sábado, janeiro 27, 2007

Onde estão estas Meninas?



De vez em quando interrogo-me onde estarão alguns amigos e amigas , de infância, que nunca mais vi?
Alguns sei onde vivem, apesar da distância que existe - e que foi aumentando com o decorrer do tempo.
Quando nos vimos, de anos a anos, cumprimentamo-nos com alegria. Embora raramente tenhamos tempo para conversar...
Desculpamo-nos sempre, com coisas do género, «a vida é assim...»
Ultimamente há duas pessoas de quem me lembro muitas vezes. Foram minhas colegas no ciclo preparatório, depois mudaram de cidade e nunca mais as vi (pelo menos penso que nunca mais as vi... podem ter alterado as feições, com o crescimento).
Chamam-se Ana Maria e Marina.
Recordo-me delas, não por ter tido uma daquelas paixonetas de começo de adolescência, em que ainda não sabemos muito bem, como expressar o verbo amar. Recordo-as como colegas porreiras, mais expansivas e abertas que a generalidade das miúdas. Falavam com os rapazes tu cá tu lá, sem se fazerem difíceis, mesmo no convívio normal do dia a dia.
Não me lembro sequer dos seus apelidos. Sei que os seus pais tinham profissões do género "saltimbanco", que as faziam andar de cidade em cidade (penso que eram professores, embora não tenha a certeza).
A Ana Maria era para o gordinho, mas era uma miúda estupenda... e muito boa aluna. A Marina era mais reservada, mas falávamos muito... sei que antes de "desaparecer" do meu mapa, morou nos Casais da Ponte, uma aldeia quase ao lado de Salir de Matos.
A única questão que me apetece levantar é esta: porque será que a vida, assim como dá, também nos tira tantas coisas?
O óleo que acompanha este texto tem como título "Duas Irmãs" e é da Autoria de Sousa Lopes (1879 - 1944).

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Um Quadro da Praça da Fruta



Um quadro pintado por um almadense, fez com que voltasse a falar da nossa Parça da Fruta, a viver tempos extremamente difíceis.
Há mesmo quem já tenha decretado o seu fim, para breve...
É possível.
Até porque não sei se ela terá tempo e espaço para se erguer e voltar a ser, um dos mais bonitos cartões de visita das Caldas da Rainha.
Para que isso aconteça é preciso que exista vontade política e que se arranjem formas de lutar contra a oferta desigual dos hipermercados, onde se pode comprar de tudo um pouco, quase sempre a preços de estação...
Claro que esta questão dos mercados de fruta, legumes e peixe, não se trata apenas de um problema caldense, é um problema nacional...
Só que a nossa Praça era e é ao ar livre.... e é esse o seu verdadeiro encanto...

O Óleo que acompanha este texto é da autoria de Mártio, um artista plástico do concelho de Almada.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Era uma Vez um Campeão de Papel



Ao ler as palavras de um treinador português, que até já conseguiu a proeza de se sagrar Campeão Nacional, consegui recordar-me uma história antiga, protagonizada pelo Alberto, conhecido no nosso grupo de amigos como o "taças".
Ele conseguiu fintar a sua inabilidade natural desportiva, com a fabulação de uma vida recheada de êxitos desportivos, à qual nem sequer faltavam fotografias e muitos troféus, "conquistados" nas lojas de artigos desportivos e afins da cidade...
As histórias não são paralelas, mas sem saber porquê, Augusto Inácio, que conseguiu a proeza de treinar uma equipa da primeira divisão grega, sem conseguir uma única vitória (sendo despedido, com naturalidade), lembrou-me este cromo, conhecido de várias gerações, pela forma apaixonada como vivia e vive o mundo do desporto.
Ao ler as suas palavras no jornal "A Bola", de terça-feira, descobri uma pérola deliciosa do Inácio, quando se referia ao presidente do Ionikos: «Disse que eu tinha sido o melhor treinador da história do clube. Estou orgulhoso por ouvir isso. Saí a bem e fiz bons amigos.»
Se o presidente disse isso, como é que deixou sair, aquele que foi o melhor treinador da história do clube, mesmo sem ganhar um único jogo? Pois, dá que pensar...
Voltando ao Alberto, ele nunca era escolhido para jogar nem nunca ganhou nada, mas tinha o quarto cheio de taças e fotografias, cada uma com a sua história. Claro que só permitia a visita ao seu museu a desconhecidos, com quem nunca tinha partilhado os baldios onde brincávamos ao futebol.
Mas como estas coisas acabam por se saber, ficou o "taças".
Penso que nunca veio mal ao mundo por ele ter resolvido desta maneira, um dos seus sonhos, fintados pela realidade, tantas vezes demasiado amarga.
E até pode ser, que os seus netos adorem as suas histórias fabulosas...

