No principio do ano fui surpreendido por um telefonema, de alguém que conhecia desde a meninice, de Salir de Matos, a Lurdes do Jardim. Sim, ela para mim foi sempre a Lurdes do Jardim, uma das educadoras do Jardim de Infância da aldeia, que sempre foi um exemplo escolar para a primeira infância. Havia mesmo quem viesse das Caldas, deixar os filhos a Salir de Matos...Fui crescendo e comecei a visitar cada vez menos Salir de Matos. Sei que estive muitos anos sem ver a Lurdes. Por essa razão ainda fiquei mais surpreendido com o telefonema...
Ela contou-me que o Jardim de Infância fazia 40 anos em Outubro e como sabia que eu escrevia, queria que eu fizesse a história da instituição.
Fiquei surpreso e tentei fazer-lhe ver que estava demasiado afastado de Salir de Matos e da realidade da instituição, para escrever o que quer que fosse. Também argumentei que tinha dois livros para acabar durante o ano...
Nada a demoveu e acabámos por manter contacto por "e-mail". Fiz um pequeno inquérito para ser enviado às pessoas que estiveram de alguma forma ligadas à fundação da Instituição. Também acabámos por nos encontrar, numa das poucas vezes que visitei Salir de Matos, onde me contou o porquê de todo aquele interesse, tendo já bastante documentação e fotografias. Foi quando ela soube que eu vivia em Almada e não nas Caldas...
Entretanto como estava envolvido noutros projectos, não me preocupei muito com esta história.
Posteriormente a minha mãe disse-me que ela estava doente, vitima da doença mais traiçoeira e perigosa que nos persegue, o cancro...
Quando cheguei de férias soube que tinha falecido.
Provavelmente levou consigo o sonho do livro, no qual queria que ficasse registado a verdadeira história do Jardim de Infância de Salir de Matos...
A vida é mesmo assim, injusta, para a Lurdes, e para todos nós...