"Católicos e Política" representa muito mais que um livro, para mim.
Ele marca o meu primeiro contacto com um país onde existiam demasiadas coisas proíbidas, como um simples livro...
Os meus pais guardavam-no num armário alto, misturado com roupas e trapos (num tempo em que se guardavam os trapos velhos...). Só saía de lá, quando era emprestado a alguém de muita confiança.
Havia bastante secretismo e muito cuidado a volta deste livro, e até medo. Este medo estava mais relacionado com os outros (as autoridades e afins, onde se incluiam os bufos da PIDE), que com o seu conteúdo. Estou a falar apenas de uma colectânea de textos escritos por católicos progressistas (merecem realce algumas cartas enviadas a Salazar), editado e apresentado pelo padre José Felicidade Alves.
Transcrevo apenas o primeiro parágrafo da sua apresentação: «Mais dia menos dia terá de se fazer a história crítica destes últimos anos da vida política portuguesa; e não deixará de ter lugar de relevo a presença ou ausência dos católicos na vida política, assim como a posição negativa ou positiva dos hierarcas e das estruturas clericais no funcionamento do sistema.»
Não sei porquê, mas a vida e obra do Padre Felicidade Alves tem passado completamente despercebida no Concelho das Caldas da Rainha. Penso que não existe qualquer artéria com o seu nome, nem mesmo em Salir de Matos, de onde é natural (ao contrário do que acontece nos concelhos de Oeiras e Lisboa), embora seja, sem margem de dúvida, a pessoa mais importante nascida nesta Freguesia, ao longo do século vinte.
O autor, infelizmente já desaparecido, foi a primeira pessoa da minha família a estar ligada ao mundo dos livros. Eu sou o segundo...
Quando saí das Caldas para a grande Capital, fui viver com ele e com a Elisete, sua esposa. Ainda hoje recordo esses momentos, com grande ternura e companheirismo.
Prometo voltar a falar do padre Zé, um dia destes...