Ouvia-a, sem saber muito bem o que dizer.
Sei que não é das coisas mais bonitas revelarmos pena dos outros, mas naquele momento eu estava mesmo com pena dela, a escutar toda aquela dor que lhe saia da boca e se reflectia nos olhos.
Consegui recordar com saudade os almoços e jantares familiares que enchiam a casa dos avós, com filhos e netos. Éramos mais de vinte, nem sei como cabíamos todos à mesa... sei sim, havia sempre uma mesa "extra" para os mais pequenos...
Não eram aquela coisa feia, triste e chata que ela contava, com mais desconversas que conversas.Mesmo assim fez-me pensar que de vez enquanto também apareciam conflitos à mesa, mas eram sempre bem geridos pelos avós, pelo respeito que impunham nos filhos e netos.
Continuava sem saber bem o que dizer, foi por isso que deixei fugir qualquer coisa do género: «a família banalizou-se, quase que não se têm filhos, quando há cinquenta, sessenta anos, meia-dúzia era um número normal.»
Ela respondeu-me, «ainda bem», fingindo-se aliviada.
Recordei que enquanto os avós foram activos, a família era um Farol sempre aceso e eles os faroleiros-mor, sempre de serviço, para que nenhuma "barca" fosse levada pelo Oceano...
Tão longe deste tempo, de casas vazias, de gente que se finge feliz, sozinha...
O óleo é de Jean Marie Barre.