quarta-feira, janeiro 22, 2025

Ainda a desagregação das freguesias (a pensar no meu Oeste)...


Publiquei o texto que se segue no meu blogue principal ("Largo da Memória") e depois copei-o para o "Casario" e agora para as "Viagens", porque continua a parecer-me um absurdo, a união das freguesias de 
Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório.

Até pode ser apenas um problema meu, e os habitantes destas duas aldeias, sentirem-se mais "urbanos" por estarem ligados a uma das freguesias da Cidade...

«Consultei a lista das freguesias que são ser desagregadas de outras (são cento e trinta e cinco) e não encontrei qualquer sinal do Concelho de Almada, mesmo que algumas uniões sejam autênticos erros de casting, pelo menos para quem conhece a história local e o dia a dia destes pequenos centros urbanos.

O mesmo se passou em relação às Caldas da Rainha, onde até existe uma união entre uma freguesia urbana unida a duas rurais (Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório)... e irá continuar a existir. Aqui é que se deve sentir o "abandono autárquico"...

Mesmo assim, estou satisfeito, pelas mais de cem freguesias que voltam a caminhar, apenas com os seus pés. Sei que se trata de uma reposição justa e uma forma de servir melhor as suas populações.

Sei do que falo. Assisti às mudanças de um concelho com o de Almada, que passou de onze para cinco freguesias. O que foi mais notório foi a "desresponsabilização" dos autarcas, com a velha desculpa, de que lhe era impossível estar em todo o lado ao mesmo tempo. Isso fez, entre outras coisas, que cada vez apoiassem menos as colectividades recreativas, culturais e desportivas, tal como outras instituições que serviam os almadenses. Neste caso particular, diziam sempre que não havia dinheiro para tudo...

Por se tratar de um Concelho onde há um grande envelhecimento da população (especialmente nos centros urbanos mais antigos, como são os casos de Almada, Cacilhas, Cova da Piedade ou Trafaria), a anterior divisão de freguesias permitia uma maior proximidade junto das populações. Infelizmente, esta ligação foi desaparecendo com o tempo, assim como a própria identidade dos lugares, quase sempre com uma história muito própria, e bastante rica, como são os casos de Cova da Piedade, Trafaria ou Cacilhas.

Se acho natural que as freguesias do Feijó e Laranjeiro, assim como a Charneca e Sobreda de Caparica, devem permanecer unidas, acho que pelo menos a Cova da Piedade, o Pragal e a Trafaria, deviam ser freguesias autónomas.

Todos tínhamos a ganhar, especialmente os habitantes destes pequenos centros urbanos.»

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sábado, janeiro 04, 2025

Salir de Matos é Vila


No nosso almoço de Natal a mãe deu-me a novidade de que Salir de Matos passou de Aldeia a Vila.

Claro que para mim continuará a ser a aldeia da minha meninice, o lugar especial onde passei grande parte das férias grandes com o meu irmão, na casa dos avós.

Esta escolha deve ter acontecido graças à sua centralidade (não acredito que tenha mais habitantes de que há dez ou vinte anos...), porque num primeiro olhar, noto que Salir de Matos tem muito poucas coisas de Vila, pelo menos segundo o tal "meu olhar" quase citadino...

(Fotografia de Luís Eme - Salir de Matos)


sexta-feira, dezembro 20, 2024

Um Natal com cada vez mais dificuldades em esconder debaixo do tapete as "misérias humanas"...


Não sei se lhe chame uma coisa curiosa, até porque pode ser mais comum do que aquilo que eu possa imaginar.

À medida que os anos vão passando,  tenho cada vez menos paciência para o Natal.

Sei que em parte isso deve-se a este mundo que nos rodeia, ter cada vez menos ares natalícios (as luzes e as montras não contam...). Gaza, Beirute, Damasco ou Kiev, são os maiores exemplos...

Por outro lado, como tenho os filhos já adultos (ainda não há netos...), perdeu-se um pouco o encanto e a sua alegria contagiante (mesmo que passageira...) em receber presentes...

Tenho vários defeitos, mas a hipocrisia, o cinismo e a inveja, não estão no "pacote" (e ainda bem, são das coisas mais miseráveis e vulgares dos seres humanos...). E esta época trás todas essas coisas - em "tamanho xl" - para as casas, para as ruas, para as igrejas e sobretudo para as lojas.

