Desde a primeira "Viagem pelo Oeste" tinha decidido que este espaço seria únicamente para as minhas viagens...
O José do Carmo Francisco enviou-me um texto da sua "Estrada de Macadame", a testar-me, a ver se eu conseguia, ou não, manter este princípio. Claro que consigo, até porque o carro que eu conheci do Dr. Bertolino, durante anos médico dos meus avós maternos e de tantos outros habitantes de Salir de Matos, era um Porsche. Um carro que sempre achei demasiado veloz para aquele "João Semana", que começou por visitar os seu doentes, a cavalo.
O Zé do Carmo começa assim: A Estada de Macadame tinha e sempre teve poucos automóveis. Foi por causa do Citroen 2 Cavalos do Dr. Bertolino da Cabeça Alta que o meu primeiro automóvel em 1983 foi um 2 Cavalos, ainda por cima comprado no Stand da firma Rocha Marques de Leiria, distrito ao qual pertence a minha «estrada de macadame». Mas isso é outra história… Hoje quero recordar o ano de 1958 quando surgiu no mercado o Pachancho, um motociclo cuja «maternidade» foi a Fábrica de Pistões de Braga fundada em 1947 por António Peixoto, Pachancho de alcunha.
Em 1958 eu tinha sete anos, viva já no Montijo e passava as minhas férias grandes em Santa Catarina. Nesses quase quatro meses de Verão voltava a ser de novo catarinense, habitante do largo do pelourinho, lugar de todas as novidades, ponto de partida para todas as viagens. Era dali que partiam as carreiras dos Capristanos para Caldas, Alcobaça ou Rio Maior, era ali ao lado da casa do Zé Rebelo que estacionava o nosso «carro de praça» como então se chamavam os táxis. Era dali que eu via passar o vulto dum Pachancho com um bombardino muito branco a brilhar ao sol. Para quem não saiba, o modelo Pachancho de 1958 apresentava algumas características especiais que o tornaram diferente de todos os outros motociclos ou ciclomotores portugueses. Os apoios dos pés do condutor eram colocados na roda traseira e, por isso, quem conduzia colocava o peito junto do depósito da gasolina que era alto formando, deste modo, o seu corpo com o próprio veículo, uma espécie de linha paralela e aerodinâmica. O corpo do condutor colava-se ao motociclo e assim surgia uma velocidade mais pura nas máquinas com um pequeno motor a dois tempos de 49,50 centímetros cúbicos de cilindrada. Nunca tive um Pachancho e agora já é tarde mas lembro-me bem dos rapazes e dos homens dizerem: «Esse Pachancho é dum rapaz de Turquel que toca bombardino.» Num tempo em que a velocidade era escassa, mais imposta pelos numerosos carros de bois do que pelos raros automóveis, aquele rapaz de Turquel era uma espécie de choque à pasmaceira da minha estrada de macadame. Ele e o brilho intenso do seu bombardino. Diziam que vinha namorar. Isto num tempo em que só se podia namorar ao domingo à tarde e a um dia de semana, previamente acordado entre o candidato a genro e a mãe da rapariga. Digo a mãe porque os pais assistiam a tudo à distância mas não interferiam nessas coisas, digamos, práticas. Seja como for, aquela imagem do rapaz dobrado sobre o motociclo permanece em mim desde 1958 até hoje. Talvez porque tenho a consciência de que muito da minha ingénua visão do mundo estava nessa viagem visível e nessa música de bombardino que nunca ouvi. Num tempo parado, vigiado e cinzento como era o tempo português de 1958, o Pachancho conduzido pelo rapaz de Turquel que tocava bombardino, introduzia velocidade, sonho e cores fortes no grande ecran do largo do Pelourinho. E nas vidas de todos nós que viemos um dia para longe mas continuamos todos lá – mesmo julgando que não. E que quando está frio nos encostamos todos à torre da igreja de Santa Catarina onde se está sempre bem e o frio nunca chega.
Em 1958 eu tinha sete anos, viva já no Montijo e passava as minhas férias grandes em Santa Catarina. Nesses quase quatro meses de Verão voltava a ser de novo catarinense, habitante do largo do pelourinho, lugar de todas as novidades, ponto de partida para todas as viagens. Era dali que partiam as carreiras dos Capristanos para Caldas, Alcobaça ou Rio Maior, era ali ao lado da casa do Zé Rebelo que estacionava o nosso «carro de praça» como então se chamavam os táxis. Era dali que eu via passar o vulto dum Pachancho com um bombardino muito branco a brilhar ao sol. Para quem não saiba, o modelo Pachancho de 1958 apresentava algumas características especiais que o tornaram diferente de todos os outros motociclos ou ciclomotores portugueses. Os apoios dos pés do condutor eram colocados na roda traseira e, por isso, quem conduzia colocava o peito junto do depósito da gasolina que era alto formando, deste modo, o seu corpo com o próprio veículo, uma espécie de linha paralela e aerodinâmica. O corpo do condutor colava-se ao motociclo e assim surgia uma velocidade mais pura nas máquinas com um pequeno motor a dois tempos de 49,50 centímetros cúbicos de cilindrada. Nunca tive um Pachancho e agora já é tarde mas lembro-me bem dos rapazes e dos homens dizerem: «Esse Pachancho é dum rapaz de Turquel que toca bombardino.» Num tempo em que a velocidade era escassa, mais imposta pelos numerosos carros de bois do que pelos raros automóveis, aquele rapaz de Turquel era uma espécie de choque à pasmaceira da minha estrada de macadame. Ele e o brilho intenso do seu bombardino. Diziam que vinha namorar. Isto num tempo em que só se podia namorar ao domingo à tarde e a um dia de semana, previamente acordado entre o candidato a genro e a mãe da rapariga. Digo a mãe porque os pais assistiam a tudo à distância mas não interferiam nessas coisas, digamos, práticas. Seja como for, aquela imagem do rapaz dobrado sobre o motociclo permanece em mim desde 1958 até hoje. Talvez porque tenho a consciência de que muito da minha ingénua visão do mundo estava nessa viagem visível e nessa música de bombardino que nunca ouvi. Num tempo parado, vigiado e cinzento como era o tempo português de 1958, o Pachancho conduzido pelo rapaz de Turquel que tocava bombardino, introduzia velocidade, sonho e cores fortes no grande ecran do largo do Pelourinho. E nas vidas de todos nós que viemos um dia para longe mas continuamos todos lá – mesmo julgando que não. E que quando está frio nos encostamos todos à torre da igreja de Santa Catarina onde se está sempre bem e o frio nunca chega.
Não tenho qualquer memória da existência de uma moto "Pachancho"... recordo-me sim, de ver passar o velho médico no seu inesquecível Porsche, sempre apressado - onde se devia sentir um verdadeiro Fangio, sensação que nunca devia ter experimentado no seu "dois cavalos" -, a furar a estrada estreita e ainda pouco movimentada, entre Salir de Matos e a Cabeça Alta...