A Feira Anual de 15 de Agosto decorria durante pelo menos uma semana e era o acontecimento mais importante das Caldas da Rainha, nos já longínquos anos sessenta. As suas tendas de comércio e diversão eram um autêntico centro comercial ambulante, cheio de atractivos para miúdos e graúdos.
Normalmente nesta época recebíamos a visita dos meus tios de Lisboa. Eu e o meu irmão ficávamos sempre satisfeitos, porque a sua chegada era sinónimo de prendas, compradas na feira. Apesar da aparente proximidade, a Capital estava mais distante que os normais 100 quilómetros das placas de informação, porque a viagem era feita pela estrada nacional, em quase três horas. Nesta época as auto-estradas não passavam de uma miragem, de Norte a Sul.
A Feira era um acontecimento de tal maneira importante, que trazia muita gente de fora de visita à cidade. Além dos habitantes das aldeias próximas e das cidades limítrofes, vinham autocarros de excursões, oriundas de todo o país, que enchiam os poucos lugares de estacionamento existentes e alguns campos baldios.
Nesta altura a Feira realizava-se na parte superior da Mata D. Rainha Leonor, ocupando as suas principais artérias com barracas de pano que vendiam quase todo o tipo de bugigangas – as autorizadas na época pelo "salazarismo"... – desde roupa a outros objectos domésticos, passando por electrodomésticos e máquinas agrícolas. Havia também as tendas de comes e bebes, onde a mãe comprava sempre uma dúzia de farturas, que se comiam quando chegávamos a casa com café (de cafeteira claro... ainda não haviam as “modernizes” do café expresso, pelo menos para nós). Também havia um espaço para venda de gado, afastado, que era o lugar de eleição dos agricultores.
Eu e o meu irmão ficávamos sempre em pulgas, por chegar à parte que mais gostávamos, a área das diversões. Costumavam ocupar o campo de futebol do Caldas e as imediações com o habitual carrossel mágico, a pista de carrinhos dos choques, as motas da morte (que nos despertavam tanta curiosidade e que a mãe nem nos deixava aproximar, porque era perigoso...), outras pistas de carros para a pequenada, e claro, o circo, o divertimento mais apelativo para todas as crianças pela sua variedade artística.
O “Maior Espectáculo do Mundo” era sempre anunciado com pompa e circunstância nas ruas da cidade. Ainda me lembro de alguns dos seus nomes: o Circo Mariano era talvez o mais famoso, mas também nos visitavam o Circo Mundial, o Americano, entre outros mais vulgares. Foi no interior das suas tendas, sentado nos bancos corridos de madeira da geral, que vi pela primeira vez palhaços, trapezistas e até alguns animais roubados à selva, com os leões, os tigres e os elefantes em destaque. Por vezes íamos espreitar às jaulas, de mão dada com o pai, grande apaixonado pelo mundo dos animais.
Neste Portugal do final dos anos sessenta, era tudo tão diferente, graças à pobreza “franciscana” decretada pelos poderes político e eclesiástico, sempre de mão dada durante a longa viagem salazarista e marcelista...
Normalmente nesta época recebíamos a visita dos meus tios de Lisboa. Eu e o meu irmão ficávamos sempre satisfeitos, porque a sua chegada era sinónimo de prendas, compradas na feira. Apesar da aparente proximidade, a Capital estava mais distante que os normais 100 quilómetros das placas de informação, porque a viagem era feita pela estrada nacional, em quase três horas. Nesta época as auto-estradas não passavam de uma miragem, de Norte a Sul.
A Feira era um acontecimento de tal maneira importante, que trazia muita gente de fora de visita à cidade. Além dos habitantes das aldeias próximas e das cidades limítrofes, vinham autocarros de excursões, oriundas de todo o país, que enchiam os poucos lugares de estacionamento existentes e alguns campos baldios.
