quinta-feira, janeiro 31, 2008

António Duarte e a Arte Caldense


António Duarte é uma das principais referências artísticas das Caldas da Rainha.

Em boa altura o Município Caldense decidiu criar o Centro de Artes das Caldas, que engloba o Atelier-Museu António Duarte, onde podemos encontrar alguns dos seus trabalhos escultóricos mais significativos, em bronze, pedra e gesso.

Se estivesse entre nós, António fazia hoje a bonita idade de 96 anos...

Se gostam de Arte, quando visitarem as Caldas, não percam a oportunidade de visitar o Centro de Artes, onde também estão instalados o Museu-Atelier João Fragoso e o Museu Barata-Feyo.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Segredo dos Famosos


Não fazia ideia que havia uma rúbrica com este nome na revista de domingo do "24 Horas".
Muito menos que um comentário da jornalista Vânia Custódio, na caixa das "Viagens" iria proporcionar a minha colaboração neste trabalho sobre o José Fragoso, actual director de programas da RTP.
Tudo começou com o "post" que escrevi aqui sobre a minha passagem pelas camadas jovens do Caldas Sport Clube, acompanhado de muito boa gente, como o José Mourinho e o José Fragoso...
A reportagem aí está (cliquem para ler...).
Gostei do trabalho da Vânia...

sábado, janeiro 26, 2008

O Jardim Interior

Um dos espaços onde costumávamos brincar na casa da avó, especialmente quando estava mau tempo, era uma espécie de jardim interior, que nos permitia estar em contacto com o sol, com a chuva e com as nuvens, protegidos por um telheiro...

Era um ponto de passagem quase obrigatório, pois convergia com um dos páteos, com a casa do tio João, com o palheiro do sotão e também com a chamada "casa velha", onde se guardavam velharias...
Debaixo do telheiro, encostada à parede, estava um arca enorme de madeira, onde se guardava o trigo, que se trocava por farinha, na moagem da aldeia. O seu tampo (na altura, enorme...) era quase sempre ocupado pelos nossos carros, onde inventávamos mil e uma brincadeiras...

A pintura surrealista que acompanha este texto (também ele, para o surrealista...) é do italiano Giorgio De Chirico...

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Os Colchões de Palha da Casa da Avó...


Sem saber explicar muito bem porquê, lembrei-me dos colchões de palha da casa da avó, presentes em todas as camas onde dormíamos...
Para os nossos filhos, é mais uma daquelas histórias, quase inverosímil. Colchões para eles, só os de molas...
Na minha infância a a sua existência era tão natural, que nem sequer os comparava com os da nossa casa, na cidade.
Quando chegávamos, no começo das férias grandes, a avó tinha acabado de mudar as folhas secas (penso que de milho...) e os colchões ficavam mais altos. Era uma delícia mergulhar naquela palha e fazer buracos, aqui e ali, com as marcas do nosso corpo...

Não faço ideia se ainda existem destes colchões, mas acredito que sim. Ainda se devem encontrar alguns exemplares nas aldeias mais afastadas do progresso e deste mundo que gira em volta das televisões...

Escolhi o óleo, "À Sombra", de José Malhoa, para ilustrar o texto.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

«Dá-lhe! Dá-lhe!...»

O meu filho quis ir ver um jogo de juvenis do Beira Mar, o clube mais próximo da nossa casa, para ver jogar o Miguel Arcanjo (que já foi nome de craque, nas Antas...), nosso vizinho, que quer ser craque a sério, com o apoio e o orgulho do pai, talvez com a esperança de ter uma velhice mais calma...

O campo sintético ainda não tem bancadas, pelo que assistimos ao jogo no "peão".
Quase ao nosso lado, o progenitor de um dos jovens, não parava de "incendiar" o jogo, com a frase: «Dá-lhe! Dá-lhe!...». Percebi quem era o rapazola, porque olhava de lado para o pai, envergonhado pela sua tentativa de se meter dentro da partida.
Esta expressão irritante, que me fez mudar de lugar, levou-me à infância, aos jogos de rua, em que raramente havia assistentes. Aliás o único assistente que me lembro de ver, era o protagonista da história que vou contar, pai do Sérgio, um rapaz fraquito e sem grande talento. O homem já devia sonhar, com a existência de craque lá em casa...
Quando este perdia a bola (era quase sempre...) lá estava o senhor, de bigode eriçado, empoleirado na varanda, a gritar: «Dá-lhe! Dá-lhe!...» E o Sérgio, sem saber o que fazer, já que era a bola que lhe fugia dos pés, a maior parte das vezes...
Nós olhávamos uns para os outros, com um sorriso malandreco, gozando o prato...
Claro que o senhor, nunca mais deixou de ser o «Dá-lhe! Dá-lhe!...», para a malta da rua...

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Os Carros de Madeira

Os carros de madeira, que os os tios, Zé e Arcelino, faziam para nos transportarem, a mim e ao meu irmão, ainda bem pequenotes, pelas ruas de Salir de Matos, são uma das primeiras boas recordações que tenho da minha Aldeia...
Recordei-os com um sorriso, quando olhei o óleo de Júlio Pomar, "O Carro na Calçada".
Às vezes acontece.
Uma simples fotografia ou um quadro, são o suficiente para nos levarem de viagem até ao passado...

quarta-feira, janeiro 09, 2008

As Guerras de Balneário...

