sábado, março 29, 2008

Ainda a Primavera...

Não sei explicar muito bem porquê, mas sempre me lembro de gostar de me deitar na vegetação dos campos largos, quase abandonados, quase a "milhares" de quilómetros da civilização.
O ritual é sempre o mesmo, tento ficar quase invisível, quieto e em silêncio, com o olhar preso ao céu e às nuvens que passam lentamente. Depois começo a absorver os sons e os cheiros naturais, sentindo toda aquela vida, povoada de pequenos animais que voam e circulam por ali e de inúmeras plantas, cada vez com mais nitidez...
Os grilos, as abelhas, as cigarras, os pardais e as andorinhas, são quem mais se faz ouvir, numa sinfonia única...
Os perfumes campestres misturam-se e enchem-me as narinas, com a mistura do rosmaninho, dos malmequeres e tantas outras plantes silvestres...
É tão bom sentir que o "tempo" nos campos é diferente do "primo" chato das cidades, que nos faz correr, de um lado para o outro, presos aos minutos e segundos, atrás do "nada".
Até parece que ele pára, por breves minutos...
A Paisagem é de António Ramalho...

quinta-feira, março 20, 2008

A Primavera

A Primavera sempre foi a estação do ano mais bonita e prometedora.
Os campos ficam mais verdes, floridos e musicados, com o chilrear dos pássaros de múltiplas cores e voos, que regressam sempre, de viagem.
O mar também fica mais azul, assim como o céu (muito mais estrelado à noite, longe da claridade das cidades)...
Os dias começam a crescer, como se o tempo nos oferecesse "tempo"...

O quadro, "Dar de Beber a Quem Tem Sede", é do caldense, José Malhoa...

quarta-feira, março 19, 2008

Uma Manhã de Domingo Diferente...

Às vezes ponho-me a pensar, nas coisas que herdei do meu pai. Nem tudo são "rosas", mas sei que a força de carácter, assim como a teimosia e alguma rebeldia em relação à sociedade, quase sempre demasiado castradora, vieram dele.
No entanto penso, que a coisa mais marcante que recebi dele foi o seu sentido de justiça e igualdade social. Foi bom sentir desde muito cedo, que somos todos iguais. Podemos ser ricos, pobres, brancos, pretos, grandes, pequenos, etc, mas temos (ou devíamos ter...) os mesmos direitos e deveres cívicos. Ele nunca quis ser mais que ninguém, mas também nunca quis ser menos...
Eu também sou assim.
Lembro-me muitas vezes de uma manhã de domingo, em que ele me levou à caça, rente ao nosso bairro, com a "flober" (uma arma de caça de cartuchos mais pequenos...). Graças a um pequeno incidente, percebi (sem perceber muito bem na época, devia ter seis, sete anos...) até onde chegava a "pseudo-importância" e a tentativa de intromissão na vida dos outros, de alguns sabujos...
Um sujeito resolveu implicar com o meu pai, armado em "polícia", ao ponto de chegar a ameaçá-lo, por o meu pai se recusar a identificar e a mostrar-lhe a licença de caça, já que este também não se identificou. O meu pai nunca baixou a cara, enfrentou-o sempre, olhos nos olhos. A partir de certa altura fiquei com medo, porque o outro tipo já falava em prisão...
As coisas acabaram por ficar por ali, porque o pai, disse-lhe que tinha mais que fazer que aturar "gente de merda" e virou-lhe as costas. O outro, furioso, continuou com as ameaças, que aquilo não ia ficar assim, etc.
Como o pai percebeu que eu estava assustado, animou-me, dizendo que aquilo não era nada, que quando crescesse ia descobrir que o mundo estava cheio de gajos que tinham a mania que eram "polícias". E para me fazer sentir importante, colocou a sua cartucheira cheio de pássaros à minha cintura, para que entrasse em "glória" no nosso bairro...
Quando se deu o 25 de Abril, soube de fonte segura, que o fulano que nos tinha importunado era informador da PIDE...
O meu pai já sabia disso naquele domingo de manhã, mas nem por isso, se mostrou assustado. Antes pelo contrário, deixou bem patente o asco que tinha a gente da sua laia...

Escolhi este desenho de José Malhoa ("O Emigrante"), porque reconheço nele, muito do que o meu pai foi, e eu também sou, sem qualquer tipo de complexos, um homem dos campos da liberdade. A cidade "asfixiante" é um acidente de percurso...

sábado, março 15, 2008

A Pocinha de Salir

A última vez que fui às Caldas, apeteceu-me visitar Salir do Porto.

O dia estava bonito e sem saber explicar muito bem porquê, resolvi ir ver se a "Pocinha de Salir" ainda existia...
Estou a falar de uma nascente de água doce (e "milagrosa" para muitos males, como manda a tradição...), que nasce colada com o Oceano, que nunca é muito violento na "concha" de São Martinho.
Andei umas centenas de metros entre a areia que ladeia o rio salir e as pedras já atlânticas e lá descobri o pequeno tanque, depois das ruínas de uma fortificação, que foi de muita gente (inclusive de piratas - estas lendas...). Já não visitava aquele lugar há uns bons trinta anos, pelo que, tudo me pareceu demasiado pequeno...
Bebi um pouco de água, para sentir se ainda conservava o gosto, que chamamos, doce.
Conservava. Felizmente continua sem sal, e porque não, milagrosa?...

quarta-feira, março 12, 2008

O Caldas Deixou de Ser Um Doce...

Se há coisa que me faz impressão, é a forma como as Caldas e os caldenses, estão a tratar o seu clube mais emblemático, o quase centenário Caldas Sport Clube.
Eu sei que o futebol já deixou, há bastante tempo, de ser a "missa" dos domingos à tarde. Foi desviado para quase todos os dias, em nome dos interesses da televisão privada de cabo e dos famosos manos "oliveirinhas"...
Também sei que o "saco azul" de Felgueiras, fez com que os autarcas, que faziam questão de ser os presidentes das mesas de assembleia geral (não é Costa?), batessem em demandada e cortassem com os "subsídios a fundo perdido", que lhes dava a ilusão da auto-suficiência...
Por causa disso andam nos distritais e desapareceram, ou mudaram de nome vários históricos do futebol português (Farense, Montijo, Salgueiros ou Académico de Viseu).
Não queria que o Caldas desaparecesse, mas parece que já ninguém quer ser presidente do clube. Ainda menos agora que é o lanterna vermelha da série C da II divisão B...
Nunca a velha expressão (ainda dos tempos da última época da primeira divisão...), «estás arrumado como o Caldas», fez tanto sentido.
Claro que os jogos deprimentes que nos são oferecidos (estou a pensar no Benfica...) e o facto de mais de metade dos profissionais da primeira divisão serem estrangeiros, não são bons sinais para o futuro do ainda famoso "desporto-rei"...
Gostava de acreditar, que é possível dar a volta a esta crise, mas parece que não existem vontades nas Caldas...

terça-feira, março 04, 2008

As Lojas de Aldeia

As lojas das aldeias eram bastante parecidas com as "grandes superfícies comerciais" de hoje, se esquecermos os espaços exiguos...

Vendiam um pouco de tudo, eram um misto de tabernas, mercearias, drogarias, retrosarias, papelarias, grémios agricolas, etc.
Muitas vezes até tinham objectos pendurados cá fora, para chamar a clientela, sedenta de novidades, transportadas da cidade, Até uma simples vassoura, diferente das artesanais, ou um chapéu de palha, para usar nas fazendas, cheiravam a novidade...

sábado, março 01, 2008

Março


Nunca percebi muito bem porquê, mas a avó, sempre chamou a Março o mês dos burros...