Conheci Catalina Pestana quando deixei as Caldas e vim viver para a Cruz Quebrada. Ela vivia no mesmo prédio dos primos Zé e Elisete e era visita de casa, pelo que nos cruzámos muitas vezes.
Desses meus dezoito anos guardo a imagem de uma mulher forte, desabrida, generosa e solidária.
Voltámos a encontrar-nos mais vezes, ao longo dos anos, quase sempre com um ponto comum, o padre Felicidade Alves.
A última delas foi em Salir de Matos, na inauguração do "Largo Padre Felicidade Alves".
O "Caso Casa Pia" acabou por a transformar numa figura pública, com a sua nomeação como Provedora da Instituição, no seu período mais critico.
Continuo a pensar que foi uma boa escolha, porque era necessário alguém com coragem e personalidade forte para enfrentar todo aquele clima de suspeição e de violência que envolvia a Casa Pia.
Houve uma altura que achei que ela estava a falar demais, que devia manter uma maior descrição. Esquecido de que estava sempre rodeada de jornalistas, à procura de "assunto" para alimentar a novela...
Finda a comissão voltou a ter a sua vida de volta, embora continuasse ligada às pessoas e ao processo, por razões óbvias.
Processo que foi arrefecendo, até que ela deu uma entrevista oportuna ao semanário "Sol" - desta vez não tenho dúvidas que falou na altura certa -, causando alguns embaraços e até mau estar, no interior e no exterior da Instituição.
Não gostei do discurso facilitista da actual directora, que diz que tudo está bem, quando todos sabemos, que estamos a falar de "feridas" que demoram muito tempo a sarar e nunca deixam de doer. Nem tão pouco da indignação dos funcionários, que falaram de um clima de terror, nos seus tempos de provedora. Embora os compreenda, para eles era bem melhor o tempo em que tratavam os alunos como objectos, sem terem de dar satisfações pelos seus actos a ninguém, que os tempos de Catalina, em que tiveram de ser mais responsáveis, além de verem quase todos os seus passos vigiados, pelo menos no interior da Casa Pia.
Embora todos nós estejamos convencidos que esta "montanha" vai parir um rato, é bom que apareça alguém, com coragem, para dizer que quase nada mudou, que grande parte dos "predadores" continuam à solta, por aí, sem desistirem das "presas" da Casa Pia e de outros lugares...