A recente zanga entre Luisão e Katsouranis, fez-me recordar a diferença de ambientes que existe entre o futebol e as outras modalidades desportivas.
Quando joguei futebol nos iniciados e juvenis do Caldas, notei logo que existiam pequenos grupos, graças a algumas vedetinhas que já manifestavam o desejo de dividir para reinar. Além disso, nem todos éramos amigos, alguns de nós só nos encontravamos nos treinos e jogos, devido à projecção do clube, que ultrapassava a própria cidade...
Depois de ter andado uns tempos dividido, acabei por me decidir pelo atletismo, no Arneirense. Foi o melhor que fiz, porque no clube do meu bairro, éramos todos bons amigos. Havia uma relação muito forte entre treinador, dirigentes e atletas, funcionávamos quase como uma família.
Anos mais tarde, já como jornalista, contactei desportistas de todas as modalidades. Percebi que grande parte deles (alguns dos quais campeões do mundo e da europa) eram muito mais humildes que qualquer jogador de futebol da terceira divisão.
E eram terrivelmente injustiçados pela comunicação social, que só se lembrava deles quando eram campeões da europa, do mundo ou ganhavam uma medalha olímpica...
Hoje as coisas continuam iguais. No futebol, passa-se tudo ao contrário, qualquer miúdo que suba aos seniores do Benfica ou do Sporting, é logo colocado no Olimpo, mesmo sem ter provado nada. É sempre catalogado como o novo qualquer coisa. Muitos acabam por não aguentar a pressão, e adeus sonho bom, de craque da bola...
Voltando aos balneários, é raro o clube que consegue funcionar sem grupos e sem "guerras" entre as várias "tribos" do futebol que fazem parte do plantel. Muitos não se falam nem se cumprimentam e só passam a bola dentro de campo, se não existir outra alternativa. Chamam nomes uns aos outros no balneário, nos treinos, nos jogos, e por vezes, chegam mesmo a vias de facto, como todos nós sabemos.
Se neste Benfica actual, além da "tribo" portuguesa, existe ainda a brasileira (sempre numerosa e influente...), a argentina, a africana, a grega, a alemã e a paraguaia, torna-se extremamente difícil gerir estas culturas talentos e línguas, tão diversificadas, mesmo com um grande lider no comando da equipa...
Claro que o mal maior, está na própria cultura futebolística, que tanto idolatra como destroi, jogadores e treinadores, esquecendo que eles não são de barro nem de plástico, são pessoas, como nós...
Esta fotografia é dos anos cinquenta e mostra-nos Matateu a driblar um jogador do Caldas, no Campo da Mata, durante a passagem do clube pela primeira divisão.

domingo, janeiro 06, 2008

Luiz Pacheco no Oeste...

Luiz Pacheco escolheu a véspera do dia de Reis para partir, ele que sempre foi um desalinhado, preferindo sempre a "corte" dos marginalizados, à "cúria" dos hipócritas, que sempre vegetaram (e vegetam...) nos meios culturais deste curto país...
Luiz Pacheco passou pelas Caldas da Rainha nos anos sessenta. Não foi uma passagem invísivel, como muito bem nos conta João B. Serra, no seu livro de crónicas dos anos 50/60, "Continuação":
«[...] Chegou às Caldas, vindo de Setúbal, no final do ano de 1964. Hospedou-se no Hotel Lisbonense, enquanto procurava condições para instalar a família. Em Dezembro, quando editou o panfleto O Cachecol do Artista, indica já como morada a R. Rafael Bordado Pinheiro, 2 , r/c. [...] Dispunha de um curriculum apreciável quando aportou às Caldas, como editor, como tradutor e como observador crítico da vida literária e artística portuguesa. Os traços da sua personalidade intelectual estavam definidos: discernimento e ousadia raros como editor, irreverência contundente como comentador, independência e lucidez incómodas como crítico. [...]»

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Ano Novo, País Velho

Ontem cruzei-me com uma senhora açoreana, que já deve andar próximo das oitenta primaveras e que já não via há meses.
Pela dificuldade em andar, mesmo com o auxilio da bengala, percebi o motivo...
Recordei-me da existência de uma espécie de antecâmara da morte, que nos vai toldando os movimentos e manietando, a pouco e pouco, o dia a dia. Obriga-nos a reduzir as saídas de casa, até deixarmos de sair, quase definitivamente. Começamos a querer ficar até meio da manhã na cama até ficarmos por lá, quase o tempo todo, mais que preparados para que a "coisa negra" passe e nos leve...
Costumávamos frequentar o mesmo café. Lembro-me dela desde sempre, tinha uns gostos um pouco exóticos, na maneira de vestir, de se maquilhar e até de tomar o pequeno almoço, embora fosse sabiamente compreendida pelos senhores, Manuel e Inácio, empregados de mesa.
Só trocávamos bom dia e boa tarde, embora uma vez me surpreendesse, dizendo que tinha gostado de ler um dos meus livros...
Tal como ela, todos os anos desaparecem rostos familiares das mesas do "Repuxo". Este ano o número deve aumentar, com a demasiado saudável, proibição de fumar, nos cafés e restaurantes...

O desenho é de Jorge Barradas...