«Não me lembro de passar o Natal em Salir de Matos na infância, nem que os meus avós dessem um valor especial a esta quadra festiva, se excluir o significado religioso. Aliás, na minha infância não havia "Pai Natal", mas sim o "Sapatinho do Menino Jesus".
E realmente era muito mais fácil "acreditar" na lenda com uma criança descer pelas chaminés para deixar os presentes no "sapatinho" que na figura bonacheirona do Pai Natal, a enfiar-se na chaminé para deixar os presentes na "árvore de natal"...
Lembro-me sim de fazermos o presépio na nossa casa, irmos aos pinhais procurar o "melhor" musgo para colocar em cima da máquina de costura fechada, onde depois colocávamos as pequenas figuras de barro (além da família tradicional com a vaca e o burro, dos três reis magos, havia os pastores, as ovelhas, um moinho, o moleiro, e mais uma ou outra figura que não recordo...). Normalmente era o pai que trazia a árvore de natal, um pequeno pinheiro natural apanhado nos pinhais que cercavam o bairro da nossa infância, entretanto engolidos pela urbanidade...
Já adulto, lembro-me de irmos passar a noite de 24 à casa dos tios de Salir de Matos e de fazermos de pais natais (levávamos presentes para a avó (o avô já partira...), para os tios, mas sobretudo para os primos, que ainda estavam na idade de esperarem ansiosamente pela meia-noite e de se deliciarem com as prendas.
Depois eles cresceram, a avó também partiu e perdeu-se este hábito familiar...»
(Fotografia de Luís Eme - Presépio junto à Igreja de Salir de Matos em 2009)