E se há coisa que nós vamos perdendo com os anos, é a paciência para fazermos fretes.

Claro que isto não tem nada a ver, por exemplo, com a reunião natalícias das famílias. Numa época em que este núcleo especial tem sido tão desvalorizado, é bom que as pessoas que se encontrem, nem que seja, na tal "uma vez por ano"...

É com gosto que janto a 24 com a minha sogra, passo ceia com os meus cunhados e mais família (onde até costuma aparecer o "pai natal"...). Ou almoço a 25 com a minha mãe e o meu irmão...

Mas não consigo suportar este regresso ao passado, ao tempo dos "coitadinhos", com os ricos a voltarem a "escolher" o seu pobrezinho, para a sua ceia (voltou-se a isto, com mais visibilidade, porque os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres...) ou a ver o presidente da república a servir refeições aos sem abrigo (ele bem podia fazer com que o natal para esta gente não fosse apenas um dia. Até lhe dou a ideia de, quando sair do cargo, fomentar estes encontros, mensalmente...).

Nota: Texto publicado primeiro no "Casario" e depois nas "Viagens" e por fim, no "Largo".

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quarta-feira, outubro 30, 2024

As perseguições boas do passado...


Estava com as mãos na terra castanha, a apanhar as ervas que cercavam os pés das videiras, antes de as podar, e a pensar no prazer que tenho em mexer e remexer nesta areia diferente, que me pinta as mãos de castanho, por deixar as luvas arrumadas na prateleira da garagem, voluntariamente...

Sou o único que faz isso. Todos os restantes elementos da família, antes de fazerem qualquer coisa, no terreno com cada vez menos uso, enfiam as luvas nas mãos, como se este mundo lhes fosse estranho. E é...

Nenhum deles teve um Avô, agricultor a tempo inteiro, numa aldeia que era o espaço privilegiado das férias grandes, minhas e do meu irmão, que tinham muito mais campo que mar, na infância... 

Penso sempre nele, quando olho para as minhas mãos castanhas enquanto mexo na terra estranha, que produz muito mais ervas daninhas que plantas para consumo interno. Se tivesse escutado os seus conselhos em vez de andar a brincar com o meu irmão, muitas vezes em "terrenos proibidos", onde deixávamos sempre a marca do nosso calçado, quase como "impressão digital", talvez o hoje fosse diferente... Mas aqueles eram tempos de brincar, e eu estava longe de sonhar ser agricultor, até por saber e ver a roda viva do avó, que saltava quase diariamente de fazenda em fazenda, porque era ali que estava o seu sustento...

E gosto de pensar no Avô, não só por ser um tempo feliz, este da infância, mas por sentir um grande orgulho neste homem, excessivamente sério, incapaz de apanhar uma peça de fruta, mesmo da que cai no chão, de uma fazenda que não fosse sua...

Nota: Texto publicado inicialmente no "Largo da Memória".

(Fotografia de Luís Eme - Óbidos)


segunda-feira, outubro 28, 2024

O romantismo do meu querido Caldas...


Graças ao Canal 11 (da FPF), acompanho de perto os jogos de futebol do meu querido Caldas.

Embora saiba que existe algum exagero em chamar à equipa da minha primeira cidade, a menos profissional de todas as que participam na Liga 3, gosto de pensar dessa maneira.

Até porque o futebol jogado pela equipa de José Vala está cheio de romantismo, os jogadores estão ali para trocarem a bola uns com os outros, para se divertirem, mesmo que joguem com uma qualquer "super-equipa", construída para subir de divisão.

Claro que este "romantismo" também transporta alguma ingenuidade. É por isso que esta equipa perde tantos pontos nos últimos minutos, como aconteceu ontem, no Campo da Mata.

Não é que eu queira que o Caldas se transforme numa equipa matreira, calculista, que apenas pense nos pontos, mas é preciso ganhar alguma frieza, principalmente na parte final dos jogos. 

Até porque algumas partidas agora têm mais de 100 minutos...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quarta-feira, outubro 23, 2024

"Somos, mas já não somos..."


Hoje foi um dia. quase passado integralmente no Oeste, para estarmos com o nosso tio da América.

Com um almoço da família à antiga, com múltiplas viagens pelo passado, com o regresso dos avós, do pai, e claro, de muitos lugares onde fomos felizes, em quase mil aventuras, tanto em Salir de Matos, como no Bairro da nossa meninice, ou em espaços especiais, como o Parque ou o nosso Mar...

