sábado, março 31, 2007

As Férias da Páscoa


Não me recordo de muitas histórias passadas em Salir de Matos, durante a pausa estudantil, que marca a passagem do segundo para o terceiro período escolar e que coincide com a comemoração da Páscoa e com os primeiros tempos da Primavera.

Claro que devíamos aproveitar o facto de nesta época os campos ficarem mais verdejantes e floridos, enquanto assistíamos ao regresso das andorinhas e de outras aves, que prometiam ficar até ao começo do Outono. Os ribeiros ainda tinham muita água e era sempre uma aventura saltar de um lado para o outro, mesmo que algumas vezes molhássemos os pés...

Em casa da avó havia as habituais restrições da carne, à sexta-feira, durante toda a Quaresma.
A única coisa realmente diferente, que recordo, era a decoração que se fazia no interior da casa, com alecrim e outras plantas, cheirosas e e bonitas, enquanto no chão e na entrada, se colocava rosmaninho, antecipando a visita do padre da paróquia, que transportava um Crucifixo grande e água benta, com a qual benzia a casa, num cerimonial extremamente silencioso.

Escolhi mais um óleo de José Malhoa, "A Caça", que ilustra muito bem os campos primaveris.

17 comentários:

Vladimir disse...

e muito bem escolhido...Como era sábado, o Vladimir inspirou-se e decidiu dar forma ao pensamento.

Maria disse...

Não tenho essas memórias do padre andar a benzer as casas - se calhar na cidade não era hábito...
Lembro-me sim dos folares, dos ovos pintados e escondidos no quintal da avó, e das cerimónias religiosas a que éramos "obrigados" a assistir até muito tarde na noite...
Já agora, em Óbidos costumava haver uma procissão e a cerimónia da paixão de Cristo, com descida da cruz etc., e era bonito de se ver...

Eva disse...

E falta aí o beijar os pés de cristo na cruz.
Na minha aldeia o padre andava de casa em casa com uma cruz enorme com uma imagem de cristo de marfim onde se devia dar um beijo nos pés.
Eu odeiava aquilo. E o domingo de páscoa transformava-se num inferno!
Como me recusava a dar o beijo (tinha um nojo de morte de meter a minha boca, no mesmo sítio onde todas as velhas e velhos da terra que cheiravam mal pela falta de banho já tinham metido a deles) a "festa" começava antes, com as habituais advetencias e as não menos habituais reclamações, que eram caladas pelo poder de uns valentes pares de estaladas.
No acto e à frente do padre, lá vinham mais uns ralhetes da mãe, do pai, da tia beata e ainda do padre e mais uns puxões de orelhas e um empurrão na nunca para dar um beijo finjido.
Aquilo acabava tudo mas o castigo continuava: não poder sair de dentro de casa nesse dia, ainda por cima com uma roupa acabadinha de estrear.
Ainda hoje o ritual me dá urticárias.
Nem o cheiro do alecrim lhe vale...

Ana M. disse...

O "Compasso" era mais a norte e as minhas férias da Páscoa passavam-se entre Lisboa e Ericeira.
Só muito mais tarde assisti a todo esse cerimonial, bem bonito.
Tirando o beijinho nos pés do Cristo...

Maria P. disse...

Ainda me lembro do cheiro a rosmaninho em casa da minha avó Rosa...
Malhoa, excelente escolha!

Um abraço*

Luis Eme disse...

Que a inspiração te acompanhe, sempre, Vladimir.

Luis Eme disse...

há sempre pormenores que nos escapam... por desconhecimento ou esquecimento, Zé Francisco.

Acho que sim, havia grandes limpezas lá por casa, antes da decoração campestre...

Luis Eme disse...

Só me lembro da visita à casa da avó... mas acho que conseguia ficar pelo jardim, à espera que chegasse (devia ser da praxe chegar atrasado....) a vê-lo chegar e depois escapava para o pátio.

Luis Eme disse...

Não me lembro de beijar o Cristo do crucifixo, Eva. Ou era um acto voluntário, ou só pare gente grande. Acho que escapava a esse cerimonial (provavelmente ia ver se o pátio estava no mesmo sitio...) porque aquilo era tudo muito "missa".

Luis Eme disse...

Nunca achei o cerimonial bonito, Sininho.

Era demasiado cerimonioso para o meu gosto. Gostava era de pisar o rosmaninho...

Luis Eme disse...

Acho que o melhor da quadra eram os cheiros que ficavam na casa e na rua, tão primaveris, Maria.

Flôr disse...

Fui educada e criada no meio de todo o cerimonial da festa da Páscoa.
Lembro-me do meu pai tirar um envelope dobrado do bolso e, muito disfarçadamente, o entregar ao padre, quando lhe apertava a mão, na despedida... Era nesse dia que se vestia roupa nova e se andava de casa em casa a receber as boas-festas.
Para a malta nova era uma festa.
Apesar de tudo, ainda sinto saudades daqueles tempos de convívio e do cheiro a alecrim e rosmaninho.
Beijinho

Luis Eme disse...

Não me lembro desses pormenores todos que contas, Ana.

No entanto calculo que na aldeia dos meus avós, no lugar do envelope, funcionasse mais a oferta do galo mais garboso da capoeira, para o senhor padre da freguesia.

Também sinto saudades, porque esta e todas as datas festivas eram motivo de reunião familiar na casa dos avós... e claro, dos cheiros a campo e a Primavera.

Ida disse...

Eu aqui, fiquei com o melhor da vossa festa. Como não há compasso, só ouvia o meu pai contar, o q nos restou era a missa solene (uma seca qdo se tem entre 12 e 18) e o almoço e muito pão de ló, cavaquinhas e vinho do Porto, essa é, pra mim, a melhor parte. E pq muitas vezes coincide com o meu aniversário, a Páscoa é a melhor época do ano, a melhor festa. E tb pq sou um produto cultural, guardo essa idéia de renascimento, de fênix ressurgindo das cinzas que aprendi nos livros que contam histórias da Europa, sobretudo da pré-românica... se pensares bem, mts detalhes do ritual têm a ver com isso, com o renascimento dos campos e da vida em geral.

Obrigada pelas flores! beijinhos e ótima ressurreição pra ti! Haja cheirinho de alecrim!!

PS: Assisti a um ritual de COmpasso já bem mais tarde, adulta, em Vila Meã, mas dar beijo onde tds ja tinham dado, lamento... nao dá não.

Luis Eme disse...

Pois tem, Ida, não foi por acaso que escolheram a Primavera para estes festejos.

A Primavera além de abrir e florir os campos, também nos transmite uma série de coisas boas, que nem sempre apreendemos...

Anónimo disse...

B Tarde Luis
Espero tivesses passado esta epoca pascal em alegria, com muitas amendoas doces ;)))
Beijinho*

Luis Eme disse...

Foi sobretudo diferente Cor do Mar... com algumas amendoas à mistura, claro.