sexta-feira, outubro 27, 2006

Romeu Correia Recordado nas Caldas



O cinquentenário da fundação do Conjunto Cénico Caldense foi motivo para uma série de actividades culturais, com o objectivo de recordar alguns dos melhores momentos desta colectividade artística. Uma destas actividades foi uma exposição bio-bibliográfica, no histórico e renovado Café Central das Caldas da Rainha.
Nesta exposição encontrei uma pequena pérola: uma das vitrines prestava homenagem a Romeu Correia, o grande escritor e dramaturgo de Almada - cidade onde vivo -, com recortes da peça, o programa e também o livro “O Vagabundo das Mãos de Ouro”.
A peça foi representada nas Caldas da Rainha pelo CCC em 1968 (tinha apenas quatro anos...) e disseram-me que foi um sucesso na época...
Os anos sessenta foram os anos de ouro de Romeu como dramaturgo. As suas peças estiveram em cena de Norte a Sul, com dezenas de encenações, quer de companhias profissionais quer de grupos amadores (como foi o caso do CCC). Houve inclusive várias peças suas transmitidas na televisão.
Nas muitas conversas que travámos, Romeu confidenciou-me, mais que uma vez, que uma das suas mágoas foi ter sido muito mais vezes representado no tempo da ditadura (sempre com os olhos bem atentos dos censores...), que em plena democracia.


Agradeço desde já a amabilidade de Natacha Narciso e da "Gazeta das Caldas", que me cederam a imagem que ilustra esta crónica.

6 comentários:

Maria disse...

Lembro-me muito bem desta peça e de alguns dos seus artistas amadores.
Velhos tempos, desafiando tudo e todos.
Velhos tempos, em que na Praça da (Fruta) República se passeavam o Luiz Pacheco, o Luis Ferreira da Silva e o Luis Barreto. 3 "manos" do melhor...

Luis Eme disse...

Maria gostaria que me respondesse a duas questões, se quiser, claro. Como é que uma cidade com estas tradições culturais e democráticas, se transformou, depois de Abril, numa terra tão conservadora?
O que é que aconteceu a todos estes democratas e amantes da cultura?

Maria disse...

Luís
A questão não é se eu quiser responder, mas sim se eu souber. E não sei. É uma pergunta que me faço há muito tempo, da mesma forma que me pergunto porque é que Peniche, uma terra de pescadores, com a prisão e sabendo toda a gente quem lá estava e para que servia, andou anos a fio a votar à direita. E não são muitas as pessoas de esquerda em Peniche.

No que respeita a Caldas, houve muita gente desses idos anos 60 que veio para a cidade grande (como nós), outros estavam em Caldas de passagem, alguns ainda lá permanecem. Outros já não estão entre nós.
Só que o que era mobilizante antes de Abril de 74 deixou de o ser pelas mesmas razões. Felizmente!

Não era difícil o Zeca ou o Adriano irem a Caldas, ao Inferno d'Azenha, para uma noite de cantigas ou apenas de cavaqueira. Também não era difícil que os senhores de gabardine e óculos escuros passassem por lá, "por acaso" nessas noites (e também noutras).

Penso que há ainda um núcleo de gente empenhada em dinamizar a cidade culturalmente (veja-se o caso da Livraria 107, que promove sessões e debates com escritores diversos), mas o que é facto é que estamos todos 30 anos mais velhos...

Chegará para justificação? Também não sei.
Um abraço

Luis Eme disse...

Claro que chegou Maria...

O que eu sinto em relação às Caldas, e por exemplo a Almada, é que a Cidade das Termas é muito mais fechada e "asfixiante"...
Na Margem Sul as coisas fluem de uma forma mais natural... embora também já se notem cercos, aqui e ali...

Maria disse...

Penso que temos que levar em conta o tecido social de cada uma das cidades: em Caldas "impera" pequena/média/alta burguesia, Almada começou por ser um dormitório de Lisboa.
A situação hoje transformou-se em Almada, e penso que muito se deve ao empenho dos seus autarcas. Há muita gente jovem a viver em Almada.
Caldas parou um pouco no tempo em termos de mentalidades, embora o desenvolvimento industrial se faça sentir pontualmente.
Não me alongo mais, pois penso que este não é o espaço indicado para este tipo de "discussão".
Bom domingo

Anónimo disse...

Lembro-me muito bem do "Vagabundo das Mãos de Oiro" pelo CCC. Vi várias representações e uma delas em Cascais no Gil Vicente com a presença do Romeu Correia.

Não tenho ideia que Caldas tenha sido alguma vez um grande centro cultural. Teve grandes figuras da Cultura que nasceram lá ou passaram por lá. Era um sítio também onde muitos intelectuais iam "A banhos" muitos outros iam passar o verão na Foz. Foi uma cidade para onde foram muitos refugiados da Alemanha nazi - isto pode dizer muito em termos de cultura. Foi na Igraja de Nª Srª do Pópulo que se estreou o Monólogo do Vaqueiro de Gil Vicente.

Mas convém lembrar que as pessoas de Caldas e arredores são conhecidas pelos "águas mornas" (sem querer ofender) e não apenas pela água quente das suas termas mas pela sua passividade em relação às coisas. As Caldas estão transformadas num depósito de cimento sem gosto, fruto de poder demasiado das autarquias para as competências que têm. Muita coisa foi destruída por essa cidade e substituída por porcaria. Uma delas o Teatro Pinheiro Chagas. Um outro cinema de que me não lembro o nome que existia dentro do Parque.