Parque que nos levou a uma revisitação do Museu do nosso Malhoa, um lugar especial na nossa infância (pensava que era só eu que o recordava com um olhar ternurento, mas o meu irmão ao almoço, quando falámos que íamos passar por lá, também nos disse que era um sítio especial, desde sempre...).

E claro, aquele espaço não nos desilude, mesmo que a sua arte tenha pouco de moderna. Talvez até seja por causa dele que sou tão "conservador" nos meus gostos artísticos...

Depois fomos ver o Mar, aquele que tem uma cara séria e uma voz de trovão. Esse mesmo, o da Foz do Arelho. Antes ainda passámos pela Lagoa de Óbidos, que nos sorriu agradada com a visita.

E depois fomos pela estrada Atlântica, até Salir do Porto e depois São Martinho do Porto.

Contei que Salir era a praia da nossa infância. Íamos no "Comboio-Correio", quase sempre lotado de veraneantes, nesses longínquos anos sessenta. Claro que mal crescemos um palmo, tanto eu como o meu irmão e os amigos do bairro, elegemos a Foz do Arelho, como a "praia da nossa vida"...

Já em São Martinho do Porto fui contando à nossa "estreante" no Oeste, que esta praia além de ser a "banheira das duquesas", era o espaço de eleição dos "betinhos", tanto do Oeste como da Capital. Além deste pormenor, eles perceberam que aquele Mar era mais "sujo". Acrescentei que também era mais sonso, não tinha nada a ver com a Foz do Arelho...

E depois foi o regresso a casa.

Quando comecei a escrever estas notas de viagem, pensava que "somos, mas já não somos", destes lugares, mesmo que eles fiquem para sempre, dentro de nós...

Nota: texto publicado inicialmente no "Largo da Memória".

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sexta-feira, agosto 23, 2024

"O Grande 'Dom Rafael' e a Arte de Rua..."


Gosto de Rafael Bordalo Pinheiro, quase desde sempre, por estar muito presente na terra onde cresci e fui aprendendo a "ser gente".

Não digo isto por ele estar associado a toda a espécie de "loiça malandra" característica das Caldas, mesmo que esta lhe tenha passado ao lado (é um pouco como o Bocage com as anedotas...). Digo-o por sempre o olhar como um extraordinário artista.

O "António Maria" continua a ser do melhor que se fez no nosso país em sátira social e politica (e já lá vão quase 150 anos...). A criação e caracterização do Zé Povinho, continua impagável (e actual...).

Penso muitas vezes que se ele estivesse entre nós, seria o nosso "Banksy", deixando a sua marca nas demasiadas paredes abandonadas do nosso país e muito provavelmente, algumas "orelhas a arder"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

Nota: Texto publicado inicialmente no "Largo da Memória".


domingo, agosto 18, 2024

"O meu querido 15 de Agosto..."


O feriado do 15 de Agosto, contínua - e continuará - associado a um Portugal que já não existe, onde não existiam supermercados, apenas mercearias e pequenos minimercados, e as feiras que se realizavam nas localidades, adquiriam uma importância primordial, tanto social como económica.

Na cidade da minha meninice a "Feira Anual do 15 de Agosto" realizava-se na Mata da Rainha (das Caldas). Aos meus olhos de criança, era um acontecimento memorável, que ocupava todo o espaço que rodeada o Campo da Mata, que pela sua dimensão e equilíbrio do terreno, era ocupado pelas principais diversões.

Parece que ainda oiço os vendedores de "banha da cobra" (que vendiam tudo menos este produto), à medida que ia andando de mão dada com a mãe ou o pai, para não me perder no meio da multidão...

É por isso que tiro o chapéu (que não uso) à Feira de São Mateus, de Viseu, que vai conseguindo resistir a todas as mudanças que se dão a nível planetário.

(Fotografia de Luís Eme - Viseu)

Nota: texto publicado inicialmente no "Largo da Memória", a 15 de Agosto.


terça-feira, agosto 13, 2024

Voltar em Julho, escrever em Agosto...


Vou cada vez menos vezes às Caldas.

E quando vou é para estar com a minha Mãe e com o meu Irmão.

