Gostava tanto daquele banco azul, de madeira, onde se costumavam sentar as visitas da avó, quando lhe vinham contar alguma novidade ou simplesmente receber a sua companhia, como era o caso da prima Beatriz.
A vizinha de frente da avó, assim que pressentia que havia alguém em casa, aparecia quase de rompante, desejosa de meter a conversa em dia. A criatura chamava-se Manelina e acho que foi graças a ela que aprendi a detestar as pessoas que passavam o tempo a falar mal da vida dos outros.
A Beatriz era a única pessoa que me lembro de ir lá a casa e nunca dizer mal de ninguém, nem mesmo da besta do marido. Mulher sofrida, sem filhos e com um homem que não a respeitava, levantava-se sempre que a Manelina trazia para a mesa as tricas da vizinhança, e ia embora, sem se esquecer de lhe deixar um recado: «a minha vida já me dá tantos trabalhos, que dispenso as misérias alheias.»
A Manelina engolia em seco e remetia-se ao silêncio. Só quando já a via longe e que voltava à carga, tentando pintar-lhe a manta. A avó interrompia-a e dizia que não conhecia ninguém como a prima Beatriz, que embora não passasse o tempo todo enfiada na igreja, era uma santa comparada com as beatas da aldeia.
A Manelina acusava o toque e ia-se embora, desabafando que já não se podia abrir a boca... Era nestas alturas que o banco azul voltava a ser todo meu, onde podia brincar com os meus carrinhos e inventar estradas e casas com pedaços de madeira, onde costumava desenhar portas e janelas...
O óleo é de Collin Frazer.
12 comentários:
Há sempre um banco, uma pedra ou pedregulho, um degrau, um cantinho na casa ou no quintal que fazem parte das reminiscências da nossa infância. Invariavelmente... na casa dos nossos avós!
Gostei da Beatriz, da avó, do banco e do quadro :)
em casa da minha avó havia 2 cadeiras junto à janela, onde ela se sentava a ver a praça e noutra a minha tia e/ou alguém que fosse "fazer uma visita"
falavam sempre demais!...
coisas de "caldas"
beijinhos
Pois era, dantes a maior parte dos sofás eram bancos de madeira.
Os sofás eram um luxo, permitido a poucas famílias, tal como os carros.
Ainda há quem diga mal da democracia...
sim, há sempre memórias à nossa espera, Catarina...
eu também gostava muito da Beatriz, Gábi.
as mulheres juntas no chá das cinco, é um delirio, Gaivota...
é verdade, os sofás eram um luxo, Rute...
O que não pensará o meu amigo do Vasco Pulido Valente...
algo do contra, certamente, Manuel...
Diria ela, se pudesse: "eu não sou Manelina, sou Manuelina!" E do que recordo não era muito mais recente que os monumentos da época de D. Manuel! Era minha tia-avó a senhora, mas nunca conseguiu cativar nenhuma criança da família. E ralhava com a irmã (a tia Angelina) porque nos ensinava a fazer os tapetes de trapos e assim estragava-lhe o negócio. Uma verdadeira peste!!!
1 abraço, Luís.
Rafaela
olá, Rafaela.
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