Nesta altura a Feira realizava-se na parte superior da Mata D. Rainha Leonor, ocupando as suas principais artérias com barracas de pano que vendiam quase todo o tipo de bugigangas – as autorizadas na época pelo "salazarismo"... – desde roupa a outros objectos domésticos, passando por electrodomésticos e máquinas agrícolas. Havia também as tendas de comes e bebes, onde a mãe comprava sempre uma dúzia de farturas, que se comiam quando chegávamos a casa com café (de cafeteira claro... ainda não haviam as “modernizes” do café expresso, pelo menos para nós). Também havia um espaço para venda de gado, afastado, que era o lugar de eleição dos agricultores.
Eu e o meu irmão ficávamos sempre em pulgas, por chegar à parte que mais gostávamos, a área das diversões. Costumavam ocupar o campo de futebol do Caldas e as imediações com o habitual carrossel mágico, a pista de carrinhos dos choques, as motas da morte (que nos despertavam tanta curiosidade e que a mãe nem nos deixava aproximar, porque era perigoso...), outras pistas de carros para a pequenada, e claro, o circo, o divertimento mais apelativo para todas as crianças pela sua variedade artística.
O “Maior Espectáculo do Mundo” era sempre anunciado com pompa e circunstância nas ruas da cidade. Ainda me lembro de alguns dos seus nomes: o Circo Mariano era talvez o mais famoso, mas também nos visitavam o Circo Mundial, o Americano, entre outros mais vulgares. Foi no interior das suas tendas, sentado nos bancos corridos de madeira da geral, que vi pela primeira vez palhaços, trapezistas e até alguns animais roubados à selva, com os leões, os tigres e os elefantes em destaque. Por vezes íamos espreitar às jaulas, de mão dada com o pai, grande apaixonado pelo mundo dos animais.
Neste Portugal do final dos anos sessenta, era tudo tão diferente, graças à pobreza “franciscana” decretada pelos poderes político e eclesiástico, sempre de mão dada durante a longa viagem salazarista e marcelista...
O óleo que acompanha o texto é da autoria de José Malhoa, e retrata os excessos populares proprios das feiras e romarias. O seu título é "Basta Pai!" e está datado de 1910.
4 comentários:
Parece-me que esta é uma viagem pela memória... bonitas recordações estas que aqui nos apresentas para partilhar connosco. Fizeram-me lembrar, quando ainda gaiata (entre os meus 6 a 10 anos), acompanhava o meu avó paterno nas excursões que ele organizava lá na aldeia (a Lapa, Cartaxo). E um dos locais meus preferidos era, precisamente, as Caldas da Rainha (adorava os pacotes de cavacas que ele me comprava)... e várias vezes fomos a essa feira de que tu falas. Estava a ler o teu texto e a recordar as visitas que lá fiz com os meus avós e até me emocionei. Um grande abraço e até logo, no Café com Letras.
A ideia deste "blogue" é escrever histórias simples de pessoas e lugares especiais, para mim claro.
Claro que é muito importante conseguir partilhar estas minhas "viagens no tempo" com outras pessoas, como foi o teu caso, Minda...
Obrigado Zé do Carmo pela visita a este espaço no nosso "Oeste".
Parabéns também pelo belo poema a que o José Cid deu voz.
A magia da feira do 15 de Agosto era vivida, com antecedência, com uma magia inarrável, os "robertos", o tiro ao alvo, os carrocéis, a rodar e alguns miúdos em cima dos animais...subiam e desciam...era folia sem par...mas também, recordo aqueles que, só podiam ver e rir e se sentiam felizes por observar...nem todos podiam participar, daquela brincadeira... e as cavacas eram um luxo, e comer uma talhada de melão ou melancia? hum que maravilha...Para irem à feira iam a pé, para poupar, para darem uma volta nos carrinhos de choque, o regresso, era feito nas famosas carreiras dos capristanos, a garagem era um mar de gente, a espera da sua...Era sempre um dia vivido com muita alegria...de pequeninas coisas se faz... a felicidade. Um bem haja, aos meus pais heróis, que me encheram a meninice destas pequenas coisas.
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