Quase todos nós perdoamos os excessos aos fora de série. É por isso que eles são únicos.
Claro que isto que escrevo não é regra. Por exemplo, o José Mourinho e o Cristiano Ronaldo, embora sejam dos melhores do mundo na sua profissão, estão longe de ser idolatrados por todos. E dão cartas a todos, graças ao seu profissionalismo.
Basta visitar de longe a longe uma caixa de comentários de jornal, com uma notícia sobre eles, para sentirmos o quanto a inveja pode ser uma coisa mesmo feia, mentirosa, e até preconceituosa.
Tudo isto para recordar um jogador chamado Forneri (que talvez fosse alcunha...), que tinha vindo do Torriense para o Caldas, no ano em que o Mourinho pai treinou o seniores e o clube subiu da III para a II divisão.
Era extraordinário dentro de campo, corria e fazia jogar toda a equipa, mesmo jogando a defesa lateral.
Ao contrário dos outros jogadores, depois dos treinos descia a Mata da Rainha a pé, connosco (os nossos treinos nessa época coincidiam com os seniores). Era um fartote de riso, até chegarmos quase ao Chafariz das Cinco Bicas, onde estava sempre um carro à sua espera, invariavelmente com uma mulher bonita, daquelas que gostam de jogadores da bola, com a noite à sua espera.
Não acabou a época no clube, porque o futebol não se compadece com esta vida de vagabundagem, mesmo em clubes da segunda e terceira divisão...
O Forneri foi apenas mais um que podia ter ido muito mais longe se levasse o futebol a sério...
(Fotografia de Luís Eme)