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Mistérios do Convento de São Miguel



A primeira vez que visitei o Convento de São Miguel, das Gaeiras (entre as Caldas e Óbidos), aconteceu por um mero acaso.
Andava a passear de bicicleta com o meu irmão quando deparámos com a fachada do Convento, com um ar bastante convidativo. Resolvemos deixar as bicicletas, fechadas a cadeado, meio escondidas entre a vegetação, próximo da estrada de alcatrão.
O próximo passo foi arranjar uma maneira engenhosa de entrar lá dentro. Lembro-me que tivemos de fazer alguma ginástica e entrar por uma pequena fresta, já que todas as janelas e portas estavam fechadas com tijolos e cimento.
Depois fomos entrando, pelo antigo Convento...
Começámos por visitar as celas, antes de descermos até à capela, onde apesar de já estar vandalizada, ainda conservava alguma beleza e metia respeito, pelo menos a quem tinha tido uma educação católica, como nós.
Tudo aquilo era novidade, desde as estatuetas de barro de frades, quase em tamanho natural (devia ser por isso que ainda lá estavam...), à espécie de Assembleia da Ordem Religiosa, com cadeiras de madeira. Havia também uma entrada com umas escadas que davam para uma espécie de cave, onde descobrimos uma ossada humana, que nos fez subir quase de imediato.
Depois desta descoberta, voltámos pelo mesmo caminho, até ao local onde tinhamos entrado. Recordo-me que a saída foi mais complicada que a entrada...
Quando nos deslocámos na direcção das nossas bicicletas, só descobrimos o sitio. Olhámos um para o outro com cara de mistério... rondámos a zona e nada. Lá tivemos de vir para casa a pé...
No dia seguinte o meu irmão lembrou-se de passar pela esquadra da polícia e, para sorte nossa, lá estavam as nossas bicicletas.
Houve alguém que ao passar pela estrada, numa camioneta de caixa aberta, olhou para os campos e ao ver as bicicletas escondidas pensou que eram roubadas e recolheu-as, entregando-as na esquadra da PSP das Caldas.
Foi assim que o mistério ficou esclarecido, com ou sem uma mãozinha do São Miguel...
Mais tarde, quando falávamos á mesa dos nos acontecera, o pai contou-nos uma outra história, passada no mesmo Convento, para surpresa de todos.
Ele quando andava a caçar também sentiu curiosidade em espreitar aquele edifício religioso abandonado e foi entrando (provavelmente pelo mesmo sitio onde nós entraramos)...
Algum tempo depois começou a ouvir uma espécie de música sacra, no interior do Convento. Olhou para todos os lados, completamente arrepiado, sem saber de onde vinha o som...
A música acabou por fazer com que saisse um pouco mais rápido do que tinha planeado. Já cá fora, pegou na arma de caça, que por respeito deixara escondida e que felizmente não teve o mesmo destino das nossas bicicletas, sem saber no que pensar...
Estes acontecimentos reforçam o ditado espanhol que nos faz dizer: «não acredito em bruxas, mas que as há, há...»
Alguns anos mais tarde o Convento abandonado foi adquirido pela Associação de Municípios do Oeste, que o recuperou e restaurou, deixando-o bastante bonito.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Faltou um Herói Acidental...



Já se disse tanta coisa sobre o naufrágio da embarcação de pesca de Vila do Conde e da morte de quase todos os seus tripulantes, rente à praia da Nazaré, que só me sobra espaço para olhar para esta questão com uma outra perspectiva, sem andar à procura de culpados...
Claro que foram mortes horríveis, tanto para quem estava no mar agitado, à espera do "milagre da vida" - que não aconteceu - como para quem estava na praia, e se viu completamente impotente, para salvar aqueles homens do mar.
É fácil culpar a Marinha e a Força Aérea, esquecendo as dificuldades do seu dia a dia, graças à falta de apoio que recebem do governo, obrigando-os, de uma forma geral, a poupar dinheiro em combustiveis e nos exercícios necessários, para que garantam o minimo de operacionalidade dos seus meios materiais e humanos.
Também é fácil lembrar que o barco estava a pescar muito perto da costa, destacando que os pescadores estavam a trabalhar sem cinto ou colete de salvação...
Para mim estes aspectos são secundários.
O que faltou realmente na Nazaré foi um herói acidental, com uma coragem e uma capacidade de discernimento quase sobrenatural, que conseguisse inventar uma solução de recurso na praia, ao mesmo tempo que se fazia ao mar, para trazer os homens que pediam socorro, um a um...
Vão dizer que isto é pura ficção, mas quantas vidas têm sido salvas por pessoas aparentemente normais, que perante situações dramáticas como esta, conseguem exceder os seus limites e fazer coisas impensáveis, esquecendo que são simples mortais?...

quarta-feira, janeiro 03, 2007

A Fuga de Peniche



Peniche foi palco de uma das fugas mais espectaculares de resistentes antifascistas, das prisões políticas salazaristas, há precisamente 46 anos.
Os comunistas estudaram durante anos uma maneira de libertar o seu secretário geral, Álvaro Cunhal, preso em 1949, encarcerado numa cela solitária da Fortaleza de Peniche, sem êxito.
No final dos anos cinquenta a PIDE tinha conseguido prender alguns dos dirigentes mais importantes do partido na época, provocando uma crise sem limites no seio dos comunistas.
Esta crise fez com que se começasse a preparar um plano de fuga, naquela que era tida como a prisão mais segura do Estado Novo. Claro que este plano só poderia ser bem sucedido com o apoio de algum guarda da fortaleza. Depois de um "namoro" paciente conseguiram acenar com bastante dinheiro e cativar o guarda José Alves, que os ajudaria na fuga que teve lugar no princípio da noite de 3 de Janeiro de 1960.
Nesta fuga heróica, além de Álvaro Cunhal, foram também libertados: Carlos Costa, Costa Carvalho, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho.
No exterior contaram com o apoio dos dirigentes Octávio Pato, Dias Lourenço, Pires Jorge e Rui Perdigão, além dos médicos Orlando Ramos e Carlos Plácido, que foram os condutores de serviço do Cadillac e do Dodge, que quase ganharam asas nesta noite inesquecível para a resistência comunista.
O desenho que ilustra este texto é da autoria de Margarida Tengarrinha, viúva do escultor Dias Coelho, assassinado de uma forma cobarde pela PIDE.