Não consigo explicar o porquê, deste quase "esquecimento" da beleza da Cidade, onde vivi até ser grande (só não nasci, porque a "maternidade" da família ficava na casa da avó, em Salir de Matos, também elas desaparecidas, a avó e a casa...).

Reparo que raramente me cruzo com alguém conhecido (faço questão de dar sempre uma volta pelas ruas, pela Praça da Fruta e pelo Parque...). É como se eles também tivessem mudado de lugar, tivessem escolhido outra urbe para habitar.

E, como acontece de Norte a Sul, há demasiadas portas fechadas...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


terça-feira, abril 02, 2024

A Gente Boa de Abril e de Almada


Cresci numa cidade conservadora, que nunca se livrou (por vontade da maioria das pessoas que votavam...) do domínio da chamada direita democrática (PSD). Mesmo hoje é governada por um movimento independente, cujo presidente é um "dissidente" dos sociais democratas. Embora tenha sido uma "lufada de ar fresco" não se podem esperar rasgos demasiado revolucionários na sua governação.

Falo de Caldas da Rainha. A minha ligação à prática desportiva desde cedo fez com que passasse ao lado de muitas coisas. Mas aquela mania de querer "mostrar aos outros", o que se tinha e não tinha, sempre me fez confusão à cabeça. Sim, ter vontade de fazer uma casa com mais um divisão ou comprar um carro mais caro, que o familiar, vizinho ou até amigo (é uma maneira estranha de se ser amigo, mas acontece...), só para mostrar que tinha subido mais um degrau da tal "escadaria social", como se isso fosse a coisa mais importante do mundo.

Felizmente foi possível partir aos dezoito anos para a Cidade Grande, viver os meus primeiros tempos com um casal solidário e amigo, cuja formação superior não os desviou das preocupações sociais, de olhar os outros, nem de sentir que o País se começava a desviar de uma forma significativa do sonho de Abril...

O Zé e a Elisete foram muito importantes para uma ainda maior consciencialização política, e para o bom uso que se devia fazer da liberdade individual. Embora os meus pais fossem de esquerda (tal como eu perdiam as eleições todas nas Caldas...), não tinham a cultura social e política dos primos.

Mas a grande mudança deu-se quando eu tinha 24 anos e escolhi Almada como o meu porto de abrigo. Em pouco tempo, senti logo que pertencia aquela gente, pouco preconceituosa e sem manias de grandeza. Por ser governada pela CDU, a cidade tentava resistir (e conseguiu por alguns anos...) ao cavaquismo e ao mundo dos "novos-ricos", que essa figura tão bem caricaturada como "múmia", trouxe para o poder.

Apesar das muitas transformações do País, a gente de Almada que tive o prazer de conhecer, era a minha gente. As pessoas que trato orgulhosamente pela "Gente Boa de Abril".

Não as vou enumerar, até porque são bastantes as pessoas que me ajudaram a ser um melhor ser humano e cidadão. Gentes que valorizavam sobretudo os valores colectivos e que continuavam (e continuam...) a sonhar com o "País de Abril"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, março 16, 2024

Os 50 Anos do 16 de Março de 1974


Faz hoje 50 anos que uma boa parte dos militares do Regimento de Infantaria n.º 5, das Caldas da Rainha, iniciaram uma viagem na direcção de Lisboa, a caminho da Liberdade. Liberdade essa que só chegaria no mês seguinte, no dia 25...

Nunca se percebeu muito bem as razões de terem ido ao "engano". 

E passados 50 anos, continuam a circular por aí, pelo pelos duas ou três versões, contraditórias.

O que é facto é que as Caldas da Rainha acabaram por ficar na história, mesmo que tenha sido por um golpe que falhado...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, março 04, 2024

"Aleppo/ Estrela Vermelha"


Na semana passada passei pelas Caldas e a meio da tarde, passei perto do CCC e acabei por subir as escadas e entrar, para ver se havia por lá alguma exposição interessante.

Fiquei agradavelmente surpreendido pela exposição de José Maria Bustorff. Não sei se lhe chame apenas realista, ou se acrescento o "hiper". Sei sim que gostei bastante da temática e das cores usadas.


Cada vez me descubro mais conservador em termos artísticos. Gosto de rever o mundo onde vivo nas telas e não coisas que não compreendo...

(Fotografias de Luís Eme - Caldas da Rainha)