quinta-feira, junho 26, 2008

As Férias Grandes

Por esta altura já estava de férias, as famosas férias grandes, que se prolongavam até ao fim de Setembro...
Na infância, as férias eram repartidas pelo campo (a casa dos avós maternos em Salir de Matos), pela praia (muito Salir do Porto, alguma Foz do Arelho, pouco Baleal) e pelas ruas do bairro (com jogatanas de futebol intermináveis na rua detrás, da terra que nos pintava as pernas e a roupa de negro).
No começo da adolescência, a praia ganhava ao campo, e a Foz do Arelho, arrumava definitivamente as outras praias... lembro-me de quase abrirmos a época balnear e de a fecharmos em Setembro... muitas vezes com nevoeiro e frio, éramos os únicos "malucos" que não arredavam pé, e não passavam sem os banhos e as diversões dentro de água...
Os únicos seres que rivalizavam connosco, como "proprietários da praia", eram as gaivotas...
E foi assim, até crescermos um palmo e perdermos esta "boa vida"...

O óleo, "Gaivotas", é do setubalense, João Vaz.

sexta-feira, junho 20, 2008

O São João nas Caldas

Não sei porquê, mas o S. João sempre foi o Santo mais querido das Caldas da Rainha.
Aliás, penso que ainda se realiza a Feira de S. João, com as atracções do costume, embora com bastante menos povo...
Há quarenta anos esta feira era um mimo, ainda se achava graça ao circo, ao carrocel, aos carrinhos de choque, ao poço da morte, às farturas e até aos vendedores de "banha da cobra"...
Nesses tempos longínquos a feira realizava-se na Mata da Rainha, assim como a de 15 de Agosto. Era um nunca acabar de barracas de quinquilharias, de brinquedos, de roupas, de comes e bebes, e claro, a parte mágica, de diversões.
Provavelmente não era bem assim, mas estou a escrever por cima da memória da criança que olhava para tudo, quase rente ao chão, e por isso, tudo lhe parecia grandioso...

Mais um Malhoa excelentissimo, "As Padeiras"...

sexta-feira, junho 13, 2008

Quando Alberto é Nome de Poeta e de Pessoa...


Sou um guardador de rebanhos,
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

in "Poemas de Alberto Caeiro", obra poética de Fernando Pessoa. O óleo, "Gritando ao Rebanho" é de José Malhoa

domingo, junho 08, 2008

Tudo Começou no Oeste...

Tudo começou no Oeste, no velho Campo da Mata...
Na início acho que gostava muito mais de ir com o meu pai ao futebol, de mão dada, pelas ruas da Cidade até à velha Mata, pelo orgulho que sentia da sua companhia, que pelo espectáculo do futebol.
Acho não, tenho a certeza.
O meu pai era um mestre dos silêncios, nunca foi de muitas palavras. Nem mesmo durante o jogo. À nossa volta gritava-se, chamavam nomes (alguns dos quais desconhecia na inocência dos meus seis anos...) ao árbitro e aos jogadores adversários. O meu pai via o jogo pelo jogo, irritava-se com os falhanços dos jogadores do Caldas, mas raramente arranjava bodes expiatórios ou gritava.
Embora não o interiorizasse na época, foi a partir desse momento que percebi que o futebol era composto por dois espectáculos, um dentro do campo e outro nas bancadas.
Felizmente, sempre me interessou mais o que se passava no terreno de jogo, os golos e a arte dos futebolistas.
Mais uma vez o dedo do meu pai estava presente. Nunca usámos cachecóis ou bandeiras, éramos uma espécie de espectadores anónimos no meio dos adeptos...
Foi sempre assim pela vida fora. Já em Lisboa. nunca subi para o histórico terceiro anel, que tanto abanava como tremia, com cachecol, nem mesmo nas noites europeias frias do Inverno...
Esta prosápia deve-se ao corropio aqui de casa, com bandeiras, cachecóis, lenços, cornetas, durante o jogo de Portugal, que ganhámos á Turquia. Percebo que sou o único que aprecia o futebol, o resto da "turma" gosta mais do outro espectáculo, até querem ir festejar a vitória para a rua...

domingo, junho 01, 2008

O Cinema é Sempre Um Espectáculo

Hoje fui ao cinema, porque o meu filho achou que era um bom dia para vermos o "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal".

Antes do filme assistimos a um desfile agradável de anúncios. Ele disse-me que eram mais completos que na televisão, como se fossem quase um pequeno filme... e tem toda a razão, a própria produção desta publicidade é muito cinéfila, como sempre foi a da Martini.
Lembrei-me de como a história do tempo mudou as primeiras partes dos filmes. Do tempo dos meus pais, havia sempre um documentário, no meu eram os desenhos animados, hoje é a publicidade...
Assim como as salas. Desta vez vi o filme numa sala mais ampla que o habitual. Recordei-me dos primeiros filmes que vi no Cine-Teatro Pinheiro Chagas e no Salão Ibéria, salas que pertencem quase à "pré-história" para os caldenses que têm menos de trinta anos...