domingo, fevereiro 28, 2010

O Banco do Parque

Gosto de fotografar janelas, portas, bancos.
De preferência vazios e limpos de gente.
Não sei explicar muito bem o porquê. Acho que tem muito a ver com a diversidade e com a própria arquitetura de cada um destes objectos.
Esta imagem do nosso Parque, tem muito a ver com este tempo, cinzento, com chuva, vento, frio, muitas folhas e troncos caídos no chão.
Hoje de manhã estive no café, a conversar, a olhar e a escrever.
Um dos meus companheiros chamou-nos a atenção que as últimas grandes catástrofes no nosso país, tem acontecido em Fevereiro. Dissemos quase em coro: «o que vale é que amanhã é Março». Não confirmei os dados, mas ele disse que as grandes cheias de Sacavém, Vila Franca de Xira e arredores, que fizeram centenas de mortos e milhares de desalojados (números branqueados pela censura, que nos fizeram recordar o papel de AJJ em relação à Madeira...), o terramoto de 1969, e agora a tragédia da Madeira, são de Fevereiro...

terça-feira, fevereiro 23, 2010

A Areia da Foz do Arelho

Estive a fazer um exercício de memória, em busca das primeiras recordações que tinha da Foz do Arelho.

Lembrei-me de uma manhã de nevoeiro, onde descobri a beleza dos seixos, aquelas pequenas pedras entre o esférico e o oval, de várias cores, quase sempre polidas pelo mar. Era pequenote e trouxe o balde quase cheio para casa...
Não me lembrei do frio, da maresia que nos refrescava a cara e o corpo, nos dias em que o sol teimava esconder-se, até pelo menos à hora do almoço.

As praias de Salir e S. Martinho do Porto, mais frequentadas pela família, não tinham nada daquilo, apenas a areia fina manhosa, que adorava colar-se ao nosso corpo e que sempre detestei...
Nesses tempos a família era mesmo uma instituição, lembro-me de fins de semana na praia, com os meus avós, tios e primos. Era uma animação...
Os almoços tornavam-se em autênticos piqueniques, em pinhais próximos da praia, com direito a sesta e tudo. Da ementa havia sempre arroz de tomate e panados, que comíamos em pratos de plástico, num ambiente de alegria e partilha, que hoje está tão em desuso...

A Foz do Arelho desse tempo tinha fama e algum proveito de ser uma praia perigosa, porque facilmente se perdia o pé nas margens da Lagoa. E a aberta também costumava fazer das suas, especialmente a nadadores incautos, que se assustavam ao mínimo sinal de remoinhos e por lá ficavam...
Mesmo com estes perigos, no começo da adolescência, começámos a saborear a praia sem a companhia dos pais. De bicicleta, lá íamos nós do Bairro dos Arneiros até à Foz do Arelho. Eu era o mais pequeno e o mais "reguila", daquele grupo de amigos que já não há...

Interrompi esta "prosa" para ir levar a minha filha à escola.

O vento fez-nos companhia, na caminhada. Houve mesmo um momento em que fechei os olhos e recordei outras caminhadas, já adulto, à beira-mar, fora de época, em que também fechava os olhos e sentia aquela frescura atlântica, tão agradável, perfumada com o sal do Mar mais comunicativo que conheço...
Sim, o mar da Foz , fala, ruge, irrita-se. É por isso que está a tomar conta do areal. É provável que ande um pouco indeciso, porque também gosta de ter companhia. Só espero é que não se lembre dos "auto-falantes" de Verão, para não se enfurecer ainda mais...

domingo, fevereiro 21, 2010

Um País Trágico

Com os Invernos mais rigorosos começa a vir ao de cima o pior que temos feito nos últimos trinta anos, ao nível do planeamento e ordenamento do território, assim como da própria defesa do meio ambiente onde estamos inseridos.

A Lagoa de Óbidos e a praia da Foz do Arelho só estão a passar por todos os problemas que conhecemos, porque nunca se fez nada para resolver os pequenos problemas que foram surgindo ano após ano, e que hoje são um caso dramático, ao ponto de já se colocar em causa a continuidade da Foz do Arelho como praia, pelo menos de mar...

