terça-feira, agosto 28, 2007

As Noites Escuras de Salir de Matos


Quando a electricidade chegou a Salir de Matos, não entrou logo em todos os lares...
Penso que por razões económicas, pois as casas mais afastadas do centro da aldeia tinham de pagar mais pelas "puxadas", porque a requisição era paga ao metro (penso que ainda é assim...).
A única coisa que sei é que a casa dos avós foi das primeiras a ter "luz", por estar bem localizada e também por o meu tio Zé ser electricista e ter feito toda a instalação rapidamente.
Aliás, não me lembro da casa da avó sem a luminosidade das lâmpadas (esquecendo as "escuras" ocasionais, em que tínhamos de recorrer aos candeeiros a petróleo e a velas).
Mas como disse anteriormente, havia muitos lares, sem electricidade, em que ainda se combatia o escuro da noite com candeeiros e candeias. Lembro-me de visitar a casa dos pais de uma tia por afinidade, e encontrar sombras e rostos mal iluminados, a tomarem a ceia...
Mas onde se notava mais a falta de electricidade era nas ruas. Pois havia apenas meia dúzia de candeeiros, dispersos, aqui e ali. Nas noites de Lua Nova, tinhamos de andar com cuidado, utilizando por vezes mesmo uma lanterna (também a petróleo).
Recordo que estas caminhadas no escuro em grupo eram um aventura deliciosa para mim e para o meu irmão, sempre prontos a fazer traquinices, especialmente quando estavámos acompanhados de alguém com medo da escuridão. Além de atirarmos objectos e pedras para a frente, também fingíamos ver e ouvir coisas estranhas, aqui e ali...

A imagem que ilustra este texto é da autoria de Eduardo Luiz.

9 comentários:

Maria P. disse...

E dizem que as noites de Lua Cheia também perigosas...


Beijinho*

Maria disse...

Imagino-te a imaginar estórias com o teu irmão nessas noites mais escuras....

Beijinhos

Rosa dos Ventos disse...

A luz chegou muito tarde à aldeia dos meus avós maternos onde eu ia passar muitos dias de férias, sobretudo no Verão.
Nos primeiros dias passava o tempo a raspar as mãos nas paredes à procura do interruptor.
Mas sabes que sinto saudades das sombras agigantadas nas paredes e dos vários tipos de cheiro consoante o material de "queima" utilizado - azeite das candeias, petróleo dos candeeiros, dos "petromax"( um luxo...)e ainda a lenha queimada na lareira sempre acesa no Inverno e que também nos iluminava?

Boas recordações que tu me despertaste...

Kalinka disse...

Lu�s
Hist�rias t�o deliciosas.
Como � bom recordar!!!

Ora bem, vou iniciar uma s�rie de posts sobre o ALFABETO da minha Vida. Cada dia vou postar uma letra do abeced�rio, e direi o que achar sobre ela, podem ser coisas boas ou menos boas, s�o as que foram ou s�o importantes durante a minha viv�ncia.
Hoje, em homenagem ao meu neto ANDR� - dia do seu 1� anivers�rio: Parab�ns a voc� nesta data querida, muitas Felicidades, muitos anos de vida...
come�o precisamente pela 1� letra do Alfabeto - a letra A.

Beijitos azuis (em homenagem ao meu neto)

Luis Eme disse...

Dizem e são, Maria P...

Luis Eme disse...

Nesses tempos imaginávamos mais traquinices que histórias, Maria...

Luis Eme disse...

Não sinto saudades por não ter sentido as coisas dessa forma, Rosa.

Mas claro que havia uma certa magia, nos jogos de sombras...

Luis Eme disse...

É óptimo recordar Kalinka...

beijinhos para o André.

APC disse...

Entre Torres Vedras e o Ramalhal, fica, ainda hoje, a aldeia de Vila Facaia. As minhas lembranças do candeeiro a petróleo (e nunca outro) são daí. Mas bem mais: do postigo como única janela, do penico de esmalte, da bacia para lavar as mãos, do cântaro de trazer a água do poço, de ceifar a erva para os animais, do corre-corre atrás das galinhas, das gemadas, das avós com bigode!... ;-)
Belo apontamento, Luís! :-)