As pessoas do campo sempre foram demasiado simples - embora hoje se tenha perdido muita dessa simplicidade, por se ter quase abandonado o trabalho dos campos e pelo ambiente de globalização que se vive, primeiro com a televisão e depois com as novas tecnologias..., - e até ingénuas. É por isso que ainda existem alguns indivíduos de meia idade a caírem em alguns "contos do vigário", principalmente em feiras e romarias...
Pensava que já não se usava a técnica da carteira recheada de notas, prontamente substituída por uma cheia de pedaços de jornal... mas ainda se usa, e o mais grave, é que ainda há quem caia...
Foi o que aconteceu ao Tio Alfredo, há um ano e poucos dias, durante a Feira de 15 de Agosto das Caldas. Estou a falar de um daqueles aldeões que ainda gosta de "carregar" a carteira em dias de festa...
Estava numa barraca de comes e bebes a beber uma cerveja com uns amigos - parece que até à velha guarda já perdeu o hábito de beber vinho, cheio... -, que fez questão de pagar, exibindo o mostruário de notas de vinte e de cinquenta euros a quem quisesse olhar.
Os "contistas" deviam estar à espera de alguém, com os atributos do Tio Alfredo para lançarem a carteira para o chão, para ver o que dava...
E deu. O aldeão fiou-se no marmanjo que, desta vez nem sequer falou em dividir o dinheiro, mas sim em o entregar ao dono - vejam lá que a carteira até tinha cartões, a verdadeira claro -, e foi à procura de um local para anunciar que se tinha encontrado uma carteira. Como fiel depositário da carteira, o Tio Alfredo foi na cantada do vigarista e deu-lhe 150 euros, dos quase duzentos que tinha na carteira, não fosse fugir com os mais de quinhentos que enchiam a dita cuja. É que o outro sujeito, rematou-lhe, que nestes tempos não se pode confiar em ninguém. E estava bem certo...
Passaram-se dez minutos, um quarto de hora e o homem começou a achar grande a demora. Por curiosidade resolveu abrir de novo a carteira que lhe tinha sido confiada e que o "artista" tinha colocado num pequeno saco de plástico, para não dar muito nas vistas. Tal não foi o seu espanto quando descobriu o tradicional um molho de pedaços de jornal, dentro da carteira...
O mais curioso é que o Tio Alfredo era uma daquelas pessoas que estava farta de ouvir falar do "conto do vigário" e dizia sempre que nessa não caía...
Embora possa parecer ficção, isto aconteceu mesmo, em 2006. Claro que o sujeito em causa não se chama Alfredo, nem é meu tio, mas mora na freguesia de Salir de Matos. Escolhi "Os Jogadores" de Paul Cézanne, para ilustrar este texto, porque a vida é sempre um jogo...