Houve muita coisa que ficou, do bom tempo que passámos na casa dos avós, nas em Salir de Matos, especialmente nas férias grandes.
E não falo da presença, desde sempre, dos animais (uma autêntica "quinta pedagógica"..). Além dos dois bois, da burra, que eram animais de trabalho, havia os outros que faziam parte do que se poderá chamar, ciclo alimentar: as galinhas, os porcos, o perú - para o ano novo -, e por vezes também cabritos e patos. Animais mais exóticos, a única coisa que me lembro era de porquinhos da Índia, que também andavam à solta e quase não se deixavam ver...
Se o avô nos contava histórias, que tanto nos podiam encantar como assustar, a avó tenho um sentido muito mais prático da vida. Por exemplo, em relação ao pão, gostava de nos oferecer a imagem de algo sagrado, como parte do corpo de Cristo, e que o devíamos beijar quando caía no chão, dando o exemplo de que havia muita gente no mundo que queria um bocadinho de pão e não o tinha...
Se a parte sagrada se perdeu no tempo, a factual mantém-se. Hoje, tal como ontem, continua a haver muita fome no mundo, muita gente a querer um bocado de pão, mesmo duro, e a não o ter. E foi essa parte que nunca esqueci...
Lembrei-me disso porque fiz ao pequeno-almoço, algo que não fazia há anos: "sopas de café com leite" (pão partido em bocados, embebido no leite e no café). E sempre que deito fora pão duro, penso nos animais da "quinta pedagógica" dos avós, que faziam com que nenhum resto de comida fosse deitado fora... E claro, nas muitas pessoas que querem um bocado de pão e não o têm.
Nota: texto publicado inicialmente no "Largo da Memória", com outro título...
Nota: texto publicado inicialmente no "Largo da Memória", com outro título...
(Fotografia de Luís Eme - Salir de Matos)
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