...
A fotografia é de Augusto Rocha Soares.
24 comentários:
Chego a estas "Viagens" para te ler (com prazer) e comentar, mas tu levas-me para longe no tempo, soltam-se as minhas memórias e ...em vez de palavras, surgem imagens do passado: a Avó Rosa com seu rosto pequeno e tão marcado por essas rugas que referes, o Avô Joaquim, e as mãos "duras" que a vida fez, e...e é fantástico o que tu escreves.
Beijos.
as rugas são de facto uma memória que o tempo imprime na pele. mas não gosto delas... gosto da foto!
beijinho
Nesta imagem pareceu-me ver as rugas da minha avó materna...
Os meus avôs morreram cedo, daí não terem rugas (que me lembre). Mas as mulheres na família têm durado mais, daí ter "viajado ao passado"....
Um abraço, Luís
És um querido, ainda que, pelo menos neste caso, tenha certeza que não fizeste de propósito. Adorei o texto, não só pela parte das memórias, mas por ser tão justo e equânime na avaliação de como a beleza e o negócio que fazem dela tem imposições sociológicas que as pessoas parecem ignorar e preferir taxar com lugares comuns.
Como disse, uma vez, o Carlos Narciso: "Deve ser bom ser teu amigo".
Abraço com rugas de sorrisos satisfeitos.
Gosto tanto de ler-te! De rugas, também.Caso curioso, não me lembro das do meu pai mas a minha mãe ia ficando cada vez mais bonita à medida que lhe ia aparecendo mais um daqueles risquinhos que lhe partiam do olhar, dos lábios, das bochechas que tantos beijos levaram.
És um querido porque me fizeste escrever sobre traços que amo.
Beijinhossssss
Olá Luis
Também eu gosto de rugas.
Das rugas que significam vida, que pertencem a seres cheios de histórias belas de Vida, para nos contar.
Hoje, convido-te para vires ao cinema!
Bom domingo.
Não gosto nada de rugas, mas gosto das tuas palavras.
A cada ruga o seu pedaço de história.
Conheço-lhes o "significado", mas nao gosto de rugas...nao gosto nada.
um abração amigo Luis
(isto por cá vai tudo calmo, e já sem chocolate)
Que bom, levar-te de "viagem", Maria Maio...
As rugas raramente têm uma boa relação com as mulheres, Alice...
Talvez as mulheres vivam a vida com mais intensidade, sintam as coisas de uma forma que ficam com mais marcas da vida, Maria...
Pois... é isso, Ida.
Provavelmente as mulheres sorriem mais, e com mais satisfação (tal como também choram mais...). Não escondem as emoções como nós e isso deixa as marcas de vida, as rugas...
Que bom, Sophiamar, fazer-te escrever sobre traços que amas...
Obrigado pelo convite, Kalinka...
Pelo menos salvam-se as palavras, Joana...
É isso, M, histórias de vida...
Eu sei, Cor do Mar, por isso é que os fabricantes de cremes de beleza, se "encantam" com a beleza feminina...
A mulher que mais amei, foi a minha avó, lembro-me dela já cheia de rugas e lembro-me da ternura que essas rugas me inspiravam.
Era linda, principalmente quando fazia beicinho como um bebé. Ainda hoje fico a sorrir com saudade quando imagino a minha avó e o seu beicinho.
Tenho 40 anos e estou a começar, a difícil, aprendizagem de gostar das minhas rugas.
Não é nada fácil, digam o que disserem!
A sociedade em que vivemos faz tudo para que vejamos as nossas rugas como inimigos a abater, e que na impossibilidade de as destruir, pelo menos consigamos disfarçá-las bem.
Ensinam-nos a tentar disfarçar o tempo vivido e parar o que está para vir.
Mas o tempo não pára e deixa marcas por onde passa.
Marcas de todas as formas, algumas em forma de ruga, outras em forma de ferida até.
As feridas, menos visíveis, já aprendi a amar, quanto ás as rugas estou a caminho de alcançar esse amor, não as odeio o que já é um bom começo não é?
Incomoda-me mais aquela pontinha de tristeza que sei que tenho no olhar, essa sim, estou determinada em atenuar fazendo tudo para ser um pouco mais feliz.
Estou num ponto de viragem.
Quem sabe se vai a tristeza do olhar e me vem o amor às minhas próprias rugas.
Isabel
Tens razão, Isabel, essa pontinha de tristeza, é que é mesmo de eliminar...
Em relação às rugas, a sociedade não muda os conceitos de beleza, porque sabemos que se trata de um negócio da china, para os fabricantes dos ditos produtos...
A tendência é nós também começarmos a ter essas preocupações (foi por isso que inventaram os "metrossexuais"...).
Gostei de te ver por cá, Isabel...
Luís adoro Rugas! Adoro pintar gente com rugas! Velhos pescadores, ou mulheres do campo.
As minhas rugas são uma facto pelo desgaste do tempo que teima em deixar a sua marca. Aceito-as como um testemunho de tudo o que sei e do que ainda tenho de aprender.
Beijinho
As rugas são marcas e marcos de vida, Franky...
esse senhor é o meu avô! boa escolha de foto
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