Mais um Ano Novo que se aproxima...
Espera-se sempre que seja melhor que o ano que passou, porque somos insatisfeitos, por natureza.
Todos sentimos que as coisas por cá não estão muito risonhas, apesar das contas compridas que aparecem nos jornais sobre os nossos hábitos consumistas.
Nem sei qual é o espanto, se não há cidade que não tenha a sua "catedral do consumismo", onde se fazem convites diários para se gastar o nosso dinheirito, com a promessa de que só pagamos para o ano, aquilo que compramos hoje...
Voltando às Passagens de Ano, nunca foram uma grande festa no seio da minha família. O Natal sempre teve outro sabor, provavelmente por os meus pais não serem muito efusivos, não terem hábitos de bater panelas, abanar notas em cima de cadeiras ou abrir garrafas de espumante e fazer brindes que raramente se concretizam, como todos nós sabemos.
Sei que as primeiras passagens de ano fora de casa foram passadas em festas de garagem, entre adolescentes. Não guardo muitas recordações dessas primeiras farras porque nesse tempo não se passavam grandes histórias com namoradas - o respeitinho era muito bonito... -, pelo menos na província.
Mesmo hoje não valorizo muito esta data e tenho dificuldade em escolher doze desejos, ao ritmo das badaladas do relógio.
Desejos que acabam por ser lugares comuns: Saúde, Paz e Amor... e claro algum dinheiro, que pode chegar a um Ferrari ou ficar-se por uma simples "lata" em segunda ou terceira mão.
Falando mais a sério, claro que todos nós merecíamos um ano de 2007 melhor, com governantes mais competentes e sérios... mas, provavelmente, a crise vai continuar, e no final do ano vem mais do mesmo... ou seja mais desejos e brindes, porque enquanto há vida há esperança...
Só podia ser assim, não fossemos nos os navegadores aventureiros que dobrámos o Cabo das Tormentas e o transformámos em Boa Esperança...
O quadro que escolhi para ilustrar o texto foi um guache de Manuel Cargaleiro, sem título, de um dos nossos grandes artistas plásticos contemporâneos.