O mesmo posso dizer da Ilha da Fuzeta, onde foi a própria natureza a "correr" com as dezenas casas abarracadas que existiam na Ilha...

E agora foi a vez da Ilha da Madeira, um paraíso que se transformou num pesadelo para os seus habitantes, em apenas dois dias, devido aos caprichos do tempo e dos homens, especialistas em cobrir ribeiras secas com betão...
Será que ainda não é desta que aprendemos com os erros que cometemos, de Norte a Sul, com passagem pelas nossas belas Ilhas?

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Outros Carnavais...


Quando somos pequenos achamos graça a tudo, felizmente...

Era por isso que o Carnaval era uma festa.
Na minha infância ainda não estavam em voga os balões de água, mas todos nós tínhamos uma bisnaga, meia dúzia de "estalitos" no bolso, e os mais atrevidos até tinham essas coisas perigosas que hoje são proibidas, a que chamávamos "bombinhas de carnaval". Fazíamos as habituais guerras de "índios e caubóis", desta vez com munições, embora liquidas. A única tragédia eram as chegadas a casa, mais molhados que secos...
Havia outro atractivo, que ainda hoje se usa, os ovos. Mas nós no meu bairro usávamos mesmo ovos dos bons, podres, daqueles pestilentos. Isso acontecia porque conhecíamos uma "lixeira" de um aviário, onde nos abastecíamos. E era com eles é que fazíamos verdadeiras guerras de carnaval nas ruas do bairro...
Depois cresci um palmo e também comecei a frequentar os bailes de carnaval, outro espaço privilegiado para a "malandragem", que aparecia sempre completamente mascarada. Ainda hoje estou a espera de ver cumpridas algumas promessas feitas por algumas musas, que acabavam sempre por deixar pistas, que as acabavam por identificar...

Não sei se crescemos, se envelhecemos. Sei apenas que as máscaras e os bailes são mesmo passado. Coisas de outros carnavais...
O óleo é de Philipe Guston.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

A Boa da Electricidade

Estava a conversar com amigo, sobre este triste país antes de Abril.
Embora sejamos da mesma geração, crescemos em sítios diferentes. Eu no Litoral, ele no Interior.
Ambos sabemos que a diferença entre a proximidade do mar e o distanciamento sempre existiu, não é coisa dos nossos tempos...
Mas o que nos uniu na conversa foi o facto de a maior parte das aldeias do interior não terem electricidade. Recordei a aldeia dos meus avós paternos, onde a única televisão que existia era a do também único café, movida por um gerador ensurdecedor. Ele recordou outras onde nem gerador existia...
Nós quando somos pequenos adaptamos-nos a tudo e não achamos as coisas estranhas. Eu por exemplo, vivia na cidade, numa casa normal, sem luxos mas com tudo o que deveríamos ter direito. E nunca estranhava ir para a casa dos meus avós maternos, onde passávamos parte das férias, dormir por exemplo num colchão cheio de folhas secas de milho. Até gostava de saltar em cima dele e ver como ficava deformado... Embora já tivéssemos electricidade (nunca me lembro da casa dos meus avós sem luz eléctrica... fomos mesmo dos primeiros de Salir de Matos a ter a instalação eléctrica, graças ao meu tio electricista), visitava algumas casas que apenas eram iluminadas a candeeiro de petróleo, daqueles de vidro, e a candeias de azeite.
Consigo ver todos à volta da mesa, na casa dos Antunes, a jantarem, com os rostos cheios de sombras do reflexo do candeeiro. Na altura achava aquilo exótico...
E sem luz não existiam frigoríficos, haviam sim as arcas de salmoura, onde se conservava a carne com sal grosso. Até o peixe era salgado (detestava os carapaus salgados, que só via pendurados na cozinha da avó)...
Foi Abril que trouxe a electricidade a quase todas as aldeias do país, assim como estradas, mais ou menos decentes.
Pensar que há por aí, quem queira o regresso de "Salazar".
A ignorância sempre foi e será, muito atrevida...